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Aniversário
Há dezasseis anos que o charco acolhe o meu blog Cheia
Tem sido uma casa muito acolhedora, com gente muito empenhada
Muito solidária, capaz de ajudar quem tenha perdido o pé e esteja desanimado
Tem sido uma grande escola, onde tanto tenho aprendido
Só todos sabemos tudo!
Concretizam-se sonhos, publicam-se livros
Uns compram-se, outros são oferecidos
São muitos anos, tantas amizades e vidas partilhadas
É imaginar tantas feições, sem saber se correspondem à realidade
Mas como não há rosas sem espinhos, a dúvida mói mais que a certeza
Quando deixam de comparecer ao convívio, sem justificação
Ficamos com o enorme aperto no coração
Fica a pergunta sem resposta
O que terá acontecido?
E, há quem não consiga suportar essa dúvida e tudo faça para saber o que aconteceu
Mas, também, há quem não o queira revelar, só temos de respeitar, a vontade de cada um
O meu primeiro blogue tem uma bonita idade
Está um adolescente irreverente
Em que o clima está, cada vez, mais quente
E, os jovens temem o futuro, que têm pela frente
Os adultos, que são quem toma medidas para o futuro
Estão muito confortáveis nos seus casulos, sem quererem ar puro
Os jovens ainda não estão condicionados ao peso das decisões
Não imaginam quanto poderá ser duro, mudar
Para eles é fácil vir para a rua gritar, o rabo mostrar
E quem é que os faz do telemóvel, do computador, do carro abdicar?
É que não há como mudar, sem alguma coisa alterar!
Sempre houve e haverá choques entre gerações
Em que os filhos não concordam com os pais
Mas quando têm filhos, muitas vezes, dão razão aos pais
Em breve, não precisaremos de ter carro, chamá-lo-emos pelo telefone, virá ter connosco, levar-nos- á, para o nossos destino, ficará aí parado até que o voltem a chamar
Com essa radical alteração, muito a nossa carteira e o ambiente vão beneficiar
També teremos melhores e mais eficientes transportes públicos
Só espero que todas essas grandes alterações, ainda, cheguem a tempo do nosso planeta continuar com condições de habitabilidade.
José Silva Costa
A lua-de-mel!
Sonhos longos planos
Mar salgado ondulado
Um beco apertado
Rio sombrio magoado
Luzes acesas sem telhado
Frio escorregadio molhado
Braços num abraço sufocado
Beijos num céu estrelado
Mãos a afagar um corpo suado
A lua a iluminá-los com cuidado
Um sono acordado
A sorrir em cada namorado
Um grito de alegria queimado
O sobrolho da rua arrepiado
O sol a subir ao sobrado
A prometer ficar para sempre acordado
Para que ninguém acorde gelado
Uma noite de juras de amor encantado
Duas vidas atadas por um lençol esticado
O amor no perfume deitado
Tudo o resto passou ao lado
Como se o mundo já tivesse acabado
Nem um ruido incomodado
O tempo ficou parado
Na areia as gaivotas ensaiavam um bailado
Tudo ficou alado
Voaram num voo imaginado
Aterraram nas nuvens de um dia ensombrado
Com um bonito penteado
O futuro para sempre enleado.
José Silva Costa
Os gritos das crianças!
Bombas rebentam por toda Ucrânia
As crianças gritam, nos colos das mães
Com medo, cheias de aflições
Um abrigo de que só as mães são capazes
Apertam-nos contra o seu peito
Fazendo com que momentaneamente passe o efeito
Mas, nos sonhos, tudo fica desfeito
Acordam aos gritos como se estivessem a ouvir as bombas a rebentar
Não conseguem descansar
As mães acabam por o seu país abandonar
Sem saberem para onde ir, vão, um lugar seguro, procurar
Os pais abdicam de tudo, para que os filhos, em paz, possam criar
Mas, os déspotas, sem coração, são surdos!
Não ouvem nem choros, nem gritos de arrepiar
A sua obsessão é tudo metralhar
Se possível tudo arrasar
Quem pode dizer que está seguro no aconchego do seu lar!
A descansar do muito trabalho que lhe deu a arranjar
Se há quem não saiba o que é sonhar viver em liberdade
Sem peias, nem meias, de que alguns estão, sempre, a relativizar
Sem nos conseguirem explicar
O que querem dizer com a seguinte frase: “amplas liberdades”
Como se a Liberdade se medisse em comprimento ou largura!
Não! A Liberdade não tem condicionantes
Ou há Liberdade, ou não há Liberdade
Não consente meio-termo!
