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A ditadura!

por cheia, em 06.04.24

Os negros anos da ditadura

                                                                     Reedição

Coadjuvada por uma cega censura

Tendo como braço armado a sanguinária PIDE

Auxiliada pelos informadores e os Legionários

Abençoada pela Igreja Católica

Que ao longo dos séculos tem estado, sempre, ao lado dos ditadores

Encobrindo e colaborando nos seus horrores

Onde os veneráveis eram os senhores doutores

O povo na miséria, amordaçado, barbaramente explorado

Por um ditador insensível, obcecado pelo ouro

Em vez de desenvolver o país, para bem do povo

No fim da segunda guerra mundial, viu-se pressionado e envergonhado

Teve receio que, com o movimento para a recuperação da Europa, fosse apeado

Tentou implementar um programa de alfabetização, mas não tinha professores, nem escolas

Criou os postos escolares, entregues a professoras-regentes, apenas com a quarta classe

Que só podiam casar com autorização do Ministro da Educação

A instrução Primária terminava aos doze anos, fosse qual fosse o ano escolar, que se tivesse

Como as escolas levavam tempo a construir, pediram para as famílias cederem casas, para serem utilizadas como escolas

Foi no Monte do Lobato, extremo Sul do Distrito de Beja, em outubro de 1951, com seis anos, acabados de fazer, que as letras e os algarismos comecei a aprender

Numa casa, onde, também, vivia a professora, numa sala com duas mesas e oito cadeiras, dos donos da casa

Só no ano seguinte, em fevereiro ou março, já não sei bem, é que a Câmara Municipal de Mértola mandou a mobília para a escola, transportada numa carroça

Só a terceira professora nomeada, para iniciar aquele posto escolar, aceitou o lugar

Não conseguiu mais do que uma dúzia de alunos, mesmo que tenha ido connosco, pelos campos e montes, dizendo que era obrigatório mandarem os filhos para a escola

As respostas foram sempre as mesmas, de que os filhos tinham de ajudar os pais, nos trabalhos do campo

No ano seguinte, não sei por que motivo, a escola mudou para o Monte da Corcha, acerca de 2 KM, para uma casa, mesmo ao lado da minha, onde conclui a instrução primária

Mais tarde, já eu não morava no Monte, porque assim que fiz a quarta classe, saí de casa dos meus país, para ir trabalhar, construíram uma escola, funcionou poucos anos, porque com o despovoamento do interior, todo o ensino foi deslocado para as sedes dos Municípios.

José Silva Costa

   

 

     

 

 

 

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publicado às 10:13

A ditadura!

por cheia, em 05.04.24

Os negros anos da ditadura

 

Coadjuvada por uma cega censura

Tendo como braço armado a sanguinária PIDE

Auxiliada pelos informadores e os Legionários

Abençoada pela Igreja Católica

Que ao longo dos séculos tem estado, sempre, ao lado dos ditadores

Encobrindo e colaborando nos seus horrores

Onde os veneráveis eram os senhores doutores

O povo na miséria, amordaçado, barbaramente explorado

Por um ditador insensível, obcecado pelo ouro

Em vez de desenvolver o país, para bem do povo

No fim da segunda guerra mundial, viu-se pressionado e envergonhado

Teve receio que, com o movimento para a recuperação da Europa, fosse apeado

Tentou implementar um programa de alfabetização, mas não tinha professores, nem escolas

Criou os postos escolares, entregues a professoras-regentes, apenas com a quarta classe

Que só podiam casar com autorização do Ministro da Educação

A instrução Primária terminava aos doze anos, fosse qual fosse o ano escolar, que se tivesse

Como as escolas levavam tempo a construir, pediram para as famílias cederem casas, para serem utilizadas como escolas

Foi no Monte do Lobato, extremo Sul do Distrito de Beja, em outubro de 1951, com seis anos, acabados de fazer, que as letras e os algarismos comecei a aprender

Numa casa, onde, também, vivia a professora, numa sala com duas mesas e oito cadeiras, dos donos da casa

Só no ano seguinte, em fevereiro ou março, já não sei bem, é que a Câmara Municipal de Mértola mandou a mobília para a escola, transportada numa carroça

Só a terceira professora nomeada, para iniciar aquele posto escolar, aceitou o lugar

Não conseguiu mais do que uma dúzia de alunos, mesmo que tenha ido, connosco, pelos campos e montes, dizendo que era obrigatório mandarem os filhos para a escola

As respostas foram sempre as mesmas, de que os filhos tinham de ajudar os pais, nos trabalhos do campo

No ano seguinte, não sei por que motivo, a escola mudou para o Monte da Corcha, acerca de 2 KM, para uma casa, mesmo ao lado da minha, onde conclui a instrução primária

Mais tarde, já eu não morava no Monte, porque assim que fiz a quarta classe, saí de casa dos meus país, para ir trabalhar, construíram uma escola, funcionou poucos anos, porque com o despovoamento do interior, todo o ensino foi deslocado para as sedes dos Municípios.

