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Amor & Guerra (30)
A maior parte das pessoas chegou com a roupa que tinham no corpo. Sem eira nem beira, sem conhecerem ninguém, muitos nunca tinham estado em Portugal, foram dias muito dramáticos, para muita gente
Deambulavam pela cidade, sem rumo, no desespero de quem não consegue prever o futuro, descansavam nos bancos dos jardins, à espera da noite
Foi difícil acomodar tanta gente. Criaram o Instituto de Apoio ao Retorno de Nacionais (IARN)
Mobilizaram algumas unidades hoteleiras, nos distritos do Porto, Lisboa e Setúbal, para onde encaminharam as famílias
Apresentavam índices mais elevados de escolaridade que o resto do país
A pouco-e-pouco criaram negócios, empregaram-se, contribuíram para a dinamização de muitas localidades
Os que eram funcionários públicos e bancários foram integrados, os outros tiveram de se desenrascar. Para a integração dos bancários, muito contribuiu o fato da banca estar nacionalizada
Os pais e o irmão do Firmino, ao contrário dos que não sabiam para onde ir, mal desembarcaram, no aeroporto de Lisboa, apanharam um táxi para a casa da Bárbara, onde forma muito bem recebidos, e ficaram até alugarem uma casa
Voltavam a estar todos juntos, o que, não fora a perda do Firmino e terem sido forçados a deixarem a sua terra, poderia ter sido motivo para estarem muito felizes
A Bárbara emprestou-lhes dinheiro para criarem um negócio, uma ajuda importante, que deu ótimos resultados, uma vez que, em poucos anos, se tornou numa grande empresa, dando trabalho a dezenas de trabalhadores
Depois da euforia de 1974, dos bons aumentos, para alguns, em 1975, da aprovação da Constituição, em 1976, das primeiras eleições livres de 1977, chegámos à banca rota
Pela primeira vez, em 1977, fomos forçados a pedir ajuda ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Tomamos-lhe o gosto, não queremos outra coisa, seguiram-se 1983 e 2011
Todos os dias, de cesta numa mão e a outra estendida, vamos aos mercados pedir euros emprestados
A Bárbara e a Sara continuavam a descobrir Lisboa e os arredores. Foram a uma casa de fados, ouviram cantar o fado e ficaram encantadas. Depois foram, ao Parque Mayer, ver um a revista à portuguesa, não se cansavam de, a cidade, percorrer
Viajaram de comboio a Cascais e Sintra. Visitaram o Palácio Nacional de Sintra, o Castelo dos Mouros, o Palácio Nacional da Pena, o Convento dos Capuchos e o Parque e Palácio de Monserrate. Também não quisera deixar de ir ao ponto mais ocidental da Europa: O Cabo da Roca
A seguir decidiram ir a Coimbra, que a Bárbara tanto gostava de conhecer, devido à sua Universidade, onde desejou estudar. Mas, os pais nunca permitiram que saísse de Angola
Para ela, Coimbra tinha muito encanto, mesmo que nunca lá tivesse estado, bastava o fado de Coimbra e as serenatas, que costumava ouvir na rádio
Parecia querer entusiasmar a filha, para que fosse estudar para a Universidade de Coimbra
Por vezes, alguns pais colocam nos ombros dos filhos os sonhos que não conseguiram realizar.
Continua.
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