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Amor & Guerra (38)
Carlos estava arrasado, tinha sido um dia infernal: primeiro o reencontro com a Bárbara, de quem não esperava, depois de tantos anos, palavras tão agressivas, mostrando-lhe que a tinha abandonado, prenha duma filha dele, o que mais tinha mexido com ele. Como é que nunca tinha pensado nisso
A seguir foram as acusações do filho que, como era natural, se colocou ao lado da mãe Normalmente, os filhos têm um carinho muito especial para com as mães
Não tinha ficado a saber a opinião da filha, mas o facto de, pela primeira vez, o ter beijado, como filha, fê-lo sentir a responsabilidade de ter colocado aquele ser tão delicado, no mundo, e de nunca ter contribuído com o seu carinho, para o seu crescimento, nem se ter preocupado com a sua existência
Para terminar o mais longo e horrível dia da sua vida, nem o dia em que foi ferido e perdeu a perna tinha sido tão doloroso, ainda faltava convencer a Miquelina de que a culpa não tinha sido sua
Começou por lhe dizer, que na guerra tudo era diferente, que se esqueciam que eram gente, que praticavam coisas horríveis, que os acompanhavam para sempre, e que quando sobreviviam se arrependiam, mas carregavam as atrocidades, que tinham praticado, pela vida fora, até à morte. Era por isso, que nunca falavam do que se tinha passado, mesmo que muito questionados, por todos, tinham receio da opinião pública e da condenação dos pais, das mulheres, dos filhos, dos netos
Já lhes bastavam os remorsos do que tinham feito, de nunca mais terem tio um minuto de sossego, o que levava muitos ao desespero, fazendo com que ficassem incapazes para arranjarem emprego, só lhes restava a auréola de Antigos Combatentes
A Miquelina, depois de ouvir todo aquele discurso, concordou com ele, dizendo que a guerra tinha sido o maior horror que tinha acontecido, todos tinha sofrido com a chacina, por todos praticada, mas isso não apagava o facto de a ter traído e nunca ter dito nada, se a Bárbara não tivesse engravidado, nunca viria a saber, portanto não o podia perdoar
O Carlos pediu-lhe para não decidir sem ponderar muito bem, porque tinham sido muito felizes, durante muitos anos, e tinham um lindo filho, para acabarem de criar
A Miquelina lembrou-lhe, que ela tinha um filho, mas ele tinha dois, e o melhor seria pedir-lhes para o perdoarem, porque ela queria o divórcio
O Carlos continuou a pedir-lhe para o perdoar, porque a culpa não tinha sido dele, mas da Bárbara. Ela, para acabar com a conversa, perguntou-lhe se tivesse sido ela a traí-lo, se lhe perdoava. Ele não respondeu, e cada um foi para seu lado
O Migue disse à Sara, que a mãe se queria divorciar, fazendo com que ela se sentisse, ainda, mais triste por ter contribuído para aquela separação, quando o que queria era que todos fossem felizes. Estava muito preocupada, principalmente, com o pai.
Continua.
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