José Silva Costa

   

 

     

 

 

 

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publicado às 07:50

" Os Flechas"

por cheia, em 22.03.24

A RTP tem vindo, nos seus noticiários, a divulgar notícias do Telejornal de há 50 anos. Hoje, a notícia de há 50 anos: é a condecoração de Flechas, pelo Governador de Angola.

No Umpulo, em Angola, em 1971,  quanto terminámos a nossa comissão de serviço,  fomos surpreendidos com panfletos da PIDE, no refeitório dos gradudados, da minha companhia, a aliciarem-nos, para ficarmos, em Angola, para darmos instrução aos Flechas.

Das muitas e boas regalias, sobressaía o vencimento de 8.000,00 escudos mensais. Já não me lembro, mas acho que o meu vencimento não chegava a 5.000,00, e tinhamos sido aumentados, nesse ou no ano anterior,  só os graduados,  já não havia dinheiro para aumentar as praças, o que fez, com razão,  que ouvíssemos " que fossemos sozinhos, para o mato"

Não conseguiram aliciar niguém, eramos contra a guerra e a favor da indepenência das colónias. Depois de passar à disponabilidade, o melhor que consegui foram  2.000,00 escudos mensais.  Mas, por dinheiro nenhum, coloburaria com a PIDE, já sabia das suas atrocidades, desde os 12 anos, quando fui para Lisboa.   

"Durante a Guerra do Ultramar Portuguesa, a PIDE - transformada na Direção-Geral de Segurança (DGS) em 1969 - era responsável pelas operações de recolha de informações estratégicas, investigação e ações clandestinas contra os movimentos guerrilheiros, em proveito das Forças Armadas e de segurança. Como tal foi decido criar uma força especial armada para auxílio e proteção dos agentes daquela polícia nas operações contra os guerrilheiros.

Os membros dos Flechas eram recrutados entre determinados grupos nativos, nomeadamente ex-guerrilheiros e membros da etnia bosquímane. Os bosquímanos eram exímios intérpretes de rastos e pistas deixadas no terreno pelo inimigo dada a sua experiência em perseguição de caça. Esses membros nativos eram enquadrados por oficiais do Exército e por agentes da PIDE e recebiam treino de forças especiais.

Com o decorrer da Guerra do Ultramar os Flechas revelaram-se uma das melhores forças antiguerrilha ao serviço de Portugal, indo progressivamente alargando o seu tipo de atuação. Se no início eram basicamente usados como guias e pisteiros dos agentes da PIDE, passaram posteriormente também a ser usados como forças de assalto em operações especiais. Pelo reconhecimento do seu elevado nível de eficácia, as próprias Forças Armadas passaram a solicitar frequentemente à PIDE o auxílio dos Flechas nas suas operações.

Algumas das operações frequentemente realizadas eram as chamadas "pseudo-terroristas", em que os Flechas, muitos deles ex-guerrilheiros, se disfarçavam de guerrilheiros para atacarem alvos que não podiam ser abertamente atacados por forças identificadas como portuguesas, como alvos em território estrangeiro e missões religiosas que auxiliavam terroristas.

Os Flechas atuaram sobretudo em Angola." 

 ( Wikipédia)

 

 

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publicado às 19:11

Cravos Vermelhos

por cheia, em 24.04.23

Liberdade!

Naquela radiosa e inesquecível madrugada o mundo floriu

Os portugueses, finalmente, conquistaram a Liberdade e o seu império caiu

O Movimento das Forças Armadas pôs fim a uma guerra de 13 anos

E, a uma ditadura de quase meio-século, que tanto os povos molestou

Que custaram muitas vidas, muitos estropiados, muita miséria e dor a todos os povos envolvidos

Foi uma Revolução recebida com muita alegria e muito festejada em todo o lado

E não era caso para menos, foi um farol para a Liberdade e, para alguns povos, um passo para a dignidade

Um acontecimento à escala mundial, cuja bandeira é um cravo vermelho

Uma Senhora, vendedeira de flores, teve a feliz inspiração de colocar um cravo vermelho no tapa-chamas de uma G3, que um soldado empunhava

Pode dizer-se que foi como que um pedido para que não utilizassem as armas

E tinha tanta razão, já tínhamos utilizado as armas durante tempo demasiado!

