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A noite
Há noite há magia
Há noite os sonhos
Pintam alegria
A noite pare o dia
Há noite há um farol
A iluminar o mar
O marinheiro sonda o luar
Não vá o barco encalhar
Quer a lua namorar
O mar também a quer conquistar
Ela não sabe quem escolher
A quem namoro aceitar
Os dois gostava de a encantar
Vai continuar para todos sorrir
Sem ter de decidir
O sorriso não pode dividir
Com todos vai continuar a dormir
A todos inspirar
Sozinha se vai deitar
Sem ter com que se agasalhar
Tantos séculos magia a espalhar
Tantos poetas a enganar
Dizendo que é sua musa
Muitos continuam a esperar
Que as metáforas rompam o ar
Que os seus versos façam o mundo parar
Que a paz possa chegar
Que o ar se possa respirar.
José Silva Costa
Praias
Em Abril o sol é mais feliz
São muitas horas de sol
Os teus olhos são a luz dos dias
Há cegonhas esguias
Que chocam os ovos nos ninhos, quentes
No silêncio de um céu transparente
As praias estão cheias de gente
Tu és o culpado desta enchente
Mas alguns vão na corrente
O mar podia ser mais prudente
Já que as pessoas nem sempre o são
A culpa é toda tua!
Quando aqueces, as pessoas esquecem-se
Que o mar é muito perigoso
Só pensam em refrescar-se
O que lhes dá muito gozo
Tanto faz ser jovem, ou idoso
Mas, tu oh sol radioso!
Que és tão sensato e bondoso
Não permitas que o mar seja tão manhoso
Que leve as pessoas ao engodo
Não aqueças, quando vires que o mar está perigoso
Vais ver que deixamos de ver, todos os anos, esta mortandade
De pessoas, ainda, na juventude da idade
Que deixam tantas saudades
E causam tanta tristeza e dor
A vida não tem preço, mas tem muito valor.
José Silva Costa
Cheiro
Já cheira a Primavera
Os passarinhos andam aos beijinhos
Passam os dias na construção dos ninhos
Sempre a namorar, para a canseira suavizar
Também eles se queixam do custo das casas
Fazer uma casa robusta, dá muita luta
Encontrar um lugar seguro, resistente ao vento e a todo o elemento
Para além da robustez do lugar, é preciso, com todos os inimigos, contar
Quem é que não gosta de uma casinha a ver o mar!
Sem ninguém a incomodar
É tão bom ter um bom lar!
Uma companheira e ver os filhos a palrear
De alegria, por a mãe os amamentar
Uma ternura de encantar!
Vê-los crescer, fazer o que já fizemos, e esperar que nos deem netos
Cheios de graça, ternura, birras, mimos e afetos
Tem sido assim ao longo dos séculos
Com mais ou menos tecnologia, com mais ou menos guerras
Infelizmente, há povos que continuam à espera
Que o progresso os empurre para dias melhores
Que não envenenem as meninas na sala de aula
Para as privarem da educação e lhes roubarem a compreensão
Mantê-las na ignorância, porque saber é poder
Alguns homens continuam só para si o querer
Sem se importarem com quem está a sofrer
Com quem tem de enfrentar todos os perigos
Para da fome, das guerras, das arbitrariedades fugir
Morrer é um mal menor, que em tais condições viver.
José Silva Costa
Chuva e Sol
Chegou a chuva, nunca foi tão bem-vinda
Bem precisávamos de sol na eira, chuva no nabal e muito vento
Tudo para a produção de eletricidade, cujo preço está pela hora da morte
Mas tudo com peso e medida, para não provocarem nem prejuízos materiais nem perdas de vidas
Estamos desejosos de voltar a ver as barragens cheias, com todas as suas valências em atividade
A chuva é uma grande riqueza, que cai do céu, sem que a precisemos pagar
A que não for retida, o seu destino é o mar
Cada vez gastamos mais água, cada vez que abrimos a torneira são litros que desaparecem
Quando não tínhamos água canalizada, e a íamos buscar às fontes ou aos poços, não a desperdiçávamos
Dava muito trabalho carregá-la, um trabalho diário e muito duro, quase sempre, a cargo das crianças e das mulheres
Um líquido muito precioso, que temos de valorizar, porque se está a tornar muito escassa
Quando chove, dizemos que está mau tempo
Quando alteraremos este comportamento?