José Silva Costa
Os anos
Cada ano, cada etapa
Cada ano é como uma flor
Vai perdendo as pétalas durante os 365 dias
Depois, nasce um novo ano
Jovem, formoso, muito vaidoso
Vai, ao longo dos dias, perdendo o fulgor
Envelhecendo, perdendo os sonhos
Não conseguindo realizar tudo o que tinha imaginado
Acontece com todos os anos
Acontece, também, com os humanos
Está dependente dos acontecimentos
Que fazem com que seja bom ou mau
Há os que se tornam inesquecíveis
Outros de que ninguém se lembra
Os que são lembrados ao longo dos séculos
Os que ficam esquecidos no tempo
Os que morrem sem glória, nem advento
Os que só vivem o momento
Os que vencem o tempo
Os que se libertam da morte
Os que são eternos!
Bom Ano!
José Silva Costa
O futuro é hoje (7)
O Luís ficou um pouco aliviado por os construtores de automóveis, incluindo Portugal, não se terem comprometido com uma data, para acabarem com os motores a combustão, na 26ª Conferência das Unidas sobre as Alterações Climáticas ( COP 26)
Mas sabe que mais tarde ou mais cedo têm os dias contados, porque as pessoas começam a ter receio de os comprarem, não sabendo se continuarão a ter assistência, peças ………..
Só pede que o seu posto de trabalho se mantenha até atingir a idade da reforma, porque já não se sente com força para procurar outro emprego, nunca fez outra coisa
Quando chegamos aos sessenta anos, começam a faltar as forças para novos desafios, queremos é obter a reforma, para fazer, o que tantas vezes adiámos, como se reformados, conseguíssemos concretizar todos os sonhos, adiados
Quantas vezes, os planos saem furados! Porque nos falta a saúde, porque temos de cuidar dos netos, o que quase todos fazem com tanto gosto, que se esquecem dos planos feitos ao longo da vida, para a caminhada final
Com a digitalização, esperava-se que tivéssemos mais tempo para estar com a família e para o lazer. Mas, infelizmente, tal não está a acontecer
Temos tido dificuldade em acabar com a burocracia do papel, de que tanto gostamos, hábito de tantos anos!
Se não preciso do atestado médico, em papel, para renovar a carta de condução, pela internet, por que razão é que o médico continua a imprimi-lo?
Se os maiores de 25 anos, que não precisem de averbar alterações no Cartão de Cidadão, podem obtê-lo sem ser preciso ir dormir para a porta das Lojas do Cidadão, por que razão continuam a fazê-lo?
Infelizmente, muita gente, ainda não mexe num computador, mas esse problema poderia ser atenuado, se as Juntas de Freguesia tivessem um espaço para ajudarem os fregueses, evitando deslocações, perda de tempo, gastos desnecessários
Tudo o que se poder fazer no digital deveria ser publicitado, para que as pessoas adiram, para não se desperdiçarem horas de trabalho ou lazer, papel, dinheiro, contribuindo para um planeta mais sustentável
Todos estamos de acordo que é preciso acabar com os combustíveis fosseis, mas quando os equipamentos são desligados, os trabalhadores reagem e com razão, temem pelo seu futuro, aconteceu com o encerramento da refinaria, em Matosinhos, e está a acontecer com o anuncio do encerramento da central termoelétrica, a carvão, do Pego, previsto para 30/11/2021.
Continua
José Silva Costa
O luar
Na quietude do sol
Neste verão mole
Seco os sonhos ao luar
Não os quero, comigo, deitar
Podem dar azar
O melhor é, para casa, não os levar
Já é tempo de descansar
Nada se pode desperdiçar
Muito menos o tempo de amar
Meu amor vamos ver o mar!?
As estrelas estão a brilhar
Vamos, este brilho, aproveitar
Antes que o sono se queira deitar
Nos obrigue a, esta maravilha, não observar
Há momentos que ficam, para sempre, a cintilar
Temos de, com as duas mãos, os agarrar
Porque podem nunca mais voltar
Meu amor vamos ver o mar!?
Vamos, esta linda noite, aproveitar
Ver o mar convidar a lua para dançar
Ver as estrelas a namorar
Aproveitar para, na areia, dançar
Antes que a madrugada apareça
E, só nos deixe ir para casa, quando for para dormir a sesta.
José Silva Costa
Amor & guerra (34)
A Sara e o Miguel terminaram o Liceu, escolheram o mesmo curso e o mesmo estabelecimento de Ensino Superior: O Instituto Superior Técnico
No furor dos seus verdes dezoito anos cabiam todos os sonhos, todas as ambições, uma idade em que nada para os corações, no amor, nas emoções, nas vastas ilusões
O João voltou a visitar a Bárbara, levou-lhe mais um lindo ramo de rosas, belas, amarelas
Quando ela aceitou as rosas, ele abraçou-a e beijaram-se, disse-lhe ao ouvido: ”casas comigo?”