Todos os minutos que consigamos viver, com armas caladas, são minutos de grandes vitórias

Os que precisam da força das armas para atacarem os outros, sãos os que não têm a força da razão

Não foi assim tão fácil, depois dos cravos e das rosas vieram os espinhos!

Foi um parto difícil, ao longo de mais de um ano, mas deu ao Mundo meia dúzia de novos países

Que, depois de cinco séculos de colonização conseguiram a libertação

Nunca mais assistiremos a um primeiro de Maio como o de 1974

Uma festa para todos, ainda não tinha chegado sectarismo dos Partidos

As ruas e as praças de Lisboa foram pequenas, para acolherem tanta gente

Havia uma alegria radiante estampada nas rugas da martirizada gente

Não deixem que este dia caia no esquecimento, porque isso seria uma grande injustiça para quem deu a vida para que tenhamos Liberdade

Muitas e muitos pagaram com a vida, por terem desafiado o ditador, que tinha como braço armado a PIDE, capaz de toda a violência e de todo o terror.

 

José Silva Costa

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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publicado às 07:59

À espera de embarque

por cheia, em 27.11.20

As mazelas da guerra

Continuação

 

À espera de embarque

Na última semana que estivemos no Umpulo, a PIDE inundou as mesas do nosso refeitório com panfletos a aliciarem-nos para ingressarmos nos seus quadros, com o fim de darmos instrução aos flechas, mas ninguém aceitou tão tentadora oferta

Só reparei no vencimento: 8.000,00 angolares, podendo metade ficar na Metrópole, em escudos. Por dinheiro nenhum ficaria na PIDE, quando regressei tive de aceitar um emprego a ganhar 2.000 escudos

Desde que fui trabalhar para o lugar de frutas e hortaliças, que fiquei a saber o que a PIED fazia Todas as manhãs, alguns dos operários, da Imprensa Nacional, iam ao estabelecimento “ matar o bicho”, e nas noites em que eram visitados, de manhã, diziam-nos quantos é que tinham ido presos

Chegou o tão esperado dia de deixarmos o palco das operações e irmos para um local seguro, onde aguardaríamos o embarque, para regressarmos à Metrópole

Dissemos adeus ao Umpulo, com a alegria estampada nos rostos de quem ia para o paraíso

Voltámos para Nova Lisboa, mas a ansiedade voltou, porque nunca mais chegava a ordem para irmos para Luanda, para embarcarmos, para voltarmos para as nossas casas

Cada um matava os dias como podia, ou fazendo o que mais gostava, como sempre, o futebol tinha muitos adeptos, fazendo com que muitos fossem, todas as noites, jogar futebol de cinco, no Pavilhão Desportivo da Cidade

Uma manhã, quando cheguei ao quartel, informaram-me do horrível acidente, da noite anterior, em que um condutor enfiou um jeep debaixo de um Unimog, também da nossa Companhia, que estava estacionado fora da faixa de rodagem, avariado

O condutor, felizmente, mais uma vez, saiu ileso, já tinha acionado uma mina, tendo sido projetado a 10 ou 15 metros, sem qualquer beliscadura. Mas, naquela noite, o Torres e o Ramos morreram de imediato

O Torres, como era conhecido, por ser da região de Torres Vedras, o nosso melhor futebolista e o Furriel Ramos não resistiram ao embate. Mais 2 mortes num acidente!

Ainda que de noite, mas numa reta, como é que o condutor foi enfiar o jeep na outra viatura, parada, na berma?

Estaria o condutor alcoolizado! Mal dito álcool, que tanto foi usado, para nos anestesiarem.

Do Torres, pouco sei, mas do Ramos, sei que era filho de emigrantes, em França, era funcionário da Câmara Municipal de Lisboa, estava tão contente, por ter um emprego à sua espera, enquanto muitos de nós tínhamos à nossa espera os nossos familiares

Finalmente chegou o tão esperado dia, saímos de Nova Lisboa para Luanda, onde nos esperava o barco Vera Cruz, foi uma alegria imensa!

