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Miguel Torga
Coimbra,6 de Abril de 1943
VOZ
Era o céu que sorria nos seus olhos.
Eram junquilhos trémulos aos olhos,
As flores do rosto que eu beijava.
Fresca e gratuita como um hino à lua,
Nua,
Era um mundo de paz que se entregava.
Oh! Perfume da Vida! - gritei eu.
Oh! Seara de trigo por abrir,
Quem te fez todo o pão da minha fome?
Mas os seus braços, longos e contentes,
Só responderam, quentes:
- Come
III
Sete Motivos do Corpo
Com a paixão desconcerta o pensamento
E ama. É física a profundidade.
Inspira Vénus o desejo ardente
Para nos mover à última ansiedade.
Num ser unívoco o amor enleia
Os corpos nus. Na área da magia
Rompe a brancura; e cresce, ao tempo alheia,
A onda do prazer, causa da vida.
Segura do infinito a carne aberta
Atrai o sangue que corre para a verdade
Procurando na jóia mais secreta
Do corpo a inicial da eternidade.
Um sol em agonia a carne gera
E vai o espasmo ao mais fundo da alma
Buscar o grito casto que se enterra
Na terra fêmea e faz cair a máscara.
Langues e lívidas esfolham-se então nos corpos
Estrelas caídas do trono da loucura.
O sangue enrosca-se e faz sair dos poros
Um fumo de almas que mastigam nuvens.
( Natália Correia)
Primavera
Chegas-te, pela manhã, airosa, radiante
acompanhada do brilho das estrelas
Manhã radiosa, com a lua como amante, brilhante,
Um perfume de mil uma flores, de mil e uma cores, sem rancores!
Trazes água, sol, calor, amor!
Fazes a natureza desabrochar.
As aves acordaram num frenesim, com trinados melódicos, de encantar
Por todo o lado, procuram companheiras e companheiros
Querem aninhar, acasalar, tudo está a fervilhar!
A madrugada acordou, ensonada, cansada,
escutou a chilreada da passarada
Esfregou os olhos, beijou o sol e alua
As pessoas estavam felizes, caminhavam na rua
Beijavam as flores
Do modo como se beijam os namorados!
Nascia um novo dia!
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