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Fregueses!
Sexta-feira, 17/01/2025, foi um dia de muita felicidade, para os fregueses
Vieram de todo o país, para ocuparem a Assembleia da República
Mais de 700, acompanhados pelos futuros candidatos a presidentes das 168 freguesias, todos contentes, alguns de longe, (300 kms) em autocarros, pagos por todos nós
Foram 302 divórcios, muito festejados, em Lisboa, por lhes terem roubado a identidade e os cemitérios, foram as respostas dadas, por tanta indignação
Até parecia a Revolução da Maria da Fonte, em 1846, por entre outras coisas, a proibição de enterros nas igrejas, como se vê, nada de mexer com os mortos
Os novos 168 presidentes vão-nos custar 10 milhões, em salários, por ano, no total, cerca de 30 milhões, por ano, o que é muito pouco, para ver os fregueses satisfeitos
Nem sabíamos onde gastar tantos milhões, um vez que os Serviços Públicos estão todos ótimos, se nas freguesias tudo está excelente, só o que faltava era ter mais presidentes de junta, junto dos fregueses, e não terem de namorar com todos os fregueses da união de facto, de facto não, forçada
Como gostei de ver, todos os partidos, com a exceção da Iniciativa Liberal, a apoiarem, mais esta despesa, e até o Chega, que como sabem, é o partido que não quer gastos com políticos, não teve coragem de votar contra, absteve-se
Em ano de eleições Autárquicas, ninguém quer afrontar os fregueses, o Orçamento Geral do Estado é muito flexível, todos os dias, podemos ir, com uma cesta, de mão estendida, pedir dinheiro emprestado.
José Silva Costa
Amor & guerra (10)
Com as bonitas palavras do Carlos, a Miquelina ficou muito feliz. Já só sonhava com o dia em que o Carlos saísse da tropa e fossem viver os três
Contava os meses, já não faltavam muitos. Em breve abraçaria o Carlos, e ele conheceria o filho
A Bárbara tinha posto ponto final aquela expetativa de namoro. Não queria voltar a precipitar-se, já bastava o que tinha acontecido com o Carlos, porque estava fragilizada com o desaparecimento dos pais
Mas, ao mesmo tempo estava tão feliz por ter uma filha, linda, único familiar, que esperava fosse uma grande companheira pela vida fora, sangue do seu sangue
Que pena não conseguir contatar com o Carlos, apresentar-lhe aquela linda filha, não saber se estava vivo ou morto, a incerteza moei mais que a morte, quem é que inventou a guerra?!
Tantos jovens, arrancados às suas famílias e terras, treinados à pressa, sem noção nem consciência do que iam fazer, alguns levados pela fé, de que iam defender a sua Pátria, sujeitos a grandes lavagens ao cérebro, ao ponto de os obrigarem a gritar que se fosse preciso matariam os próprios pais
Chegados ao terreno, entregavam-lhes uma arma, balas, granadas
Perdidos, num labirinto, sem um forte código de conduta, respondiam às atrocidades com atrocidades, ainda, maiores
O Carlos escreveu à namorada, dizendo que ia participar noutra grande operação, que poderia durar mais de um mês, que não se preocupasse, que assim que pudesse lhe voltaria a escrever
Mas ela ficou muito preocupada, sempre em operações, era preciso ter muita sorte, para sair, sempre, ileso
“ Tantas vezes o cântaro vai à fonte, até que um dia lá fica”
A Companhia do Januário deixou a Vila, com grande pena da população, que gostava muito do comandante, porque dava muita atenção aos seus problemas. Todos estavam de acordo de que ele fez tudo o que podia para melhorar as suas vidas.
A Bárbara estava esperançada que na nova Companhia viesse um militar, que se encantasse nela e ela nele. Era tão importante encontrar um companheiro, que partilhasse dos seus sonhos, do seu espirito de aventura, que gostasse da sua filha. Por fim dizia: “ Não estarei a pedir demais!”
Queria planear o futuro: vender a loja, ir para Luanda, Lisboa, ou Coimbra. Mas seria mais seguro se tivesse com quem partilhar essa aventura, quem a aconselhasse, quem a aprovasse
Queria tudo do melhor para a Sara: o melhor colégio, a melhor universidade, que para ela era a de Coimbra
Tinha um bom pé-de-meia, em escudos, num Banco, na Metrópole, que herdara dos pais
A Companhia, do Carlos, foi emboscada, com a picada minada e os guerrilheiros escondidos nas bermas da picada
Tiveram mais de uma dezena de mortos e muitos feridos. O Carlos ficou gravemente ferido, tendo sido evacuado de helicóptero para Luanda.
