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Amor & guerra (27)

por cheia, em 27.05.21

Amor e guerra (27)

Depois do inesquecível primeiro de Maio de 1974, os trabalhadores ganharam força, por uma vez, conseguiram desequilibrar o prato da balança a seu favor

Criaram comissões de trabalhadores, e os sindicatos exigiram melhores condições de trabalho e melhores renumerações, conseguindo bons aumentos de ordenado, o que fez com que o poder de compra ultrapassasse, em muito, a produção

As importações subiram em flecha, não havia supermercados, alguns bens de consumo escasseavam, nos talhos, a quem pedisse por favor, arranjavam meio frango, enquanto havia

Foi sol de pouca dura! Mas foi um tempo em que todos se sentiam gente

Foi uma primavera, onde todo o país floriu, havia uma alegria contagiante, foi como se tivéssemos saído da prisão

Em Luanda, as coisas iam de mal a pior: raptos, mortos, tiroteios, roubos

A Bárbara já tinha pedido ao Firmino para ter muito cuidado. Mas, ele continuava a dizer que tinha nascido em Luanda, que conhecia muito bem a cidade, que não tinha receio de nada

Parecia que ainda não tinha percebido, que tudo tinha mudado, que quem sempre tinha sido mandado, já não queria ser criado, sentia que a hora de mandar tinha chegado

Em contrapartida o Carlos estava muito feliz, por ter ao seu lado a mulher e o filho, de quem tanto gostava e que tanto apoio lhe davam

 Estava muito contente com o novo emprego, ainda ficou mais, quando os sindicatos dos bancários conseguiram um aumento de dois mil escudos mensais. É caso para dizer que quem está ao pé do lume é que se aquece

Não havia um sistema de saúde, cada grupo profissional tinha o seu apoio médico:

Casas do povo, para os trabalhadores rurais, caixas dos pescadores, para os pescadores, para os outros havia caixas de previdência

As seguradoras tinham postos médicos, para atenderem os que tinham seguros de acidentes de trabalho

Depois do 25 de Abril, o sindicato dos bancários do sul e ilhas, que já tinha um posto médico, com especialidades escassas nos consultórios privados, como oftalmologia e médicos dentistas, que, nos consultórios, para se conseguir uma consulta, se tinha de meter uma cunha à empregada, que geria as marcações

Por isso, o Carlos sentia-se um privilegiado, no meio de tanta miséria, por todo o lado

Vivia-se um clima de reivindicações, depois de tanto tempo sem liberdade, todos queriam melhores condições de vida

Ocupavam-se casas devolutas, e o sindicato dos bancários ocupou um palacete, na rua Marquês de Fronteira, onde instalou um centro clínico

Foram dias loucos, difíceis de descrever, que, nem quem passou por eles, os consegue entender

Em Luanda, o Firmino saiu para ir visitar os clientes, como fazia todos os dias, mas não voltou para casa, passaram dois dias e a família não sabiam nada dele

Estavam, todos, muito preocupados temendo o pior, desde que se começou a falar na independência de Angola, que a cidade se tornou num barril de pólvora, onde tudo podia acontecer.

Continua.

 

 

  

 

 

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publicado às 07:55

Novo ano

por cheia, em 09.10.20

Mazelas da Guerra

Continuação

 

Novo Ano

O ano de 1970 começa com nuvens muito negras. Tinha chegado aos ouvidos do Comandante de Batalhão, de que, na nossa Companhia, tinham brincado com a religião

Punidos com 5 e 10 dias de prisão, para Capitão e Furriel Vagomestre, respetivamente, por terem brincado com a religião

Tiveram de abandonar a Companhia, tendo a substituição recaído, no caso do Capitão, na escolha de um Capitão já a caminhar para a reforma, que estava a poucos meses de acabar a comissão

Foi um grande choque, já nos tínhamos esquecido do que tinha acontecido

Penso que a escolha, daquele Capitão, teve a ver com o facto de dentro de poucos meses deixarmos aquele acampamento, para irmos para o centro de Angola

