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Lisboa!
Ruas estreitinhas
Fados antigos
Colinas com postigos
Bairros contíguos
Muitas colinas despidas
Elevadores estendidos
Estrangeiros aos montes
Já não há fontes
Tudo muito sofisticado
Tudo embalado
Já não há azeite, arroz, açúcar, avulso
Já ninguém sobe a pulso
Os presos sonham com um indulto
Decretaram três dias de luto
Há quem ache que é um insulto
Está tudo tão mudado!
Já não há burros, nem palha
Nada falha
No bairro alto vendia-se amor
Agora, o barulho é um horror
O futebol era uma festa
Hoje, é um campo de batalha
Os adeptos têm de estar em campos opostos
As famílias, cujos membros não sejam todos do mesmo clube
Não podem ver os jogos juntos!
Cada um tem de ir para o seu campo de luta
Ao ponto a que chegou o futebol!
Minha Lisboa, minha princesa, ninguém tem tanta beleza
Como tu, eterna noiva do Tejo.
José Silva Costa
O Tejo
O Tejo é o príncipe encantado de Lisboa
O seu amor, perfeito!
Banhando-lhe os pés o ano inteiro
Num lisonjeiro e amoroso namoro
Tejo, eras o espelho do país, quando eras feliz!
Mas a ganância, a incompetência, a insensibilidade mataram-te
Não te mataram só a ti, mataram também o país!
Cobriram-no de eucaliptos e puxaram-lhes fogo
Matando plantas, animais e pessoas
Envenenaram-te com o pretexto de criarem riqueza
Mas, ao contrário, provocaram tragédias e miséria!
Morto, fizeram-te o funeral, cobrindo-te com um manto branco!
Tejo, tu és a maior porta de entrada e saída do país!
Quantas fragatas te subiram e desceram carregadas de vida e sonhos?
Tu serás sempre a grande referência para quem sai e entra, pela tua porta
O país já chorou a teus pés, ao longo dos séculos, a partida de marinheiros, militares, aventureiros, pedindo que todos regressassem
Mas, infelizmente, há sempre quem te perca para sempre
Só quem de ti se despediu, carregando a incerteza de não saber, se te voltaria a ver
Pode testemunhar a alegria, que sente, por voltar aos teus braços
Os teus cais estão pejados de lágrimas de despedidas, e de sorrisos de regressos
José Silva Costa
Fevereiro
Fevereiro leva a velha e o cordeiro
Fevereiro quente traz o diabo no ventre
Peço-te que mandes água para a gente
Mas, o suficiente para lavar a corrente
Levar para longe do nosso olhar
Todo o lixo que encaminhamos para os rios
Que desaguam no mar
Que tudo consegue abarcar
Mas, que um dia também pode avariar
Começar, o veneno, a vomitar
Para tudo matar
O Tejo já está a agonizar
Passa os dias e as noites a vomitar
Espuma branca, que mandaram aspirar
Temos de optar!
Não podemos querer, ao mesmo tempo
Sol na eira e chuva no nabal
Alguma coisa está mal!
Quando substituímos o plástico por o papel
Não será melhor apostar no virtual?
Deixando de estar enterrado em papéis
Muito ao nosso gosto e hábito!
Reduzir, reutilizar e reciclar
Se não quisermos, com o Mundo acabar.
José Silva Costa
Lisboa
Lisboa está, cada vez, mais encantadora
Do búnquer do século passado
Para a mulher sofisticada à procura de namorado
Não deixava o Tejo ver-lhe os artelhos
Agora lava-lhe os joelhos
O Marquês é que não tem sorte
Por mais túneis que construam
Não se livra do fumo dos escapes dos automóveis
Oito e oitenta: um mar de gente
Lisboa internacionalizou-se de tal maneira
Que o difícil e ouvir falar português
Quem, nela aterre desprevenido
Pode pensar que o avião foi desviado
Que Portugal foi comprado!
O que não é errado
Já vendeu tudo
E continua, cada vez, mais endividado
Habituámo-nos ao fiado
Todos os dias vamos ao mercado
Pedir dinheiro emprestado.
José Silva Costa
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