Continua
Vidas!
Continuação (19)
O anterior regime tentou esconder as tragédias, que aconteceram, principalmente nos anos sessenta do século XX. Uma grande tragédia foi o desabamento de uma das Coberturas da Gare da Estação Ferroviária do Cais do Sodré, na linha férrea de Cascais, que aconteceu a 28 de Maio de 1963, no dia do trigésimo sétimo aniversário do golpe de Estado de 1926, que deu origem ao regime do Estado Novo. O Governo negou ter sido um atentado, tendo retirado, ao construtor, o alvará de obras Públicas, por defeito na construção, fazendo com que a firma tenha falido cinco dias depois. Mas, ficou a dúvida, se não teria sido um atentado. Decorria o funeral do Escritor Aquilino Ribeiro. Esta tragédia causou 49 mortos e 61 feridos
No ano letivo seguinte, o José continuou a estudar na Escola Académica. Voltou a inscrever-se, para fazer exame como aluno externo, no mesmo Liceu, mas foi transferido para o Liceu Camões, que era considerado um dos mais exigentes. Ficou aprovado, já podia ir para o curso de Sargentos Milicianos
Assim que soube do resultado, mal saiu do Liceu, entrou na cabine telefónica, existente na via pública, para dar a novidade à namorada. Já tinham o casamento marcado para Setembro, autorizado pelos respetivos pais, por só terem vinte anos
Alugaram um quarto na Rua da Imprensa à Estrela, situada por detrás do Palácio de São Bento, por uma renda de quatrocentos escudos mensais, por mobiliar. O patrão, do José, ofereceu-lhe a cama e as mesas-de-cabeceira. Compraram uma pequena mesa retangular, com uma gaveta para os talheres e espaço para guardar os pratos e os tachos, e dois bancos, um rádio e a máquina de escrever completavam a mobília
Naquela casa já viviam a dona da casa, com uma filha e um filho, maiores de idade, e outro casal com um bebé. Por cima, no primeiro andar, vivia o saudoso maestro José Atalaya, que nos deixou recentemente. Todas as noites adormeciam ao som dos seus ensaios
Voltou a matricular-se na Escola Académica, para fazer o segundo ciclo liceal. Teve a sorte de ter três professores excecionais: o de português, um camoniano, que andava a elaborar um dicionário de “ Os Lusíadas”, O professor de ciências, que tinha o programa gravado na memória, obrigando-os a escreverem o que ele ditava, a grande velocidade, alegando que, como não tinham tempo para estudar, aquela era a melhor maneira de aprenderem qualquer coisa. Mas, havia uns indisciplinados, que o interrompiam, para fazerem perguntas, que poderiam ficar para o fim da aula, obrigando-o a ter de rebobinar ate chegar ao que estava a ditar. Depois do 25 de Abril, foi à televisão explicar como se distinguia o bacalhau do pixilim. O de matemática, que conseguia fazer com que as enormes expressões algébricas deixassem de ser um bicho-de-sete cabeças. Defendia a utilização da Televisão, para reduzir a enorme taxa de analfabetos. Aquando da apresentação disse que estava disponível, aos sábados à tarde e nas manhãs de domingo, para tirar todas as dúvidas, aos que quisessem e pudessem aproveitar
Nesse ano não fez nenhuma disciplina. Mas, ficou o fermento para quando saísse da tropa, para onde foi, pouco depois do ano escolar acabar. A mulher voltou para a casa dos pais. Aos vinte sete meses de casados nasceu a primeira filha
O ter conseguido subir um degrau no ascensor social, fez com que conseguisse cumprir o Serviço Militar, na classe de Sargento, que para além do estatuto, contribui-o para que, a parte do vencimento que podia ser recebida na Metrópole, cerca de 90 mil escudos durante a comissão, desse para remodelar a velhinha casa, que o sogro tinha feito, sem casa de banho, sem água canalizada, nem eletricidade. Havia, apenas, uma torneira no quintal. Mas, mesmo assim, o dinheiro não deu para ligar a eletricidade do poste exterior para dentro de casa: 7.500 escudos, pagos com os últimos ordenados da tropa. A esposa teve de fazer de servente, muito tendo trabalhado, para ter uma casa com comodidades e dar ao marido, ainda mais alegria à sua chegada. Quando lhe perguntou do que é que ele tinha gostado mais, a resposta foi: “a casa de banho”
Aqueles que nascem, onde já há todas as condições, não sabem dar valor ao que é subir a vida a pulso.
