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Amor & guerra (17)
O Firmino e a Bárbara decidiram viver juntos, não ambicionavam casar-se, queriam ser felizes e para isso não precisavam de papéis assinados
Tinham, era de tomar decisões sobre o seu futuro. O Firmino confessou-lhe que gostava de ter um filho ou uma filha dela. A Bárbara disse-lhe que também gostava de ter um bebé dele
Queriam vender a loja, quanto antes, porque a guerra não atava nem desatava. Quem é que sabia quando e como seria o seu fim?
Sempre com o rádio ligado, um meio de informação, que leva o som a todo o lado, para estar bem informada e ligada ao mundo
Sabia que mais tarde ou mais cedo, Portugal tinha de dar a independência às suas colónias
Disse ao Firmino que tinham de vender a loja e ir para a Europa, para a Metrópole, antes que a situação piorasse ainda mais, que tivessem de fugir à pressa. Queria evitar que a filha passasse por esse trauma
O Firmino queria evitar, a todo o custo, que saíssem de Angola. Tinha ali nascido, sempre ali tinha vivido, nunca tinha ido à Metrópole, e o que diriam os pais e o irmão!
A Mariana e o João apanharam um táxi para a estação ferroviária de Santa Apolónia. Depois do comboio iniciar a marcha, a Mariana começou rememorar o que o filho lhe tinha dito, e perguntou ao marido se ele sabia porque é que ele não andava. Só lhe tinha dito que tinha sido ferido na perna esquerda
João respondeu-lhe, que lhe tinham amputado a perna esquerda, abaixo do joelho, fora o que lhe dissera, quando estavam abraçados
A Mariana começou a chorar e a perguntar porque é que não lhe tinham dito nada? O filho sem uma perna, e ela sem saber, devia ter desconfiado de ele estar na cadeira de rodas
O João abraçou-a, beijo-a, e disse-lhe que o filho não a quis enervar, porque como ela sofre do coração não queria que se enervasse, mas que não ficasse assim, porque vão mandar-lhe fazer uma prótese, e que quando o voltassem a ver já ele andava
Nada a consolava, dizia que tinha ficado sem o filho, desde que tinha ido para Lisboa, que tinham um neto e nem sequer sabiam que ele existia, tudo tão diferente do que era antigamente! Dantes os avós viam os netos crescer, e tomava conta deles enquanto os pais iam trabalhar. Agora, nem filhos, nem netos, todos iam para as grandes cidades e para França, estavam condenados a acabarem os últimos dias sozinhos
Os patrões da Miquelina agradeceram-lhe a visita e ficaram encantados com o Miguel, deram-lhes os parabéns por ter um filho muito bonito
Ficaram muito tristes e preocupados por terem amputado a perna do Carlos. Prometeram ajuda-los, arranjando emprego para o Carlos, assim que ele tivesse alta, porque tinham um amigo, que era diretor dum Banco, onde haveria um lugar para ele
A Miquelina agradeceu-lhes, não só o emprego para o Carlos mas também, o facto de os deixarem ficar lá em casa
Tinha boas notícias para o Carlos, quando, no dia seguinte, o fossem visitar.
Continua.
As mazelas da guerra
Continuação
“Morrer de sede”
Nas muitas operações em que participámos, numa, ao contrário do que nos tinha acontecido antes, passámos um dia sem encontrar um único rio, o que fez com que começássemos a ficar desidratados
Pelo rádio, pedimos para nos irem indicar onde a sede saciar, quando o helicóptero fez um círculo por cima de nós e seguiu em direção ao rio, que nem estava muito longe, nós é que não sabíamos, todos correram e atiraram-se ao rio, parecendo um rebanho de ovelhas, em agosto
Alguns nem utilizaram o copo do cantil, beberam diretamente do rio!
Noutra foi o contrário, passámos os dias a atravessar rios, a vau, e num deles, com o sol a dizer-nos adeus, levámos com uma trovoada, que a água nos chegou aos ossos
Não tivemos tempo de procurar um sítio para pernoitar, mal atravessámos o rio, já às escuras, montámos as tendas, pouco depois, apercebemo-nos que tínhamos como vizinhas as hienas cujos olhos, de noite, metem medo, e o cheiro é insuportável
Alguns, ainda se desviaram das vizinhas indesejáveis, mas tiveram dificuldade em montar as tendas, acabando por passarem a noite, embrulhados na manta, encostados aos troncos das árvores
Na minha tenda, já não me lembro se eramos 3 ou 4, optámos por tirar a roupa, porque é muito desagradável tentar dormir todo molhado, pendurámo-la dentro da tenda, de manhã, quando a vestimos, estava hirta, parecia que tinha estado no congelador
Foi uma noite para esquecer, pouco conseguimos dormir, as nossas vizinhas, acho que também não gostaram da vizinhança, porque passaram a noite a fazer barulho
Como estávamos todos tão cansados, o Capitão propôs que, em vez dos dois dias que tínhamos para voltar, o fizéssemos num dia, o que fez com que chegássemos todos “rebentados”
Tantos sacrifícios, tantos mortos, tantos estropiados, para nada!
Continua
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