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A Praia
No dourado do sol salgado, vejo o mar ondulado
Em cada onda vai o vento penteado
As gaivotas andam de lado em lado
Incomodadas pela invasão do seu chão sagrado
Quando os banhistas ocupam cada quadrado
O areal em pouco tempo ficou todo ocupado
Não há grão de areia destapado
As toalhas compõem o atoalhado
Namorados bebem o sol molhado
Como quem quer fugir a ser espiado
A areia tem um aspeto asseado
Já ninguém deixa lixo, na areia, enterrado
Todos têm cinzeiros para colocarem o cigarro, apagado
Como é bom termos um mundo educado!
Onde ninguém é mal tratado
Já todos sabem, das bandeiras, o significado
Até o nadador salvador é escutado e respeitado!
Com o mar devemos ter todo o cuidado
Ninguém pode, com ele, estar descansado
De um momento para o outro pode mostrar-se revoltado
Talvez não goste do que lhe fazem, fica zangado
Já me pregou um grande susto, ao ponto de pensar que ficava lá sepultado
Fui, por ele, com muita força, para o fundo, arrastado
Depois, expulsou-me com tanta violência, que fiquei magoado
Nunca mais me esqueci do recado
Nunca larguei o meu filho que, quando lhe deitei a mão ficou, nos meus braços, bem apertado
Tivemos a sorte do nosso lado!
Para podermos contar o que se tinha passado.
José Silva Costa
Os céus!
Os céus estão revoltosos, de cor de fogo
Este inverno parece um inferno
Os elementos revoltaram-se contra os tristes eventos
Não há rosas, nem suaves momentos
Só tempestades e ventos!
Não há brilho, nem sol que nos aqueça
Que despedida mais avessa!
De quem passou, quase todo o tempo, com uma promessa
De que seria um inverno vestido de Primavera
Mas, o homem rasgou a razão e avançou com o canhão
E, os tempos não ficaram indiferentes
Foram ao mal buscar as sementes
Para castigarem todas as gentes
Que colaboraram com mentes doentes
A esperança é que chegue depressa a Primavera
Que traga perfume e amor, e leve a guerra
Que os céus voltem a brilhar, sem poeiras, nem bombas
E se encham de pombas brancas
Que vença a paz!
Já que o homem não é capaz
De olhar para o outro como irmão
Tanto ódio, tanta violência, tanta destruição
Em vez de um abraço e um aperto de mão!
José Silva Costa
As mazelas da guerra
Continuação
A queda do último helicóptero
Todos os azares vinham ter connosco
O último helicóptero, daquela série, avariou
Ficou sem leme, tendo o piloto conseguido imobilizá-lo num morro
Felizmente, não houve feridos: oficiais e piloto saíram ilesos
Para guardar o helicóptero, fomos mobilizados
A seguir ao almoço, um pelotão foi guardá-lo
Ao fim do dia pediram-nos, pelo rádio, para lhes levarmos água
A minha secção foi mobilizada para, ao nascer do sol, sairmos com os garrafões de água que conseguíssemos carregar
Quando chegámos, andavam a lamber o capim
Também tinham utilizado os componentes acrílicos do helicóptero, para durante a noite, captarem alguma água
Ninguém sabia como o tirar dali
O Alferes responsável pela proteção estava preocupado, com aquela operação, e com razão
Do Batalhão só lhe diziam que estavam a estudar o problema
Respondeu-lhes com um ultimato, se não encontrassem uma solução, dentro de um prazo de que não me lembro, o helicóptero seria desmantelado de maneira a ser levado, pelos trabalhadores da fazenda, para as viaturas, que o levariam para o Batalhão
Como não recebeu nenhuma resposta, mobilizou homens e ferramentas para a destruição, do mesmo
Mas, não conseguiram dividir o motor, que era muito pesado
Ordenou que arranjassem paus, para colocarem debaixo de cada bocado, para ver se o conseguiam levantar
Tudo testado, o mais difícil foi gerir aquela operação, pelo morro abaixo, em que alguns não queriam fazer força ou já não aguentavam mais
Estava ultrapassado mais um pesadelo
O Natal estava a chegar, seria a noite mais longa do ano.
Continua
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