Ainda há pessoas que se questionam se vale a pena estudar! Sem dúvida, que vale a pena estudar, mesmo que não contribua para uma melhoria material, o ganho pessoal, não há dinheiro que o pague. Assim, devemos investir tudo o que podermos na educação dos filhos ou netos, porque é um investimento que não podem vender nem hipotecar, só o podem usar
Quando regressou da guerra, o José continuou a estudar. A mulher atou-o ao mar, e ele não se quer libertar. Ainda trabalhou, perto de casa, ano e meio, mas arranjou trabalho em Lisboa, a ganhar quase o dobro, o que fez com que se tenha sacrificado a perder quatro horas, por dia, em transportes, por mais quase trinta anos
Viver nove anos em Lisboa, foi um grande privilégio, porque tinha tudo à mão: cinemas, teatros, museus, jardins ……………
Quem estiver interessado em saber mais, sobre a vida militar dele, pode fazê-lo em: https://socieadeperfeita.blogs.sapo.pt - Mazelas
José Silva Costa
As mazelas da guerra
Continuação
À espera de embarque
Na última semana que estivemos no Umpulo, a PIDE inundou as mesas do nosso refeitório com panfletos a aliciarem-nos para ingressarmos nos seus quadros, com o fim de darmos instrução aos flechas, mas ninguém aceitou tão tentadora oferta
Só reparei no vencimento: 8.000,00 angolares, podendo metade ficar na Metrópole, em escudos. Por dinheiro nenhum ficaria na PIDE, quando regressei tive de aceitar um emprego a ganhar 2.000 escudos
Desde que fui trabalhar para o lugar de frutas e hortaliças, que fiquei a saber o que a PIED fazia Todas as manhãs, alguns dos operários, da Imprensa Nacional, iam ao estabelecimento “ matar o bicho”, e nas noites em que eram visitados, de manhã, diziam-nos quantos é que tinham ido presos
Chegou o tão esperado dia de deixarmos o palco das operações e irmos para um local seguro, onde aguardaríamos o embarque, para regressarmos à Metrópole
Dissemos adeus ao Umpulo, com a alegria estampada nos rostos de quem ia para o paraíso
Voltámos para Nova Lisboa, mas a ansiedade voltou, porque nunca mais chegava a ordem para irmos para Luanda, para embarcarmos, para voltarmos para as nossas casas
Cada um matava os dias como podia, ou fazendo o que mais gostava, como sempre, o futebol tinha muitos adeptos, fazendo com que muitos fossem, todas as noites, jogar futebol de cinco, no Pavilhão Desportivo da Cidade
Uma manhã, quando cheguei ao quartel, informaram-me do horrível acidente, da noite anterior, em que um condutor enfiou um jeep debaixo de um Unimog, também da nossa Companhia, que estava estacionado fora da faixa de rodagem, avariado
O condutor, felizmente, mais uma vez, saiu ileso, já tinha acionado uma mina, tendo sido projetado a 10 ou 15 metros, sem qualquer beliscadura. Mas, naquela noite, o Torres e o Ramos morreram de imediato
O Torres, como era conhecido, por ser da região de Torres Vedras, o nosso melhor futebolista e o Furriel Ramos não resistiram ao embate. Mais 2 mortes num acidente!
Ainda que de noite, mas numa reta, como é que o condutor foi enfiar o jeep na outra viatura, parada, na berma?
Estaria o condutor alcoolizado! Mal dito álcool, que tanto foi usado, para nos anestesiarem.
Do Torres, pouco sei, mas do Ramos, sei que era filho de emigrantes, em França, era funcionário da Câmara Municipal de Lisboa, estava tão contente, por ter um emprego à sua espera, enquanto muitos de nós tínhamos à nossa espera os nossos familiares
Finalmente chegou o tão esperado dia, saímos de Nova Lisboa para Luanda, onde nos esperava o barco Vera Cruz, foi uma alegria imensa!
Foi ao final do dia, mal o barco se fez ao mar, a Companhia reuniu para o Furriel Enfermeiro nos informar que depois do jantar, nos iria dar vários comprimidos, que nos atordoariam durante 24 horas, mas que era indispensável que os tomássemos, para prevenir futuras doenças, foram 24 horas de agonia, mas deu resultado, durante alguns anos nem um constipado
Dias depois, o barco atracou no Funchal, Ilha da Madeira, foi a primeira saída de passageiros
Os camaradas madeirenses prometeram levar-nos a comer filetes de peixe-espada preto, uma delícia! Depois cada um foi para seu lado, aproveitei para ir ver um pequeno aquário, não muito longe do cais, tive receio de ir para longe, porque tínhamos poucas horas para estar em terra
Mal acabaram de descarregar as bagagens, seguimos viagem, chegámos ao Tejo, numa madrugada, ficámos ao largo. Não consegui dormir, quando amanheceu, começámos a ver a cidade: estava linda, nunca a vira assim!