Ainda bem que escolheram um militar com muita experiência, porque a viagem, do Norte para Luanda, foi muito atribulada

Em Maquela do Zombo e na fronteira fazia-se muito contrabando

As lojas vendiam de tudo, desde porcelanas chinesas, toalhas de mesa bordadas, artesanato em madeira e marfim, até um sem número de outro objetos, que podíamos comprar, para oferecer às nossas mães, mulheres, namoradas

Não estávamos sensibilizados para o tráfico do marfim, nem para o extermínio dos elefantes, quase todos comprámos pulseiras em marfim, para além de outras peças em marfim e madeira, para oferecermos às nossas amadas

Poucos dias antes da Páscoa, recebemos ordens para nos prepararmos para seguir para Lunada. Sei que foi pela Páscoa, porque no domingo de Páscoa, fui com outros camaradas conhecer a bonita ilha do Mussulo, e comprámos uma melancia

Aproximava-se o dia da partida, tínhamos de levar tudo o que pertencia à Companhia, para isso tinham sido alugados 17 camiões civis

Feitas as contas ao combustível que deveríamos ter utilizado, tínhamos 1.000 litros de gasolina a mais, porque não fizemos tantas operações, quantos os relatórios, foram queimados

Depois de tudo estar carregado, partimos rumo a Maquela do Zombo, primeira paragem obrigatória

Mal parámos, fomos rodeados pela Pide, queriam ver as nossas malas, para verem se levava-mos contrabando

Mas, o Capitão não autorizou que abrissem nenhuma mala, dando ordem para seguirmos para Carmona, onde íamos almoçar

Chegados a Carmona, outra vez a Pide, para verem as malas

O Capitão, que já devia saber as que podiam ser abertas, autorizou que abrissem uma ou duas

Como, daquela cidade, tínhamos duas estradas para chegar a Lunda, uma considerada segura e outra onde poderíamos sofrer emboscadas, que foi a escolhida pelo Capitão, não sei se por ordem do Quartel-General

Assim, antes de irmos almoçar, avisou todos os condutores civis, por onde seguiríamos

Depois do almoço ficámos a saber que alguns condutores já tinham seguido pela outra estrada, fazendo com que o Capitão tivesse ficado muito preocupado, por ter deixado que a coluna se tivesse dividido em duas.

 

Continua 

 

 

 

 

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publicado às 07:59

Bebes

por cheia, em 18.05.20

 

Bebes a 30 mil euros

 

O Covid19 a todos tem incomodado

Ninguém lhe passou ao lado!

Transformou o mundo em prisão

De repente o céu fechou

Não por umas horas ou dias

Mas por meses!

Muitos estavam em trânsito

Ficaram impedidos de voltar para casa

Só o poderão fazer, quando os aviões derem à asa

Neste invisível turbilhão

Cerca de uma centena de bebes

Nascidos na Ucrânia, ficaram à espera

Que os aviões voltem a voar

Que os comboios voltem a andar

Que os carros possam, as fronteiras, atravessar

A Ucrânia, devido ainda às ondas de choque

Da desagregação da antiga URSS

Tornou-se num grande exportador de bebes

As ucranianas alugam as sus barrigas, durante 9 meses, por 15 mil euros

Os outros 15 mil são para as clinicas

Onde os bebes esperam pelos seus pais

Com este vírus ficaram retidos

Impedidos de irem para os seus lares

Receberem o carinho de que tanto necessitam

Para um crescimento feliz

Permanecem nos seus berços, alinhados

Sem a distância recomendada, para evitar a contaminação

Mais parecendo uma linha de montagem, do que um berçário

Não sei se as clinicas vão exigir juros

Devido ao atraso na entrega

Enquanto as suas futuras famílias desesperam

Os bebes vão crescendo na espera

De que nasça um risonho dia.

José Silva Costa

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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publicado às 08:51


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