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Flores de Outono
Cores de outono, suaves e doces
Dos amarelos aos castanhos e aos roxos
As árvores ficam sem rostos
Despidas e nuas no frio inverno
Os seus braços esguios espantam o frio
Bonitas e límpidas águas correm no rio
As geadas congelam o vento, que não floriu
As manhãs brancas são perfume, que sorriu
Já ninguém lava a roupa no brilho das águas, que correm a fio
As aves fazem acrobacias nos ares aquecidos pelo sol
Há uma paleta de cores na sombra de um assobio
O outono tem um sol muito fugidio
Aparece, desaparece, volta a aparecer, vai se embora sem nada dizer
Quem o quiser apanhar tem de estar atento, mas não o consegue prender
A qualquer momento, foge, vai-se deitar com o vento
Cada vez deita-se mais cedo, gosta muito do sossego
Do escuro não tem medo, quer ficar no seu aconchego
Nestes dias de chuva, de vento e frio cinzento
Em que para enfrentar o mau tempo, é preciso muito talento
Soltar as amarras do vento, pôr as nuvens em movimento
Aparar com as duas mãos as suas prateadas lágrimas
Para, a todos dar de beber e o mundo ver viver
A Água é um tesouro, é ouro a cair do céu.
José Silva Costa
Chuva de estrelas!
Do céu caíam lágrimas
Na noite estrelada
Os teus olhos eram rosas perfumadas
Na noite iluminada, tu eras a estrela
Nos teus rubros lábios rolavam cerejas
Atraentes, deliciosas, desejadas
Quanto mais as beijava
Mais crescia o desejo
Que encantadores beijos!
Na frescura da ardente boca
A saciarem o fogo da Lua-cheia
Mas, quanto mais te beijava
Com mais fome ficava
Nada conseguia apagar aquele calor
Nem a noite fria, nem a água que, no rio, corria
Foi a noite mais curta!
Quando o sol nasceu
Ainda da tua boca
Água doce corria
Por que razão é que não há
Chuva de estrelas, todos os dias?
Para dormirmos nos beijos um do outro
Até o sol nos acordar
Para começarmos, de novo, a namorar
E passar o dia no doce teu olhar
Até a lua nos voltar a abraçar.
José Silva Costa
As mazelas da guerra
Continuação
“Morrer de sede”
Nas muitas operações em que participámos, numa, ao contrário do que nos tinha acontecido antes, passámos um dia sem encontrar um único rio, o que fez com que começássemos a ficar desidratados
Pelo rádio, pedimos para nos irem indicar onde a sede saciar, quando o helicóptero fez um círculo por cima de nós e seguiu em direção ao rio, que nem estava muito longe, nós é que não sabíamos, todos correram e atiraram-se ao rio, parecendo um rebanho de ovelhas, em agosto
Alguns nem utilizaram o copo do cantil, beberam diretamente do rio!
Noutra foi o contrário, passámos os dias a atravessar rios, a vau, e num deles, com o sol a dizer-nos adeus, levámos com uma trovoada, que a água nos chegou aos ossos
Não tivemos tempo de procurar um sítio para pernoitar, mal atravessámos o rio, já às escuras, montámos as tendas, pouco depois, apercebemo-nos que tínhamos como vizinhas as hienas cujos olhos, de noite, metem medo, e o cheiro é insuportável
Alguns, ainda se desviaram das vizinhas indesejáveis, mas tiveram dificuldade em montar as tendas, acabando por passarem a noite, embrulhados na manta, encostados aos troncos das árvores
Na minha tenda, já não me lembro se eramos 3 ou 4, optámos por tirar a roupa, porque é muito desagradável tentar dormir todo molhado, pendurámo-la dentro da tenda, de manhã, quando a vestimos, estava hirta, parecia que tinha estado no congelador
Foi uma noite para esquecer, pouco conseguimos dormir, as nossas vizinhas, acho que também não gostaram da vizinhança, porque passaram a noite a fazer barulho
Como estávamos todos tão cansados, o Capitão propôs que, em vez dos dois dias que tínhamos para voltar, o fizéssemos num dia, o que fez com que chegássemos todos “rebentados”
Tantos sacrifícios, tantos mortos, tantos estropiados, para nada!
Continua
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