A não ser que não queiramos chuva e queiramos só bom tempo
Sem chuva não há sustento, por muito desagradável que seja, sem ela não há vida
Todos gostaríamos que a chuva chegasse a sorrir, como o sol!
Mas, a Natureza não o quis assim. As nuvens passam as passas do Algarve para nos trazerem a chuva
Têm de ir carregá-la, subirem com todo aquele imenso peso até atingirem a altitude para a puderem descarregar
Operação difícil, que necessita da ajuda do vento e, por vezes, dos trovões.
José Silva Costa
Férias!
Sol sal areia água mar
Uma onda para refrescar
Dois dedos de conversa na esplanada
As férias a esgueirarem-se por entre os dedos
Passam a correr, sem se ver!
Um terço do mês desapareceu num ápice
Os castelos de areia a desfazerem-se nas mãos
A sexta dormida na barriga da tarde
O resto da tarde a comtemplar o mar
A noite a evaporar-se como se fosse álcool
Os planos a saírem furados
Mais de metade dos projetos ficaram por executar
A ida aos museus ficou para melhores dias
Foram muitas e boas as horas passadas com as tias
Por muito que tivesse esticado os dias não consegui melhorias
Os minutos as horas os dias os meses os anos já estão completamente esticados
Cada vez somos mais solicitados
É a televisão é o cinema o teatro a praia o campo o sol a lua o diabo o vento
Cada um rouba um bocado do nosso tempo, e aquele aquém não dermos atenção fica zangado
Este é o triste fado de quem tem um mês de férias e não fica o resto do ano desocupado
Há tanto que fazer por todo o lado!
Nem que seja passar umas boas horas a meditar deitado
Com o cansaço das correrias do progresso já nem dão um abraço
Não há tempo não há amor nem amizade nem espaço
Para muitas pessoas perder um segundo é um embaraço
Como se não tivessem todo o tempo para descansarem do cansaço
Quando finalmente se preparam para saborear o tempo, este já acabou ou é escaço
O nosso tempo é medido por um baraço
Que vai encolhendo até acabar
É por isso que não o devemos desperdiçar
Mestria é saber gastá-lo.
José Silva Costa
Colares
Princesa da serra e do mar
Com os seus palácios e altares
No perfume dos pomares
É bela, é uma flor
É inebriante o seu néctar
Um vinho das profundezas da terra
Um vinho digno de um altar
O melhor que há, para celebrar
No verde da serra e no azul do mar
A noite, o sono e a lua vão-se deitar
Na esperança de que com o nascer do sol irão acordar
Para poderem apreciar o sabor a mar
Quando o sol começa a subir a encosta
A beijar a serra, Colares fica prisioneira
Uma bela saloia, muito namoradeira
Sonha com um príncipe, mas contínua solteira
Nos vapores do vinho ramisco
Viaja até à Praia das Maçãs
No agosto das multidões
Apanha o elétrico e volta para casa.
José Silva Costa
A moda
Estamo-nos a despedir do mar
As aulas vão começar
Mais um verão a terminar
Vem aí o doce setembro, para saborear
Podemos, até continuar a ver o mar
Mas, as idas à praia vão acabar
Os dias mais pequenos não nos permitem navegar
O material de praia temos de arrumar
Mais um ano à espera que as férias não se esqueçam de chegar
Não se pode passar a vida só a trabalhar
Porque o vento pode acabar
E, nós podemos ter pena de não o ter visto passar
O tempo não para, nem para descansar
Esse é que passa a vida, sempre, a trabalhar
Nós, por vezes, bem queríamos que descansasse
Mas, ainda bem que não nos obedece
Senão, podíamos estica-lo de mais
Assim, as horas, os dias, as semanas, os meses, os anos passam sem que possamos interferir
Tudo o que podemos fazer é aproveitá-lo o melhor que soubermos e pudermos
Vamos, novamente, a correr para o inverno!
