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Aquecimento

por cheia, em 28.11.22

O clima

Novembro está acabado

Choveu, mas as temperaturas mantiveram-se amenas

Para quem já muito viveu, nota bem as diferenças

Quem é que passava este mês sem vestir uma camisola interior ou um pulôver

Que o tempo está mudado, ninguém tem dúvidas, a não ser os que dizem que sempre foi assim

Mas, se a subida da temperatura não chega para convencer os mais séticos, infelizmente, as constantes calamidades, que têm acontecido por todo o lado, deviam ser suficientes para nos fazer pensar e eleger políticos que tomem medidas no sentido de inverter a situação

Os jovens, como sempre, estão na linha da frente, mas são muitas as barreiras a vencer

Todos dizem querer fazer a transição energética para as energias renováveis, mas ninguém prescinde das suas comunidades

Nem mesmo as meninas e meninos, que lutam contra tudo o que é fóssil ou trabalhou em empresas ligadas ao fóssil, são capazes de deixarem de recorrer ao fóssil para fazerem mover os seus automóveis, aquecerem a água, cozinharem, aquecerem as casa, nem deixam de comprar as suas roupas e calçado de famosas marcas, que utilizam a mão-de-obra barata, onde os direitos humanos não existem

Têm de ser convincentes, dando o exemplo, para serem levados a sério e conseguirem que a opinião pública abrace as suas causas, que são de todos, e só com o contributo de todos poderão ser bem-sucedidas

Continua a haver muita gente que não separa o lixo, só o farão se forem obrigados, o que é uma pena

Todos deveriam dar as mãos para um ambiente mais limpo, com a terra, os rios e os mares menos poluídos

Uma boa contribuição seria substituir o transporte individual pelos transportes públicos ou partilhados. Mas ainda não estamos preparados para esse grande salto

Há saltos que só se conseguem com educação, investigação, inovação, colaboração entre os muitos saberes

A opinião pública tem de exigir aos governos que investiam mais na educação, porque o desenvolvimento e melhores condições de vida dependem da inovação, de produtos com valor acrescentado, de uma distribuição mais justa dos rendimentos

As famílias, também, devem investir tudo o que puderem na educação dos filhos e netos, porque é muito mais rentável que lhes deixarem bens materiais.

 

José Silva Costa

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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publicado às 07:59

A martelo

por cheia, em 06.11.20

Mazelas da guerra

   Vinho feito a martelo

 

Continuação

 

Como de vez em quando íamos a General Machado, aproveitávamos para saborear o prato preferido e esquecer o rancho e as rações de combate

Um belo dia, estávamos sentados num restaurante, a saborearmos os pregos, quando demos conta, na mesa ao lado, dois senhores revelavam como fazer vinho a martelo, cuja receita era: água, álcool, barro e palha

O barro para dar a cor e a palha o sabor, e temos um vinho que é um amor

De outra das vezes que fomos a General Machado, acompanhou-nos um Sargento, que fez uma paragem numa oficina auto, para pagar um bidon de 200 litros de lubrificante

De seguida mandou-nos subir para a viatura, e eu disse-lhe que faltava carregar o bidon, ao que me respondeu: “não é para carregar agora”

Algum tempo depois, fui à secretaria, tratar já não sei de quê, e o Sargento disse para um Soldado: ” o Furriel Costa, é que podia ajudar aqui na Secretaria”, ao que lhe respondi, que a minha esferográfica era a G3

Quando fui marcar as férias de 1971, ele disse-me: “sabe, acabamos a comissão em agosto, nem todos podemos gozar os 30 dias, só pode gozar 10 dias”

Aproveitei para ir conhecer o Lobito e Benguela. Fui de boleia, de um camionista, de Nova Lisboa ao Lobito, dois mil quilómetros a descer, quase só falámos da situação em Angola, ambos estávamos de acordo que tinha de se encontrar uma maneira de acabar com a guerra

Passámos por uma plantação de cana-de-açúcar, a perder de vista, da Companhia Agrícola do Cassequel, e uma outra de sisal

No Lobito, fiquei alojado na FNAT- Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho, era o hotel mais barato