Toda ela estremeceu, sorrio e floriu, fê-lo esperar mais uns minutos, por fim, disse: “Sim”
Ficaram, ali, naquele enlevo, que nem deram por o tempo passar, só a chegada, da Sara, interrompeu aquele encantamento
Depois de a cumprimentarem, deram-lhe a notícia de que estavam noivos, ficou muito contente por ver a mãe, novamente, feliz, dizendo-lhe que já tinha perdido muito tempo Deu-lhes os parabéns, desejando que fossem muito felizes
Para comemorar, a Bárbara disse-lhes que ia fazer um jantar especial, o que fez com que a festa se prolongasse pela noite dentro. Como já era muito tarde, a Bárbara disse ao João, que podia ficar lá em casa, e ele aceitou
No dia seguinte, o João convidou-a para irem visitar os pais dele, a fim de os informarem sobre o seu noivado
Os pais dele ficaram muito contentes com a visita e a notícia. Há muito que esperavam que o filho desse aquele passo. Gostavam muito da Bárbara. Mas, infelizmente, a trágica morte do Firmino, tinha posto fim aos felizes anos, na companhia da Bárbara
Agora, esperavam que o João fosse tão feliz como o irmão, mas por muito mais tempo, com saúde e sem contratempos, na companhia da Bárbara, de que quem tanto gostavam, desejando que lhes dessem uma neta ou um neto, o que não foi possível com o Firmino
A Miquelina continuava a lutar contra o cancro. Já tinha feito todos os exames, para se submeter à cirurgia, que os médicos decidiram ser a melhor maneira de o conseguir vencer
Estava otimista e tinha a certeza de que tudo iria correr bem, o que ajudava e animava quem a rodeava, e até os profissionais de saúde se sentiam contagiados pela sua boa disposição
A Bárbara estava radiante na companhia do seu novo companheiro. Só a doença da amiga lhe toldava a alegria
Foi visitá-la, antes que fosse internada para ser operada. Ficou muito animada por a ver tão determinada e segura de que tudo iria correr bem
Aproveitou para a pôr ao corrente dos últimos acontecimentos, dizendo-lhe que o ex-cunhado a tinha pedido em casamento, e que estava muito feliz por ter um companheiro
Também falaram do facto da Sara e do Miguel andarem no mesmo estabelecimento de ensino e no mesmo curso.
Continua.
Amor & Guerra (30)
A maior parte das pessoas chegou com a roupa que tinham no corpo. Sem eira nem beira, sem conhecerem ninguém, muitos nunca tinham estado em Portugal, foram dias muito dramáticos, para muita gente
Deambulavam pela cidade, sem rumo, no desespero de quem não consegue prever o futuro, descansavam nos bancos dos jardins, à espera da noite
Foi difícil acomodar tanta gente. Criaram o Instituto de Apoio ao Retorno de Nacionais (IARN)
Mobilizaram algumas unidades hoteleiras, nos distritos do Porto, Lisboa e Setúbal, para onde encaminharam as famílias
Apresentavam índices mais elevados de escolaridade que o resto do país
A pouco-e-pouco criaram negócios, empregaram-se, contribuíram para a dinamização de muitas localidades
Os que eram funcionários públicos e bancários foram integrados, os outros tiveram de se desenrascar. Para a integração dos bancários, muito contribuiu o fato da banca estar nacionalizada
Os pais e o irmão do Firmino, ao contrário dos que não sabiam para onde ir, mal desembarcaram, no aeroporto de Lisboa, apanharam um táxi para a casa da Bárbara, onde forma muito bem recebidos, e ficaram até alugarem uma casa
Voltavam a estar todos juntos, o que, não fora a perda do Firmino e terem sido forçados a deixarem a sua terra, poderia ter sido motivo para estarem muito felizes
A Bárbara emprestou-lhes dinheiro para criarem um negócio, uma ajuda importante, que deu ótimos resultados, uma vez que, em poucos anos, se tornou numa grande empresa, dando trabalho a dezenas de trabalhadores
Depois da euforia de 1974, dos bons aumentos, para alguns, em 1975, da aprovação da Constituição, em 1976, das primeiras eleições livres de 1977, chegámos à banca rota
Pela primeira vez, em 1977, fomos forçados a pedir ajuda ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Tomamos-lhe o gosto, não queremos outra coisa, seguiram-se 1983 e 2011
Todos os dias, de cesta numa mão e a outra estendida, vamos aos mercados pedir euros emprestados
A Bárbara e a Sara continuavam a descobrir Lisboa e os arredores. Foram a uma casa de fados, ouviram cantar o fado e ficaram encantadas. Depois foram, ao Parque Mayer, ver um a revista à portuguesa, não se cansavam de, a cidade, percorrer
Viajaram de comboio a Cascais e Sintra. Visitaram o Palácio Nacional de Sintra, o Castelo dos Mouros, o Palácio Nacional da Pena, o Convento dos Capuchos e o Parque e Palácio de Monserrate. Também não quisera deixar de ir ao ponto mais ocidental da Europa: O Cabo da Roca
A seguir decidiram ir a Coimbra, que a Bárbara tanto gostava de conhecer, devido à sua Universidade, onde desejou estudar. Mas, os pais nunca permitiram que saísse de Angola
Para ela, Coimbra tinha muito encanto, mesmo que nunca lá tivesse estado, bastava o fado de Coimbra e as serenatas, que costumava ouvir na rádio
Parecia querer entusiasmar a filha, para que fosse estudar para a Universidade de Coimbra
Por vezes, alguns pais colocam nos ombros dos filhos os sonhos que não conseguiram realizar.
