Voltar ao topo | Alojamento: Blogs do SAPO
Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Guerras
É pena que horrores rime com flores
E, também com dores, rancores
E, ainda com impostores, doutores
E, até com professores, nadadores
As guerras são grandes horrores
Que matam inocentes e tenras flores
Que são apanhadas entre rancores
Os monstros matam as bonitas flores
Os monstros não sabem o que são dores
Pelo menos, as que infligem aos opositores
As infelizes tenras flores não sobrevivem a tantos horrores
Nas guerras não há flores
Nas guerras há horrores
Nas guerras há muitas dores
Nas guerras não há regras
Nas guerras há só opositores
Nas guerras reina a loucura
A cegueira é mais que pura
O ódio cava a sepultura
Nas guerras não há humanidade
Nas guerras só há brutalidade
Nas guerras as balas não escolhem idade
Nas guerras não há solidariedade
Nas guerras só há mortandade
Nas guerras as crianças morrem antes da puberdade
Nas guerras ninguém diz a verdade
Nas guerras só há maldade
Todos se regem pela vaidade
Quem mata mais é herói
A dor do outro não dói
A dúvida é que mói.
Os meus olhos não aguentam mais ver,
nas guerras, as crianças a morrer.
José Silva Costa
Mar morto
Oh bonita e formosa Europa!
Os teus nem sempre te dão o teu devido valor
Mas não falta quem queira em ti viver
Arriscam tudo, sujeitam-se até a morrer
Metem-se em pequenos barcos para em ti entrar
Nada os faz parar, querem encontrar onde sonhar
Muitos têm pago com a vida o sonho de viver
O teu mar tornou-se num grande cemitério
Mas quem foge da fome, da guerra, de nada tem medo
A vida de quem tem sonhos é um grande enredo
Não pode toda a vida esperar, mais tarde ou mais cedo
Faz-se ao mar, semeia todas as esperanças, para colher os sonhos
Nem todos os querem acolher, mas não os podemos deixar no mar morrer
Melhor seria que pudessem viver onde nasceram
Mas, para isso era preciso que houvesse equilíbrio entre pobres e ricos
Cooperação, solidariedade, menos vaidade, desperdiço e mais humanidade
Ninguém é feliz rodeado de esfomeados, maltratados, explorados
Para muitos a vida é feita de muitos riscos
Outros só conhecem o paraíso
Infelizmente, os donos do Mundo estão, de novo, em grande competição, para encontrarem o vencedor
Até o vencedor ser encontrado, vão matando, a-torto-e-a-direito, sem dó nem piedade
Acima de tudo está o seu poder e a sua vaidade.
José Silva Costa
O futuro, ano de 2090
Com a ajuda dos robôs, que passaram a fazer os trabalhos mais duros e rotineiros, os humanos passaram a ter mais tempo de lazer
Muitas empresas dão a escolher aos seus funcionários, dependendo do ramo de atividade, se querem trabalhar de manhã, de tarde ou três dias por semana
As pessoas passaram a ter tempo para consumirem muito mais cultura, fazendo com que os museus, os teatros, os cinemas, e tudo o que é espetáculo esteja, sempre, tudo esgotado
Os países mais antigos, com muitos monumentos, e que os souberam preservar, são muito procurados por turistas, que procuram cultura, ao contrário de antigamente, que procuravam mar, sol e areia
Os habitantes dos países, jovens, gostam de se deslumbrar com a grandiosidade e a antiguidade dos nossos monumentos. Querem sentir o peso dos séculos, imaginar o quotidiano desses tempos, mergulhar na enorme aventura, que tem sido a evolução humana
Enquanto uns querem descobrir o espaço, sentir a adrenalina de sair do nosso planeta, passar uns dias na Lua ou em Marte, outros querem regressar ao passado, ver o caminho andado, pelos nossos antepassados
No dia 20/07/2021, 52 anos depois de Neil Armstrong ter pisado a Lua, e ter dito:” um pequeno passo para o homem, mas um grande salto para a humanidade” nasceu mais uma empresa de viagens ao espaço, a New Sheppard
Uma empresa de Jeff Bezos, que convidou, para o acompanhar, o se irmão Mark, o estudante holandês Oliver Daenen, de 18 anos, e a Wally Funk, de 82 anos, que deu instrução a mais de 300 pilotos, mas que nunca tinha tido oportunidade de ir ao espaço, segundo disseram, por ser mulher
Atingiram 105 km de altitude, 3.559 km por hora, a viagem durou 10 minutos e 10 segundos, muito mais rápida que a anterior, 9 dias antes, a 11/07/2021, que durou cerca de uma hora
Na primeira foi utilizado um avião, que podia levantar voo do aeroporto da Base das Lages, nos Açores, em quanto que na segunda foi utilizado um foguetão
Ao mesmo tempo que os dois milionários se divertiam a gastarem milhões na concorrência das viagens ao espaço, em Terra, o Mundo debatia-se com a pandemia SARS-Cov-2
Em Portugal, mais de um milhão de pessoas não tinham Médico de família, cinquenta e três mil e trezentos esperavam por uma cirurgia oftalmológica, alguns há mais de quinze meses
Muitas pessoas questionavam e criticavam os gastos na corrida ao espaço, em quanto que em terra, a fome matava muita gente
Mas, sempre, assim foi, porque a vaidade empurra-nos para feitos que nos eternizem, sem queremos ver, nem ouvir o que se passa à nossa volta.
Continua
Vaidades
O que é que levou o Governo a querer destruir um Serviço de referência, do Hospital Curry Cabral, querendo transferi-lo para o Hospital de Santa Marta, com o pretexto do Covi19?
Um disparate comparável ao que pretenderam fazer com a transferência do Infarmed, para o Porto, cujo recuo, só foi possível devido à resistência de trabalhadores e dirigentes
Sou a favor da descentralização, mas não à custa da destruição, para satisfazer as vaidades dos políticos
O que tem sido feito, para enfrentar o Covid19, é criar Hospitais de Campanha, ou utilizar instalações disponíveis, nunca destruindo o que levou tantos anos a construir
Mas, infelizmente, continuamos a ter políticos, que não se importam de destruir o que funciona, e bem, para imporem as suas vaidades.
José Silva Costa
O encanto das Cidades
Quando os turistas desaguam nas praças das nossas cidades
E ficam de boca aberta com o encanto dos nossos monumentos
Não sabem nem sonham, o que se esconde, por de trás das bonitas fachadas
Muitos idosos, na solidão de quatro paredes, sustentam, com os seus corpos, o desmoronamento das cidades
Já não lhes bastavam as dores, o peso dos anos, o tempo a escoar-se por entre os dedos
Ainda têm de viver com o medo, a incerteza de não saberem o que lhes pode acontecer
Assediados por quem lhes quer roubar o lugar onde nasceram ou onde há muito vivem
Não conseguem, nem nos últimos anos de vida, um momento de paz
Mesmo que a lei os proteja, os fundos de investimento não têm sensibilidade nem rosto
E, quando não aceitam as miseráveis condições em que os querem despejar
Ou quando não há dinheiro que lhes pague o que sente por o seu lugar
Porque saírem de onde têm raízes e alguém que lhes dê atenção
É como condená-los a uma morte antecipada
Então, os novos donos das cidades, recorrem a métodos criminosos
Mandando incendiá-las
Triste tempo deste deslumbramento!
Em que para o vil metal, uma parte da peste grisalha é um impedimento
Para que o resto da peste grisalha calcorreie todo o mundo, a todo o momento
Há qualquer coisa de errado, quando os cabelos prateados não são acarinhados
José Silva Costa
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.