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A chuva
O verão já ia longo
Não queria dar lugar ao outono
O vento acordou do sono
Trouxe a chuva ao ombro
Que há muito tinha adormecido
Que não deu por estar atrasada
Costumava chegar pelo quinze de agosto
Este ano chegou um mês atrasada
Depois, ainda, tirou mais um mês de férias
Espero que não queira, agora, chover tudo de uma vez
Ainda temos mais meio mês de outubro
E meses sem fim, que gostam de ser lavados
Mas com água suave, para os massajar
Sem pressas, nem vagares, na medida certa
Para que a possamos apreciar, guardar, admirar
Sem ela não há vida, mas também tem tirado muitas vidas
Temos de atribuir à água mais valor
Não podemos continuar a desperdiça-la como se não valesse nada
Se lhe atribuirmos o valor do ouro
Será mais difícil estragá-la
Talvez, até faça com que passemos a poupá-la
Cai do céu, mas nem sempre
E, nós todos os dias a utilizamos
Sem ela não há vida!
José Silva Costa
O valor da vida
Nascer, numa terra pobre
Sempre em guerra civil
Confrontos entre religiões
Todos os dias confusões
Disputas por botões de marfim ou cetim
A incerteza das expectativas
A fome, o choro dos filhos a pedirem pão
A tristeza de ver a morte, todos os dias
Fez com que procurássemos onde fosse possível viver
Tantos quilómetros para percorrer
Um mar largo e fundo
Uma traineira sem lotação
Transformada num enorme caixão
Mulheres e crianças fechadas no porão
Os que nos podiam dar a mão
Deram-nos um empurrão
Choraram lágrimas de crocodilo
Decretaram dias de luto
Como se isso ressuscitasse mais de meio milhar de vidas
Há vidas que não têm valor nenhum
Enquanto outras têm o valor da vida
Ninguém se indignou
Fosse outra, ainda que só uma, a vida perdida
Toda a Europa, ou todo o mundo, se teria indignado
É tão triste nascer no sítio errado!
Por todos ser escorraçado
Não esperávamos que fossemos desejados
Mas que, ao menos, fossemos tolerados
Só queríamos viver!
Dar aos nossos filhos: pão, paz, educação, habitação
Mas, quis a má sorte que encontrássemos a morte
E o fundo do mar, como caixão
José Silva Costa
Liberdade!
Naquela radiosa e inesquecível madrugada o mundo floriu
Os portugueses, finalmente, conquistaram a Liberdade e o seu império caiu
O Movimento das Forças Armadas pôs fim a uma guerra de 13 anos
E, a uma ditadura de quase meio-século, que tanto os povos molestou
Que custaram muitas vidas, muitos estropiados, muita miséria e dor a todos os povos envolvidos
Foi uma Revolução recebida com muita alegria e muito festejada em todo o lado
E não era caso para menos, foi um farol para a Liberdade e, para alguns povos, um passo para a dignidade
Um acontecimento à escala mundial, cuja bandeira é um cravo vermelho
Uma Senhora, vendedeira de flores, teve a feliz inspiração de colocar um cravo vermelho no tapa-chamas de uma G3, que um soldado empunhava
Pode dizer-se que foi como que um pedido para que não utilizassem as armas
E tinha tanta razão, já tínhamos utilizado as armas durante tempo demasiado!
Todos os minutos que consigamos viver, com armas caladas, são minutos de grandes vitórias
Os que precisam da força das armas para atacarem os outros, sãos os que não têm a força da razão
Não foi assim tão fácil, depois dos cravos e das rosas vieram os espinhos!
Foi um parto difícil, ao longo de mais de um ano, mas deu ao Mundo meia dúzia de novos países
Que, depois de cinco séculos de colonização conseguiram a libertação
Nunca mais assistiremos a um primeiro de Maio como o de 1974
Uma festa para todos, ainda não tinha chegado sectarismo dos Partidos
As ruas e as praças de Lisboa foram pequenas, para acolherem tanta gente
Havia uma alegria radiante estampada nas rugas da martirizada gente
Não deixem que este dia caia no esquecimento, porque isso seria uma grande injustiça para quem deu a vida para que tenhamos Liberdade
Muitas e muitos pagaram com a vida, por terem desafiado o ditador, que tinha como braço armado a PIDE, capaz de toda a violência e de todo o terror.
José Silva Costa
Dia Internacional da Mulher (2021)
Mulheres, flores, amores, delicados perfumes
Mães, amores, flores, delicados furores
Companheiras, canseiras, delicadas amantes
Parceiras fora e dentro de casa
São flores
São amores
São tudo!
São ar
São fogo
São perfume
São raio de luz!
São mulheres
São mães
São futuro
São tudo!
São quem gera a vida
São quem dá colo
São quem muda a era
São braços em esfera
São lábios à espera de alguém
São tudo o que mais ninguém é!
