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O amor
O teu jardim tem bonitas rosas!
Mas tu és a mais bela e perfumada
Quem me dera ser o jardineiro
Do teu bonito canteiro
Poder tratar delas o dia inteiro
Para ficarem ainda mais belas
Na esperança de que ficasses muito agradada
Sei que nos separa uma grande escada
Mas, se conseguisse abrir o teu coração
Poderia ser que descesses do teu pedestal
Me viesses cumprimentar: apertar a mão
Para sentires o bater do meu coração
Ver nos meus olhos quanto te amo
Dizer-te porque passo os dias a espreitar as tuas rosas
Como me alimento, apenas, do seu perfume
Tudo, só para ver se te vejo
Se advinhas o meu desejo
Ver de perto os teus olhos da cor do mel
Esperar o tempo que for necessário
Para um dia contigo namorar
Beijar os teus rubros lábios
Poder ficar, para sempre, contigo
José Silva Costa
Fevereiro/Março
Um sol radioso
Aqueceste o corpo
Mas não iluminaste o rosto
Não pudemos ver o sol-posto
Um mês e outro
Doze, um ano!
Adeus, até para o ano.
Vais chegar
Sejas bem-vindo
Não vamos festejar
Já basta lembrar
Que foste tu a começar
E, nós com a esperança
Que quando regressasses
Já te pudéssemos ir esperar
Contigo ir passear, correr, namorar
Mas não! Continuamos, às casas, atados
Para bem de todos, escondemos o rosto
Não estranhes, não te beijar
Fica para quando isto passar
Não te sintas abandonado
Sabes que temos de ter cuidado
Sorte a tua, por serem só 31 dias
Ninguém sabe quando é que as ruas deixarão de estar nuas
Estão tão tristes, por não saberem o que se passa!
Cada vez que um par de sapatos as beijam
Choram de alegria
Mas a rua continua fria!.
José Silva Costa
A Chuva
São correntes de ouro a caírem do céu
Neste Abril chuvoso
Tão limpas como o amoroso
Quando as vimos contra os raios solares
São vida para plantas e animais
A Natureza está agradecida
Por tanta quantidade de água
Não posso ir ver se o rio vai alteroso
Mas, bem a vejo
Da minha janela
Quando a chuva passa
A espreguiçar-se, a sorrir, a esfregar os olhos
A beijar o vento de tanto contentamento
Abraçada ao sol, como se estivessem a combinar
Tudo fazerem germinar
Para todos alimentar
É na Primavera
Que os cereais costumam namorar
E, esta chuva, agora mais limpa, a todos vem abençoar
Num tempo em que só à janela podemos assomar
Devemos estar gratos por podermos continuar a ver
A chuva, o vento, o sol, a lua, todos juntos, na rua.
José Silva Costa
No tempo da outra senhora (2)
Francisco já tinha feito o serviço militar
Estivera na fronteira do Alentejo
Na zona de Évora
Aquando da guerra civil Espanhola
Num exercício de artilharia
As coordenadas estavam erradas, racharam uma, centenária,
oliveira
Tinha estado em São Miguel do Pinheiro (Mértola)
Para aprender o ofício de ferreiro
Estava quase com trinta anos, procurava companheira
Encantou-se com a Alice, que era muito bonita
Pudera, tinha dezassete anos, menos doze que ele!
Quem não queria, uma tão linda flor!
Francisco ia, quase todos os dias, montado no macho
Namorar a Alice, não tinha tempo a perder
A Alice era a segunda de cinco raparigas e três rapazes
Ainda viria a ter mais um irmão, aquando de seu segundo filho
Mãe e filha grávidas, apenas, com um mês de diferença
Francisco convenceu a Alice a juntarem-se, pelo Santo Amaro
Era o habitual, não havia dinheiro para casamentos
Levou-a para o seu monte
Alugou uma parte da casa onde, também, funcionava a Escola Primária
Do lado direito vivia o novo casalinho, no esquerdo, por detrás da sala de aulas, a Dª. Olenca
Uma Algarvia, que viria a tirar a primeira fotografia ao futuro rebento
Estávamos em plena segunda guerra mundial, que a todos castigava
Senhas de racionamento, fome, miséria, sofrimento e morte
O futuro rebento recusou-se a nascer antes, da guerra acabar
Nasceu quatro meses depois, da mãe fazer dezoito anos
Alice esteve à morte, teve hemorragias.
Um curioso receitou-lhe uma sangria!
Médicos e hospitais, não havia!
Só lá em Lisboa!
Recorriam aos curandeiros locais
O pai de Alice, receando perder a segunda filha e o primeiro neto
Levou-os para a casa da família, onde a mãe e as irmãs os trataram.
José Silva Costa
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