Fiz amizade com dois civis, foram umas férias agradáveis

A temperatura da água do mar devia rondar os 30 graus, ficávamos 3 ou 4 horas dentro de água

Tínhamos o cinema Flamingo, onde todos os dias íamos ao cinema, no salão de entrada estavam em exposição automóveis Japoneses. Junto existia uma colónia de flamingos

O calor era quase insuportável, não conseguíamos dormir, tomávamos banho antes de nos deitarmos, não nos enxugávamos, mas mesmo assim não conseguíamos adormecer

Um dia resolvemos ir dormir para a praia, levámos os lençóis, dormimos como pedras, foi uma experiência maravilhosa

Dedicámos um dia para irmos conhecer Benguela, que não fica muito longe do Lobito

O Lobito tem um porto de águas profundas, um dos melhores de África

No regresso utilizei o Caminho de Ferro de Benguela, construído entre 1903 e 1929, com uma extensão de 1.345 km, atravessa Angola de Este a Oeste

 

Foram umas 12,13 horas, para vencer a distância entre o Lobito e General Machado. Não sei quantas carruagens puxadas por uma máquina a vapor, em todas as estações carregavam lenha, para alimentar a caldeira

No início utilizaram a floresta autóctone, mais tarde tiveram de fazer plantações de eucaliptos, junto de cada estação.

Enquanto estivemos no Umpulo, fizemos diversas operações, numa delas fomos transportados de helicóptero, nos pumas, não podíamos levar mais de 20Kg de equipamento

Optei por não levar mantas, levei só dois panos de tenda, bem me arrependi

Só conseguia dormir até à meia-noite, enquanto a terra estava quente, depois tinha de me levantar e fazer exercícios pra aquecer

Outros cortaram nos mantimentos, enquanto eu levei um saco de plástico com pão

No último dia da operação, de manhã, quando estávamos a tomar o pequeno-almoço, o Capitão, que já não tinha quase nada para comer, viu o saco com umas migalhas de pão, pediu-mas para fazer umas sopas

Quando os dois helicópteros abordaram o acampamento que íamos atacar, saltámos de uns dois metros de altura, o carregador, da minha G3, saltou da arma, o que prova que o equipamento estava velho e cheio de folgas, valeu-nos o inimigo já se ter ido embora, tinham queimado tudo, ainda havia algum fumo

Era difícil manter as operações em segredo, para mais tínhamos uma povoação por perto

Uma meia-dúzia de miúdos, começou por pedir os restos para comerem, mas com o tempo foram ficando todo o dia no acampamento, lavavam os pratos aos soldados, quem é que não gosta de criados!

Depois, um condutor passou a levá-los, todas as noites, à povoação

Passado algum tempo, a viatura acionou uma mina, e um dos miúdos ficou com os dedos, de uma mão, cortados

Foram feitas algumas prisões, gerou-se um mal-estar, um Furriel, para chamar à atenção, encostou a G3 à face e disparou para o ar, ajudando a desanuviar o ambiente

Nunca mais acionamos nenhuma mina!

As minas são das coisas piores que inventaram. Há muito que falam em proibi-las, mas parece-me que nunca chegarão a acordo

De vez em quando, infelizmente, aparecia alguém com um pé desfeito ou a pedirem-nos para desativarmos minas antipessoal, que tinham detetado

Constituídas por 200 gramas de trotil, um detonador e uma caixa de madeira têm causado tantos mutilados

Angola foi muito martirizada com a “sementeira” de minas antipessoal, ao ponto da Princesa Diana se interessar pelo drama dos mutilados, fomentando e patrocinando o fabrico de próteses, causa, que um dos seus filhos tem continuado a apoiar

Nós, felizmente, nunca acionamos nenhuma mina antipessoal, porque desde a instrução, que todos estávamos bem avisados para nunca utilizarmos trilhos, por muito trabalho que dessem a abrir: cortar a vegetação, com uma catana, para podermos caminhar, era preferível que perder um pé, nem nunca utilizámos os nossos trilhos mais do que uma vez

Os meus camaradas de curso, que tiveram as notas mais baixas, foram os escolhidos para tirarem um curso de minas e armadilhas, em Tancos.

Continua

   

 

 

 

 

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