São o sonho invisível da luz
São o pão, o sal e a cruz
São tudo o que, na Terra, reluz.
José Siva Costa
Terra Materna
No amanhecer de um dia
Quando sol ainda dormia
Tanta gente morria
Por tanta tirania
Que a ambição incendeia
A guerra é a face feia
Que nos rouba o Sol
Que nos rouba a vida
Que nos faz migrar
Quem pode não gritar!
Quando, aos filhos, não sabemos explicar
Por que razão a nossa terra temos de abandonar
Fugir sem saber para onde
Porque ninguém nos quer
A não ser para moeda de troca
Põem-nos em campos de concentração
À espera da ocasião
De nos atirarem contra outra nação
Que não aceite a reivindicação
Homens, mulheres e crianças são armas de arremesso
Dos senhores que se julgam donos dos Povos
Os ditadores de que muitos gostam!
Porque lhes prometem tudo, sem faltar o orgulho
Como se isso fosse possível!
Foi e será, sempre, assim que os ditadores conquistam o voto
Para difundirem o ódio e lhes estimular o orgulho
E, de seguida implantam uma ditadura.
José Silva Costa
Frio!
No vazio do frio
A lua sorriu
Unimos os nossos corpos
Galgamos os sótãos
Acasalámos os sonhos
Aquecemos o futuro
Na ilusão de uma lareira
Sentados numa cadeira
Dormimos a noite inteira
Como se estivéssemos nas asas do vento
Tudo tão calmo, reconfortante, suave
Os nossos corpos estavam leves como penas
Rodopiamos no espaço como se fossemos pássaros
Foi um sonho, só podia ser!
Para acordarmos ao entardecer
Antes da noite cair
Abraçados, sempre a sorrir
Como se séculos tivessem passado
Beijamo-nos, e o encanto ficou acordado.
José Silva Costa
A quem morreu por sonhar
A vida, pelo sonho
O sonho comanda a vida
Sonham com a liberdade
Respirar em liberdade
Trabalhar em liberdade
Escolher em liberdade
Viver em liberdade
Dormir em liberdade
Estudar em liberdade
Fugir da arbitrariedade
Ter personalidade
Fugir da pena de morte
Fugir da prisão perpétua
Deixar de ser, só, mais um
Poder sonhar voar
Poder decidir
Poder ir à lua
Poder dormir, livremente, na rua
Para tudo isto fazer
Só uma coisa pode acontecer
Fugir!
E, há sempre, alguém que queira ajudar
Que nos proponha, num camião, viajar
A melhor maneira de, num país livre, entrar
Quando não temos autorização, para lá estar
Mas, esqueceram-se de, o frigorífico, desligar
Todos os sonhos ficaram por realizar
Quantos sonhos acabaram por matar!
Mas, os sonhos nunca vão acabar.
José Silva Costa
Mulher
À Natureza, foste buscar a beleza
És uma flor delicada e perfumada, mas tesa
Capaz de comandar o Mundo
Com a tua inteligência, humanidade e certeza
De que só quem tem a missão de embalar o Mundo
Pode compreender a energia de uma vida
No choro e no riso da criança parida
Quando fores mais compreendida!
Então, o Mundo terá uma nova vida
Uma ambição de amor e paz
Dentro de ti, trazes, escondida
Porque tu dás à luz a vida
A dádiva, mais valorosa, conhecida
Tu tens de ser admirada toda a vida
Tu tens sido, ao longo dos séculos, muito ofendida
Mesmo assim, tens sempre a mão estendida
Para ajudar, acarinhar, salvar uma vida
É contigo que tudo aprendemos
E quando ao fim de poucos meses
De coração desfeito em lágrimas
A outros nos, tens de entregar
Por força dos compromissos
São quase sempre, mulheres que nos continuam a embalar
Desde o momento, que dás à luz, uma vida
Nunca mais vais deixar de te preocupar com ela
Mãe, nunca esquecerei quanto sofreste, para me dares a vida!
José Silva Costa
r
Jo Cox
Primeiro a vida!
A única coisa que temos
Todos nascemos livres e iguais
Sem muros nem quintais
Todos somos animais
Nem todos racionais
Senão, não nos sentiríamos desiguais!
Só alguns conseguem compreender que somos todos iguais!
Ao longo dos séculos, grande tem sido a luta
Para que os que se julgam superiores
Admitam que somos todos inferiores
Senão, não haveriam tantas lutas, tantas mortes, tantas dores !
Só em Dezembro de 1948, em Paris, 48 Estados então representados nas Nações Unidas , aprovaram a Declaração Universal de Direitos Humanos, nenhum votou contra, 40 votaram a favor, oito abstiveram-se: os seis países comunistas, a África do Sul e a Arábia Saudita.
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