Foi ao final do dia, mal o barco se fez ao mar, a Companhia reuniu para o Furriel Enfermeiro nos informar que depois do jantar, nos iria dar vários comprimidos, que nos atordoariam durante 24 horas, mas que era indispensável que os tomássemos, para prevenir futuras doenças, foram 24 horas de agonia, mas deu resultado, durante alguns anos nem um constipado

Dias depois, o barco atracou no Funchal, Ilha da Madeira, foi a primeira saída de passageiros

Os camaradas madeirenses prometeram levar-nos a comer filetes de peixe-espada preto, uma delícia! Depois cada um foi para seu lado, aproveitei para ir ver um pequeno aquário, não muito longe do cais, tive receio de ir para longe, porque tínhamos poucas horas para estar em terra

Mal acabaram de descarregar as bagagens, seguimos viagem, chegámos ao Tejo, numa madrugada, ficámos ao largo. Não consegui dormir, quando amanheceu, começámos a ver a cidade: estava linda, nunca a vira assim!

Assim que o barco atracou, saímos, abraçámos os familiares. E pouco depois fomos transportados para o quartel.

Já não me lembro o que fui lá fazer, os soldados, acho que foram entregar a farda, a minha, como a tinha pago, fiquei com ela, a minha filha mais velha é que acabou com ela, gostava de vestir o blusão e colocar a boina.

Não sei se foi nessa ocasião que nos entregaram a Caderneta Militar. Lembro-me de nos terem dado uma morada para, no caso de adoecermos durante um determinado tempo, nos dirigirmos.

Foi um dia de muitas emoções, tão desejado, despedimo-nos cheios de alegria e felicidade.

 

 

Continua

 

 

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publicado às 08:03

Novo ano

por cheia, em 09.10.20

Mazelas da Guerra

Continuação

 

Novo Ano

O ano de 1970 começa com nuvens muito negras. Tinha chegado aos ouvidos do Comandante de Batalhão, de que, na nossa Companhia, tinham brincado com a religião

Punidos com 5 e 10 dias de prisão, para Capitão e Furriel Vagomestre, respetivamente, por terem brincado com a religião

Tiveram de abandonar a Companhia, tendo a substituição recaído, no caso do Capitão, na escolha de um Capitão já a caminhar para a reforma, que estava a poucos meses de acabar a comissão

Foi um grande choque, já nos tínhamos esquecido do que tinha acontecido

Penso que a escolha, daquele Capitão, teve a ver com o facto de dentro de poucos meses deixarmos aquele acampamento, para irmos para o centro de Angola

Ainda bem que escolheram um militar com muita experiência, porque a viagem, do Norte para Luanda, foi muito atribulada

Em Maquela do Zombo e na fronteira fazia-se muito contrabando

As lojas vendiam de tudo, desde porcelanas chinesas, toalhas de mesa bordadas, artesanato em madeira e marfim, até um sem número de outro objetos, que podíamos comprar, para oferecer às nossas mães, mulheres, namoradas

Não estávamos sensibilizados para o tráfico do marfim, nem para o extermínio dos elefantes, quase todos comprámos pulseiras em marfim, para além de outras peças em marfim e madeira, para oferecermos às nossas amadas

Poucos dias antes da Páscoa, recebemos ordens para nos prepararmos para seguir para Lunada. Sei que foi pela Páscoa, porque no domingo de Páscoa, fui com outros camaradas conhecer a bonita ilha do Mussulo, e comprámos uma melancia

Aproximava-se o dia da partida, tínhamos de levar tudo o que pertencia à Companhia, para isso tinham sido alugados 17 camiões civis

Feitas as contas ao combustível que deveríamos ter utilizado, tínhamos 1.000 litros de gasolina a mais, porque não fizemos tantas operações, quantos os relatórios, foram queimados

Depois de tudo estar carregado, partimos rumo a Maquela do Zombo, primeira paragem obrigatória

Mal parámos, fomos rodeados pela Pide, queriam ver as nossas malas, para verem se levava-mos contrabando

Mas, o Capitão não autorizou que abrissem nenhuma mala, dando ordem para seguirmos para Carmona, onde íamos almoçar

Chegados a Carmona, outra vez a Pide, para verem as malas

O Capitão, que já devia saber as que podiam ser abertas, autorizou que abrissem uma ou duas

Como, daquela cidade, tínhamos duas estradas para chegar a Lunda, uma considerada segura e outra onde poderíamos sofrer emboscadas, que foi a escolhida pelo Capitão, não sei se por ordem do Quartel-General

Assim, antes de irmos almoçar, avisou todos os condutores civis, por onde seguiríamos

Depois do almoço ficámos a saber que alguns condutores já tinham seguido pela outra estrada, fazendo com que o Capitão tivesse ficado muito preocupado, por ter deixado que a coluna se tivesse dividido em duas.

 

Continua 

 

 

 

 

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publicado às 07:59


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