É um grande privilégio estar constantemente a mudar de visual
Cada dia, cada estação veste-se de maneira diferente
E, isso interfere com a nossa imaginação
Queremos acompanhar toda essa variedade com muita atenção
Porque temos de adaptar os nossos hábitos e o vestuário à sua condição
Um grande desafio para quem impõe a moda
A quem muita gente obedece
E, se não andar nela, nem se quer adormece
Que bom, vestir o que me apetece!
Desde que não colida com a harmonia consentida.
José Silva Costa
Junho de 2020
Seis meses de pandemia, provocada pelo covid-19
O Mundo já estava conturbado
Mas, agora, está irreconhecível
Ficou tudo parado
Felizmente ou infelizmente, nem todos, ainda, se aperceberam da catástrofe
O constante anúncio de despedimentos tira-me o sono
Tal com aconteceu em 2008
Em que a ganância, que alimentou as pirâmides, na ilusão de alguns, de que todos podiam enriquecer facilmente, levou o Mundo à falência
Desta vez foi um vírus que, ao provocar a morte, o medo, o desespero, nos levou ente-queridos, abraços, beijos, convívios, empregos, empresas, a vida
O que devemos fazer para sair deste confinamento?
Ninguém sabe, porque tudo isto é novo
Mas uma coisa é certa, temos de respeitar a Natureza
Temos de tentar reduzir a pobreza
A tendência será reduzir o desperdício
O que vai fazer com que tenham de converter algumas empresas
Com esta pandemia, a alimentação ganhou outra atenção
A agricultura mais destaque e dimensão
É na terra e no mar que, o que comemos, nasce
Se todos fomos afetados!
Que dizer dos refugiados
Em campos superlotados
Crianças, mulheres, homens amontoados
Um WC para uma centena de pessoas!
Onde as mulheres estão, sempre, em perigo
Com receio de serem violadas
À noite, preferem usar fraldas, a saírem das suas débeis muradas
Estamos a assistir a coisas inusitadas
Os novos inquisidores querem apagar a História
Derrubando e queimando estátuas
Como se isso revertesse os erros cometidos
Quantos dos que hoje gritam contra o colonialismo, beneficiam ou beneficiaram com ele?
Não se emendam erros, destruindo o património!
Todos ficamos a perder.
José Silva Costa
Lua Cheia!
Não encendeis a minha candeia
Há noite, depois da ceia
A tua magia aumenta a fantasia
Não durmo como dormiria
A tua luz os olhos fere!
Uma energia, que os impede de se fecharem
Sei que interferes nas ondas do mar
Como me impedes de, os meus sonhos, navegar
Tenho de esperar que te deites
Para poder, enfim, descansar
Lua de quatro fases e de outras tantas faces
Ao longo dos séculos, quantos encantaste?
Quem amaste!
Misteriosa, bela, encantadora
Todos te têm cantado
Inspiradora de almas noturnas
Que não obedecem à noite
Que não adormecem
Que se portam como se o sol nunca se pusesse.
José Silva Costa
Carnaval
22/02/2020
Fomos ver os meninos e meninas da EB1 de Mafra
Desfilaram pelas ruas da Ericeira
Terminaram no Parque de Santa Marta
Com muitas máscaras alusivas ao mar
Onde não faltaram as pranchas de surf
Em homenagem às ondas de Ribeira D’ Ilhas
Pareciam bandos de Gaivotas
A esvoaçarem pelas ruas
Misturados de criaturas do mar
Por aquelas ruas a desfilar
Na alegria contagiante
Que só as crianças nos sabem dar
Uma tradição muito antiga
Que nos permite brincar ao Carnaval
Com a qual tive contato
Quando ainda, nos bancos da Escola, não tinha lugar
Mas como nasci numa casa onde também estava instalada a Escola
Desde muito cedo me intrometi nas brincadeiras do recreio
Estava na porta de entrada, teria 3 ou 4 anos, quando vi um Senhor a subir a rua
Mascarado com cortiça queimada e uns grandes dentes de cana
Fez-me sinal para não dizer nada
Devia ter autorização da Professora
Porque a porta estava aberta
Aproveitei a boleia e entrei ao lado dele
E, vi alguns alunos a saltarem para cima das carteiras
Esta é a minha primeira lembrança das brincadeiras do Carnaval.
José Silva Costa
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