Assim que o barco atracou, saímos, abraçámos os familiares. E pouco depois fomos transportados para o quartel.
Já não me lembro o que fui lá fazer, os soldados, acho que foram entregar a farda, a minha, como a tinha pago, fiquei com ela, a minha filha mais velha é que acabou com ela, gostava de vestir o blusão e colocar a boina.
Não sei se foi nessa ocasião que nos entregaram a Caderneta Militar. Lembro-me de nos terem dado uma morada para, no caso de adoecermos durante um determinado tempo, nos dirigirmos.
Foi um dia de muitas emoções, tão desejado, despedimo-nos cheios de alegria e felicidade.
Continua
A viúva negra
A viúva negra, como, pelo Bandarra, foi batizada
Está por todo o lado, onde passam os carros
Autoestrada, estrada, e até na rua, cansada
Sempre à espreita de quem, o código, não respeita
Não escolhe entre géneros nem idades!
Mas não gosta de ser desafiada
Aplica uma pena pesada
E, há muito quem goste de a desafiar
Jovens irreverentes, pouco prudentes, irresponsáveis
Mas, também, pessoas de todas as idades
Que gostam de beber, de acelerar, comunicar
Como conduzir não exige atenção e concentração!
Aproveitam para, as mensagens, enviar
Falar ao telefone e ver o facebook
Como a viúva negra é insaciável
Pagam caro o deslumbramento
Com a própria vida, ou ficam com ela, presa por um fio
Como se as estradas não se tivessem transformado em granadas
Os carros não atingissem velocidades escusadas
E, as pessoas não gostassem de sair disparadas.
Hoje, comemora-se o quinquagésimo ano do email
Por favor, nunca envie nem leia emails, enquanto conduz.
José Silva Costa
Há 50 anos
A Lua não nasceu
A manhã não amanheceu
O Sol desapareceu
O país não dormiu
Desaguou no Cais da Rocha do Conde de Óbidos
O monstro estava atracado
Preso com grossas correntes
Com receio que fosse ao fundo
Com a ira daquela gente
Toda vestida de preto
Exceto os que iam embarcar
Os jovens não se queriam apartar
As mães apertavam os filhos, ao peito
Como se quisessem, de novo, esconde-los, no ventre!
Vinte anos a criá-los, para os perderem, para sempre
O monstro rugiu
O cais estremeceu
O Tejo encolheu
O Atlântico embraveceu
As mulheres olharam, para o céu
Desfaziam-se em lágrimas e gritos
Os seus filhos, maridos, irmãos, cunhados, sobrinhos, afilhados; afastaram-se
Os militares ocuparam os seus lugares
Para começarem a entrar, naquele que, para a morte, os ia levar
Não foram suficientes para o abarrotar
No dia seguinte aportou ao Funchal, na Ilha da Madeira
Também o Arquipélago da Madeira ficava sem a sua maior preciosidade
Os seus filhos!
Dali em diante, O Vera Cruz, estava em competição com a Apollo 11
Para ver quem chegava primeiro
Se ela à Lua, se ele a Luanda
Ela ganhou, por um dia.
José Silva Costa
Ghouta Oriental (Síria)
Mais um massacre
Feito por quem pelos outros não tem respeito
Tantos homens, mulheres, crianças mortas, ficando sem peito
Os tiranos não sabem o que é o direito!
Aqueles que os elegem não sabem o que vai ser feito
Não se importam de fazer dos mortos o seu leito
Nenhuma guerra, massacre, genocídio, tem jeito
Amar, ajudar, falar e tentar compreender o outro é que é perfeito
As guerras, por muitas convenções que existam, não têm preceito
Cada um comete as maiores atrocidades que pode, não se importando com as regras a que está sujeito
Por que razão a Rússia e os Estados Unidos mandam no mundo inteiro?
No caso da Síria, para além dos dois mencionados, ainda há muito parceiro
Que continua a querer matar um país inteiro (Turquia, Irão …)
Dividam o mundo como quiserem
As pessoas não querem, às vossas mãos, morrerem
Fechem as fábricas que alimentam as guerras
Utilizem os recursos que gastavam nas guerras para alimentar os pobres
Deixem-se de massacres, genocídios, limpezas étnicas
Antes de mandarem canhões e aviões disparar
Interroguem-se se gostariam que fossem os vossos filhos e netos os alvos
As guerras nunca serão solução
O que os povos querem é compreensão, amor e pão.
José Silva Costa
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