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Julho 2020
Um Verão quente no Interior, mas fresco no Litoral Ocidental
Com a pandemia, sempre, a ameaçar
Embebecidos, contemplamos a Lua
Neste Verão não há barulho, na rua
Há um doce silêncio, que nem parece Verão
Antes de adormecer, nas ondas dos teus cabelos, deito o meu olhar
Respirar o teu perfume, faz-me sonhar
Sozinhos, como no início!
Com os anos passados e os filhos criados
Temos a ilusão que voltámos aos tempos de namorados
Mas, o espelho desmente tudo o que tínhamos arquitetado
Os corpos, os rostos, os cabelos estão desfigurados
Como é que podemos ser os mesmos, dos vinte anos! Depois de tantos, passados
Acho que foram as nossas netas e neto, que guardaram os nossos rostos, dos vinte anos
Para os mostrarem aos nossos bisnetos, que nos vão ver como se fossemos, sempre, jovens
Enquanto vão vendo os seus pais a envelhecer
Como é bom, assim, ver o entardecer!
E, ao teu lado, adormecer.
José Silva Costa
Chips!
Para onde quer que nos viremos lá estamos, todos, com os chips na mão
Hoje, todos andamos de chip em riste, numa onda de navegação
Com um aparelho do tamanho de uma caixa de fósforos, temos toda a informação
Nos jardins, nos cafés, nos restaurantes, nos comboios, por todo o lado, um silêncio ensurdecedor
Acabaram-se as conversas, as discussões, a troca de opiniões, os dedos substituíram essas funções
Outrora, nos comboios da linha de Sintra, havia grupos de amigos, que viajavam sempre na mesma carruagem
Uns jogavam às cartas, outros discutiam os resultados dos jogos de futebol, falando, também, das agruras da vida
Faziam-se amizades, combinavam-se piqueniques, excursões, emprestavam-se livros
Naqueles bancos corridos, cabia sempre mais um, viajávamos como sardinha em lata
Durante as obras de duplicação da linha assistimos a muitas peripécias
Uma mãe arrancava o filho, da cama, às seis horas, apanhava o comboio em Sintra, para ser entregue à avó, na estação do Cacém
Como não se conseguia chegar à porta, porque os comboios circulavam de portas abertas, a abarrotar, a criança era entregue à avó, pela janela, por quem estivesse junto à janela
Numa viagem, no sentido de Sintra para o Rossio, na estação da Amadora, uma jovem, vendo que não conseguia chegar à porta, baixou a janela e saiu, o contato com o cascalho, foi um pouco violento, porque ela estava no lado contrário ao da plataforma
Também arrisquei um dia, na estação do Rossio, iniciar a viagem, no estribo da porta, apenas agarrado com uma mão, quando na plataforma começaram a procurar melhores posições, quase que me atiravam para a linha, já dentro do túnel
Nunca mais arrisquei, porque poderia ter perdido a vida, para ganhar uns minutos, ainda que me custasse esperar pelo comboio seguinte, pois, eram quatro horas perdidas, nos transportes.
José Silva Costa
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