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Amor & guerra (16)
Quando chegaram a Santa Apolónia, em Lisboa, apanharam um táxi, e foram os quatro para o hospital, para, finalmente, verem como estava o Carlos
Assim que chegaram ao hospital, a Mequilina pediu ao plantão para falar com o enfermeiro
Disse-lhe que eram as visitas do soldado número 500, Carlos. Era a primeira visita, e que vinham acompanhados do filho, que ele ainda não conhecia, se poderia arranjar um sítio onde o pudessem ver, porque o menino não podia entrar na enfermaria
Foram encaminhados para uma salínha, onde esperaram pelo Carlos
Pouco depois trouxeram o Carlos, um maqueiro empurrava a cadeira de rodas
A mãe agarrou-se a ele, a chorar, a aperta-lo como se quisesse pegar-lhe ao colo
Ficaram minutos agarrados, sem dizerem palavra, até que ela lhe perguntou por que é que não andava, e ele respondeu-lhe que tinha sido ferido na perna esquerda
A seguir o pai abraçou-o e beijou-o, trocaram poucas palavras. Por último a Mequilina colocou-lhe o filho no colo, ficaram os três abraçados e a beijarem-se. O Carlos estava muito feliz por, finalmente, estar a abraçar o filho e a namorada. Aproveitou para lhe dizer, baixinho, que lhe tinham amputado, à perna esquerda, abaixo do joelho, e que os médicos lhe tinham garantido, que com uma prótese ficaria a andar bem
Carlos sugeriu-lhe que fosse mostrar o filho, aos antigos patrões dela, até podia ser que os deixassem lá dormir, para poder ir visita-lo, no dia seguinte, porque, ainda, tinham muito para conversar, e estariam mais à vontade, sem a presença dos pais dele
Terminada a visita, despediram-se e saíram. Cá fora, a Mequilina informou os futuros sogros, que não os acompanharia no regresso a Braga, porque ia visitar os seus antigos patrões
A Marina mostrou-se surpreendida, mas a Mequilina disse-lhe que tinha sido uma sugestão do Carlos, para poderem visita-lo no dia seguinte
Pela primeira vez despediram-se do neto, já estavam completamente embebecidos por terem um neto. Ao despedirem-se da Mequilina , prometeram verem-se em breve, queriam ver o neto crescer
Também chegou a hora da Bárbara ver o Firmino entrar-lhe pela porta dentro, com um bonito ramo de rosas, para lhe oferecer
Com os rostos banhados de felicidade, ficaram, tempo sem fim, a beijarem-se, com os corpos unidos, como se fosse só um
Antes que ela lhe perguntasse, ele apressou-se a explicar-lhe, quanto tinha sido difícil os pais aceitarem a sua decisão. Quanto à mobilidade, nem valia a pena falar, estradas esburacadas, minadas, troços só com escolta militar, dias e dias para fazer meia dúzia de quilómetros: um inferno!
Continua
Amor & guerra (15)
A Bárbara estava desesperada, já receava que tivesse acontecido com o Firmino, o mesmo que aconteceu com o Carlos, que não voltasse a vê-lo!
Seria preciso tanto tempo para ir, a Luanda, dizer aos pais, que tinha encontrado a mulher com quem sempre sonhara e queria viver!
Por momentos esqueceu as nuvens negras que a afligiam, pegou na sua linda Sara e beijou-a
como se fosse a primeira vez que a via, como se nunca tivesse reparado que era linda!
Aproximava-se o dia de poderem visitar o Carlos, pais, namorada e filho tiveram de apanhar o comboio, de véspera
Os pais apanharam a camioneta para Braga, onde entraram no comboio, para Santa Apolónia, em Lisboa
A namorada e o filho também entraram em Braga, e foram para a mesma carruagem, onde já estavam os pais do Carlos
Mal o comboio iniciou a marcha começaram as conversas entre os quatro. O Miguel, muito falador, nada envergonhado, começou a falar com a avó, sem que nenhum soubesse que se tratava de familiares
Depois foi a vez, da mãe entrar na conversa, a mãe do Carlos perguntou-lhe pra onde iam
Miquelina respondeu-lhe que iam para Lisboa, ver o namorado, que tinha vindo ferido, de Angola
A mãe do Carlos disse que também iam ver o filho, o Carlos, que também foi ferido em Angola
A Miquelina achou muita coincidência e disse que o namorado também se chamava Carlos, e que era de Vieira do Minho. Abriu a carteira e mostrou a fotografia, e a futura sogra disse que aquele era o filho dela. O marido disse: “o nosso filho!”
Miquelina disse: “ muito prazer em conhecê-los, o Miguel é vosso neto”
Mariana disse que o filho nunca lhe tinha falado em namoradas, quanto mais em netos
João disse que ele era tal e qual o Carlos, quando era da idade dele
Mariana não queria admitir que a Miquelina fosse namorada do filho, nem que o Miguel fosse seu neto, e perguntou à Miquelina, como é que o Miguel era seu neto, se o filho já tinha ido para Angola, há tanto tempo?´
Miquelina disse-lhe que tinha sido no último dia, antes de embarcar
Mariana disse que eram umas desavergonhadas, por fazerem isso, sem serem casadas, e que só acreditava, quando ouvisse da boca do filho
João tentou acalmá-la, dizendo se não via que ele era muito parecido com o pai!
Mas, Mariana não queria saber disso, não admitia que o filho tivesse tido relações com aquela rapariga, antes do casamento, e perguntou-lhe onde é se tinham conhecido
Miquelina disse-lhe que se tinham conhecido em Lisboa, quando era criada de servir e ele trabalhava nas obras, e que já namoravam há muitos anos
Mariana disse que o ela tinha feito era “prendê-lo” antes de ele embarcar. Mas, lá na terra havia raparigas que estavam interessadas nele, raparigas que sabiam trabalhar no campo, muito diferentes das da cidade, que não sabiam fazer nada
Miquelina tentou defender-se, dizendo que a culpa não tinha sido dela, que tudo fez para que não tivessem relações sexuais, antes do casamento. Mas, no último momento, tanto a pressionou, e como estava tão desesperado por ir para a guerra, que ela acabou por ceder
A conversa fez com que nem dessem pela passagem do tempo. Depois, acabaram por cada um adormecer para seu lado. Miquelina apertou o filho contra o peito, estava com medo que alguém lhe fizesse mal, mesmo a dormir ninguém lho conseguia tirar dos braços
Quando chegaram a Lisboa, parecia que a Mariana já estava mais conformada com a escolha do filho, mas não perdoava àquela rapariga, o facto de lhe ter tirado o seu filhinho. Ainda tinha de lhe perguntar, como é que ele se tinha deixado enganar, por aquela rapariga!
Continua
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