Continua.
Amor & guerra
Há sessenta anos, a UPA (União dos povos de Angola) iniciou a luta armada no norte de Angola em 15/3/1961
Um casal, que vivia com a filha, foi assassinado. A Bárbara, sua filha, escondeu-se num abrigo, que havia na cave do estabelecimento, onde guardavam o dinheiro e as mercadorias de muito valor
O pai tinha construído aquele lugar secreto, a pensar na hipótese de um dia terem de o utilizar
Estava equipado e preparado, para passarem lá um mês ou mais. Tinha aposentos e uma despensa guarnecida, para os três viverem por algum tempo
A Barbara só saiu de lá quando viu, pelo óculo, bem disfarçado, os militares portugueses, que a incentivaram a abrir o estabelecimento, fazendo com que a vila voltasse a alguma normalidade
O comandante da companhia, vendo o estado dela, destacou uma secção, para a ajudar e proteger, para ver se ganhava confiança
Um militar apaixonou-se por ela, e ela por ele. Começaram a namorar, ele era o seu confidente e psicólogo, fazendo com que ela voltasse a viver
Foram poucos meses, uma vez que a companhia teve de ir para outra localidade, que ainda, estava ocupada, pelos guerrilheiros da UPA
Mais um grande choque para a Barbara, que continuava muito perturbada, pela morte dos pais. Mas conseguiu seguir com os seus planos de recuperar o negócio
Dois meses depois soube que estava grávida, mas nem sequer sabia o SPM (Serviço Postal Militar) da companhia do pai da criança, como é que o poderia informar de que era pai!
Seria que ele gostaria de saber que era pai, ou pelo contrário, negaria que aquele bebé, que estava para nascer, fosse seu!
Carlos estava a cumprir o serviço militar obrigatório, faltavam-lhe seis meses, para passar à disponibilidade.
Namorava com a Miquelina, que era criada de servir, em Lisboa. Tencionavam casar-se, assim que ele saísse da tropa, e saírem do país
Primeiro iria ele, a seguir iria ela. Mas, as suas vidas mudaram de um dia para o outro. Ao começar a guerrilha em Angola, em vez de passar à disponibilidade, foi mobilizado, para ir para Angola
Com os sonhos desfeitos, os últimos dias, antes do embarque, foram de nervosismos e ansiedade, não se conformando com o que lhes aconteceu
Naqueles tempos, as raparigas, que não chegassem ao casamento virgens, eram severamente criticadas
Sem métodos anticoncecionais ao seu dispor, faziam os possíveis para não permitirem relações sexuais antes desse dia
A Miquelina resistiu quanto pôde, mas no último dia antes do embarque, o Carlos conseguiu convencê-la a terem relações sexuais antes de ele embarcar
Em menos de uma semana, a guerra separou-os, matando a felicidade, que há anos vinham construindo. As guerras, a uns matam os corpos, a outros os sonhos .
Continua
A quem morreu por sonhar
A vida, pelo sonho
O sonho comanda a vida
Sonham com a liberdade
Respirar em liberdade
Trabalhar em liberdade
Escolher em liberdade
Viver em liberdade
Dormir em liberdade
Estudar em liberdade
Fugir da arbitrariedade
Ter personalidade
Fugir da pena de morte
Fugir da prisão perpétua
Deixar de ser, só, mais um
Poder sonhar voar
Poder decidir
Poder ir à lua
Poder dormir, livremente, na rua
Para tudo isto fazer
Só uma coisa pode acontecer
Fugir!
E, há sempre, alguém que queira ajudar
Que nos proponha, num camião, viajar
A melhor maneira de, num país livre, entrar
Quando não temos autorização, para lá estar
Mas, esqueceram-se de, o frigorífico, desligar
Todos os sonhos ficaram por realizar
Quantos sonhos acabaram por matar!
Mas, os sonhos nunca vão acabar.
José Silva Costa
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