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Ventos do Sul
Ventos do Sul, pássaros azuis
O brilho do sol nascente
És trigo, és fogo, és gente
Na planície bem quente
Papoilas lançadas ao vento
São sangue, são semente
São beijos de um sonho contente
Rubros lábios gretados do vento suão
Mãos calejadas das foices
Faces rosadas e perfumadas como flores
Trigueira ceifeira de olhos castanhos
Cabelos pretos tapados com o lenço
Corpo dorido e cansado
Sonhando com o dia da adiafa
Espigas douradas reluzentes ao sol ardente
Que embalam os grãos que vão alimentar tanta gente
És perfume, és esperança, és pão
Festas de mastros pelo São João
Onde se canta e dança, para esquecer os duros trabalhos do campo
Planície dourada, bonita namorada da madrugada
Que dorme a sexta na sala de entrada
Quando a calma é demasiada.
José Silva Costa
Os jardins
Nas avenidas das árvores
Passeias a beleza da Natureza
Admiras toda a sua beleza
Cada canteiro, cada árvore, uma certeza
Que o perfume tudo embeleza
Que harmonia, sem tristeza!
As árvores, os pássaros, as flores, na sua dureza
De uma vida parada na incerteza
Sem saberem se vai chover, se vai nevar, se vão viver na pobreza
Cada visitante tem no seu olhar uma delicadeza
Para cada cravo, para cada rosa uma fineza
Os idosos procuram os bancos, para descansarem da moleza
Onde tentam voltar a ser crianças e espantarem a tristeza
Enquanto as crianças, nas suas brincadeiras, exibem a esperteza
Os jardins são ponto de encontro de todos os encontros
São as casas dos pombos, dos namorados, dos abandonados
São palcos de alegria, de tristeza, de beleza e de ventos agitados
O que lhes vale é serem, pelos jardineiros, tão bem tratados
Os seus perfumes e flores são, por todos, muito admirados
São pelas plantas, pelos pássaros, crianças, mulheres e homens muito estimados
Os jardins, públicos, são um chão democrático
Onde todos podemos descansar das fadigas, das alegrias, do doce amar.
José Silva Costa
Frio!
No vazio do frio
A lua sorriu
Unimos os nossos corpos
Galgamos os sótãos
Acasalámos os sonhos
Aquecemos o futuro
Na ilusão de uma lareira
Sentados numa cadeira
Dormimos a noite inteira
Como se estivéssemos nas asas do vento
Tudo tão calmo, reconfortante, suave
Os nossos corpos estavam leves como penas
Rodopiamos no espaço como se fossemos pássaros
Foi um sonho, só podia ser!
Para acordarmos ao entardecer
Antes da noite cair
Abraçados, sempre a sorrir
Como se séculos tivessem passado
Beijamo-nos, e o encanto ficou acordado.
José Silva Costa
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