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Jovens mães carregam os filhos com a ajuda do brilho das estrelas
(do poema o fulgor da Língua/ o Estado do Mundo)
As guerras
Nas guerras não há coração, nem razão
Matam, indiscriminadamente, por impulsão
A culpa é de quem construiu o canhão
Disparam, como se fosse para o ar, contra o irmão
Mais tarde, com todos os horrores, terão de conviver
Mas, por muito que chorem, não haverá perdão
Porque tinham de pensar, antes de, utilizar, a mão
Os gritos dos filhos, agarrados às mães, nunca mais o deixarão
Acompanhá-los-ão, para onde quer que vão
Foi brutal e triste a sua missão
Matar, nunca será de louvar!
Tudo devemos fazer para o evitar
Quem consegue suportar e ver?
A separação: crianças a gritarem, agarrados aos pais e às mães
Mas, os pais têm de ficar, para matar ou morrer
As mães seguirão, à procurar de quem lhes dê uma mão
de um lugar em paz, onde os possam criar
Onde, quem encontrarão, com coração, que as ajude a suportar a dor da separação?
Como suportar a humilhação dos ditadores assassinos, que lhes roubaram os companheiros,
os pais dos filhos, os seus cheiros, os seus beijos, os seus projetos?
Com os filhos nos braços, sem terem onde os agasalhar, sem nada para lhes dar
Têm de ser muito fortes, para tanto desespero conseguirem suportar!
Mas, serão eles que lhes darão a força necessária, para os criarem, com os seus sorrisos, beijos e a palavra mais doce e mais pronunciada: Mãe!
Que grande castigo! Dos que não têm cabeça nem coração que, por muito que falem, nunca encontrarão, palavras suficientes, para justificarem os disparates, os horrores, as mãos ensanguentadas, os ouvidos cheios de gritos, dos assassinatos cometidos.
José Silva Costa
Amor & guerra (7)
A Companhia do Carlos continuava a travar duros combates, na tentativa de conseguir empurrar os guerrilheiros para fora de solo angolano. Mas, não estava a conseguir, porque as forças estavam muito equilibradas. As atrocidades eram muitas, de parte a parte
Miquelina estava muito preocupada, com o Carlos, tinha sonhado que ele tinha sido ferido. Não havia meio de chegarem notícias, o que também não adiantava, porque tudo podia acontecer de um segundo para o outro
Já lhe tinha mandado as duas bonitas fotografias, em que estava ela e o Miguel.
Estava tão feliz, só gostava de ver a reação, do Carlos, quando recebesse as fotografias
Januário não deixava de pensar na Bárbara, sem saber como teria terminado o parto, ainda não tinha tido oportunidade de passar pelo seu estabelecimento, para saber se as empregadas já sabiam alguma coisa da Bárbara
À Barbara e à bebé valeram-lhes a muita experiencia das freiras. Já tinham dado assistência a muitos partos difíceis, fazendo com que tivessem aprendido muito e estivessem aptas a assistir a partos muito complicados
Ambas tiveram de ficar uns dias, na Missão, até estarem em condições de irem para casa, tempo que as freiras aproveitaram para lhe irem ensinando como cuidar da bebé
A Bárbara estava-lhes muito grata por terem conseguido ajudá-la, naquele parto tão difícil, e tudo ter terminado bem. Nunca esqueceria o momento de felicidade e alegria, quando lhe colocaram, a linda bebé, nos braços
Da Missão, já tinham informado as empregadas do dia, a partir do qual elas podiam sair. Por vezes ficavam mais uns dias, porque não havia comunicações, nem transportes
Por coincidência o Januário passou pelo estabelecimento, no dia em que receberam a notícia do dia em que elas podiam deixar a Missão
Assim que soube o dia em que elas sairiam, pediu ao Comandante, se poderia ir busca-las, utilizando uma viatura militar
Obteve de imediato a autorização, o que fez com que ficasse muito feliz. Queria surpreendê-la dizendo-lhe que a amava, pedir-lhe namoro, afiançar-lhe que criaria aquela bebé, como se fosse filha dele, tanto para lhe dizer! Mas, teria de ficar para uma oportunidade que estivessem a sós
Entretanto o Carlos recebeu a carta com as duas fotografias, ficou uns minutos a contempla-las, estava radiante, O Miguel e a Miquilina eram lindos, pensou na sorte que tivera em arranjar uma namorada tão bonita, e o Miguel era a cara dele, tão bonito!
Quando se encontrou a sós com o camarada, que tinha posto em causa a sua paternidade, puxou das fotografias e disse-lhe: “está aqui a prova”
Continua
Amor & guerra (6)
A Bárbara escolhera o nome para a bebé, antes do parto. Mesmo sem ter a certeza, acreditava que era uma menina, e que se chamaria Sara. Infelizmente, não tinha com quem opinar sobre o nome da filha. Sem avós maternos, sem saber onde estava o pai e os avós paternos, estavam, as duas, entregues à sua sorte
Estava confiante que, mais tarde ou mais cedo, encontraria um companheiro para a ajudar a criar a filha. Com tantos militares a passarem pelo seu estabelecimento, quando a sua vila fosse contemplada com uma companhia, o que só aconteceria quando os militares deixassem de andar, numa correria de um lado para o outro, como quem anda a apagar fogos, é que teriam direito a essa regalia. Então, um militar, por ela, se encantaria
Entretanto, o Carlos já tinha tido oportunidade de responder à namorada, dizendo-lhe que estava de acordo que o menino se chamasse Miguel
A Miquelina ficou muito feliz por o Carlos concordar com ela, fazendo com que os avós maternos, também, tenham ficado orgulhosos por o neto ter o nome do avô materno
A Bárbara tinha tido um dia muito difícil, sentia muito peso sobre a bexiga, quando fecharam o estabelecimento, disse às empregadas que devia estar por poucas horas
Foram para casa, preparar tudo para o parto. As três estavam muito nervosas, pareciam que estavam a adivinhar que nem tudo ia correr bem
Depois de muitas horas em trabalho de parto, a bebé não nascia. A Bárbara estava exausta, as empregadas não sabiam o que fazer, nunca lhes tinha acontecido um parto assim!
Desesperadas, uma disse que tinha de ser levada para a Missão, porque as freiras estavam habituadas a partos difíceis, os únicos para que eram procuradas
Sem saberem, a quem recorrer, para a levar, lembraram-se dos militares. Uma foi a correr, ao quartel, pedir ajuda. O oficial de dia ordenou que levassem a Bárbara, imediatamente, à Missão, e que fosse acompanhada pelo Furriel enfermeiro
Quando os militares regressaram, as empregadas, da Bárbara, perguntaram-lhes como é que ela estava, ao que responderam, que até a entregarem, às freiras, não tinha acontecido nada de novo
Mas, quem nunca mais a esqueceu foi o Januário: o furriel enfermeiro. Todos os dias procurava saber notícias. Ao ponto de perguntar a si mesmo: “ estarei apaixonado, ou será que só tenho pena dela?”
Aquele brilhozinho nos olhos e o bater do coração, não enganavam ninguém, só podia ser amor!
A Miquelina foi ao fotógrafo para tirar umas fotografias, a ela e ao bebé. Queria que o Carlos se orgulhasse do bonito filho que tinha: tal e qual a cara dele, parecia tirado a papel químico.
Continua
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