Voltar ao topo | Alojamento: Blogs do SAPO
Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
A linha
Minha primavera perfumada
O teu perfume, os meus olhos encanta
Na lonjura da grande estrada
Toda a beleza que a ladeia está cansada
De ver tanta gente tão apressada
Sem que tenha tempo para parar um segundo
Sentada na sua máquina voadora de prego a fundo
Conspurcando com gases e fumo toda a sua beleza
Sem cheirar nem olhar para a bonita Natureza
Nem na noite escura consegue esquecer tanta tristeza
Rasgaram-lhe as entranhas para construírem a autoestrada
Com a promessa de que os automobilistas lhe dedicariam uma grande paixão
Que diriam muito bem do seu perfumado chão
Que dava tão boas espigas douradas para fazer o saboroso pão
Agora, não consegue respirar, está coberta de alcatrão
Saem dos grandes centros populacionais para só pararem nas areias quentes
Como se o mar tivesse mais beleza que uma planície florida
Não têm tempo para apreciarem as melhores coisas da vida
Quem é que já apreciou um mar de espigas douradas, a ondularem ao vento e ao sol?
Como se fosse um grande mar de areia fina, onde o vento dorme e a perdiz aninha
Onde os filhotes ensina, como debulhar a dourada espiga, para uma vida digna
Com casa, pão, liberdade, sem stresse, nem pressa de chegar ao fim da linha
Soubéssemos nós, humanos, aprender com os pequenos seres, a viver
Sem ódios nem receios, que nos roubem o nosso quinhão, que nos comam o nosso pão
Seríamos muito mais felizes, viveríamos mais tranquilos, seríamos mais solidários
Não levamos nada, tudo deixaremos, nem mesmo a ilusão de que somos poderosos nos acompanhará.
José Silva Costa
Ventos do Sul
Ventos do Sul, pássaros azuis
O brilho do sol nascente
És trigo, és fogo, és gente
Na planície bem quente
Papoilas lançadas ao vento
São sangue, são semente
São beijos de um sonho contente
Rubros lábios gretados do vento suão
Mãos calejadas das foices
Faces rosadas e perfumadas como flores
Trigueira ceifeira de olhos castanhos
Cabelos pretos tapados com o lenço
Corpo dorido e cansado
Sonhando com o dia da adiafa
Espigas douradas reluzentes ao sol ardente
Que embalam os grãos que vão alimentar tanta gente
És perfume, és esperança, és pão
Festas de mastros pelo São João
Onde se canta e dança, para esquecer os duros trabalhos do campo
Planície dourada, bonita namorada da madrugada
Que dorme a sexta na sala de entrada
Quando a calma é demasiada.
José Silva Costa
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.