Voltar ao topo | Alojamento: Blogs do SAPO
Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Almofadas
Os Bancos, à conta da subida dos juros, têm tido muitos lucros, enquanto os clientes, principalmente, os que estão a pagar o crédito à habitação, não param de fazer contas à vida
Ao contrário do que aconteceu com Vítor Escária, chefe do gabinete de António Costa, que não sabia o que fazer a 85.500 euros, tendo optado por utilizar as notas do Banco de Portugal, para decorar o gabinete, metendo-as em livros, em envelopes, em caixas de vinho, mostrando que as decorações futuristas, podem substituir os quadros, as fotografias dos filhos, da mulher e outros objetos, por obras de arte mais populares, como são as notas de euros
Os acionistas já esfregam as mãos de contentes, por poderem atafulhar os bolsos, sem nada fazerem, vivendo dos chorudos dividendos
Há sempre quem seja desmancha-prazeres, como é o caso do Governador do Banco de Portugal, que lhes veio lembrar, para fazerem provisões, criando almofadas, para fazerem face aos tempos difíceis, que aí veem, provocando crédito mal parado, em vez de entregarem os lucros aos acionistas
Mas os banqueiros não estão de acordo, dizendo que os bons resultados dão para tudo, sabendo, mesmo que o não digam, que a melhor almofada, para os prejuízos das grandes empresas, são os impostos dos contribuintes, como se viu na crise de 2008, em que tivemos de capitalizar os bancos, assumindo todos os desmandos dos banqueiros
Não sou contra a capitalização de empresas, em que se justifique, como seja o interesse do país e dos trabalhadores, como aconteceu com a TAP e a EFACEC
Os administradores devem ser punidos, caso se comprove que a falência foi devida à má gestão.
José Silva Costa
Mazelas da guerra
Vinho feito a martelo
Continuação
Como de vez em quando íamos a General Machado, aproveitávamos para saborear o prato preferido e esquecer o rancho e as rações de combate
Um belo dia, estávamos sentados num restaurante, a saborearmos os pregos, quando demos conta, na mesa ao lado, dois senhores revelavam como fazer vinho a martelo, cuja receita era: água, álcool, barro e palha
O barro para dar a cor e a palha o sabor, e temos um vinho que é um amor
De outra das vezes que fomos a General Machado, acompanhou-nos um Sargento, que fez uma paragem numa oficina auto, para pagar um bidon de 200 litros de lubrificante
De seguida mandou-nos subir para a viatura, e eu disse-lhe que faltava carregar o bidon, ao que me respondeu: “não é para carregar agora”
Algum tempo depois, fui à secretaria, tratar já não sei de quê, e o Sargento disse para um Soldado: ” o Furriel Costa, é que podia ajudar aqui na Secretaria”, ao que lhe respondi, que a minha esferográfica era a G3
Quando fui marcar as férias de 1971, ele disse-me: “sabe, acabamos a comissão em agosto, nem todos podemos gozar os 30 dias, só pode gozar 10 dias”
Aproveitei para ir conhecer o Lobito e Benguela. Fui de boleia, de um camionista, de Nova Lisboa ao Lobito, dois mil quilómetros a descer, quase só falámos da situação em Angola, ambos estávamos de acordo que tinha de se encontrar uma maneira de acabar com a guerra
Passámos por uma plantação de cana-de-açúcar, a perder de vista, da Companhia Agrícola do Cassequel, e uma outra de sisal
No Lobito, fiquei alojado na FNAT- Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho, era o hotel mais barato
Fiz amizade com dois civis, foram umas férias agradáveis
A temperatura da água do mar devia rondar os 30 graus, ficávamos 3 ou 4 horas dentro de água
Tínhamos o cinema Flamingo, onde todos os dias íamos ao cinema, no salão de entrada estavam em exposição automóveis Japoneses. Junto existia uma colónia de flamingos
O calor era quase insuportável, não conseguíamos dormir, tomávamos banho antes de nos deitarmos, não nos enxugávamos, mas mesmo assim não conseguíamos adormecer
Um dia resolvemos ir dormir para a praia, levámos os lençóis, dormimos como pedras, foi uma experiência maravilhosa
Dedicámos um dia para irmos conhecer Benguela, que não fica muito longe do Lobito
O Lobito tem um porto de águas profundas, um dos melhores de África
No regresso utilizei o Caminho de Ferro de Benguela, construído entre 1903 e 1929, com uma extensão de 1.345 km, atravessa Angola de Este a Oeste
Foram umas 12,13 horas, para vencer a distância entre o Lobito e General Machado. Não sei quantas carruagens puxadas por uma máquina a vapor, em todas as estações carregavam lenha, para alimentar a caldeira
No início utilizaram a floresta autóctone, mais tarde tiveram de fazer plantações de eucaliptos, junto de cada estação.
Enquanto estivemos no Umpulo, fizemos diversas operações, numa delas fomos transportados de helicóptero, nos pumas, não podíamos levar mais de 20Kg de equipamento
Optei por não levar mantas, levei só dois panos de tenda, bem me arrependi
Só conseguia dormir até à meia-noite, enquanto a terra estava quente, depois tinha de me levantar e fazer exercícios pra aquecer
Outros cortaram nos mantimentos, enquanto eu levei um saco de plástico com pão
No último dia da operação, de manhã, quando estávamos a tomar o pequeno-almoço, o Capitão, que já não tinha quase nada para comer, viu o saco com umas migalhas de pão, pediu-mas para fazer umas sopas
Quando os dois helicópteros abordaram o acampamento que íamos atacar, saltámos de uns dois metros de altura, o carregador, da minha G3, saltou da arma, o que prova que o equipamento estava velho e cheio de folgas, valeu-nos o inimigo já se ter ido embora, tinham queimado tudo, ainda havia algum fumo
Era difícil manter as operações em segredo, para mais tínhamos uma povoação por perto
Uma meia-dúzia de miúdos, começou por pedir os restos para comerem, mas com o tempo foram ficando todo o dia no acampamento, lavavam os pratos aos soldados, quem é que não gosta de criados!
Depois, um condutor passou a levá-los, todas as noites, à povoação
Passado algum tempo, a viatura acionou uma mina, e um dos miúdos ficou com os dedos, de uma mão, cortados
Foram feitas algumas prisões, gerou-se um mal-estar, um Furriel, para chamar à atenção, encostou a G3 à face e disparou para o ar, ajudando a desanuviar o ambiente
Nunca mais acionamos nenhuma mina!
As minas são das coisas piores que inventaram. Há muito que falam em proibi-las, mas parece-me que nunca chegarão a acordo
De vez em quando, infelizmente, aparecia alguém com um pé desfeito ou a pedirem-nos para desativarmos minas antipessoal, que tinham detetado
Constituídas por 200 gramas de trotil, um detonador e uma caixa de madeira têm causado tantos mutilados
Angola foi muito martirizada com a “sementeira” de minas antipessoal, ao ponto da Princesa Diana se interessar pelo drama dos mutilados, fomentando e patrocinando o fabrico de próteses, causa, que um dos seus filhos tem continuado a apoiar
Nós, felizmente, nunca acionamos nenhuma mina antipessoal, porque desde a instrução, que todos estávamos bem avisados para nunca utilizarmos trilhos, por muito trabalho que dessem a abrir: cortar a vegetação, com uma catana, para podermos caminhar, era preferível que perder um pé, nem nunca utilizámos os nossos trilhos mais do que uma vez
Os meus camaradas de curso, que tiveram as notas mais baixas, foram os escolhidos para tirarem um curso de minas e armadilhas, em Tancos.
Continua
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.