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Tudo gratuito!
Tudo o que é gratuito tem tendência a fazer com que haja desperdícios
Em rigor não há nada gratuito!
Tudo gratuito, para todos, sejam ricos ou pobres!
São as novas promoções, dos partidos políticos, para a nova temporada de Outono/Inverno!
Uns oferecem creches gratuitas para todos e serviços de saúde gratuitos, para alguns
Outros oferecem transportes públicos gratuitos para determinadas faixas etárias
Há quem não possa oferecer nada, mas promete a possibilidade de escolha na educação, na saúde, etc.
Quando lemos as letras pequeninas dos folhetos da propaganda, ficamos a saber que as creches gratuitas para todos, afinal são só para os que nasceram a partir de 2022, cujos pais consigam vagas nos serviços públicos ou instituições particulares de solidariedade social, para os que tenham de ir para as creches privadas, só será a partir de Janeiro
As Câmaras mais ricas propagandearam transportes públicos gratuitos para determinadas faixas etárias, não sei se as outras as conseguirão acompanhar, ou se continuaremos com o habitual: “ Portugal é Lisboa e o resto é paisagem”
Para os reformados pode ser uma ajuda para passarem umas horas, de um lado para o outro, sem pensarem como enfrentar a inflação
Também temos os que nos querem enganar, dizendo que podemos escolher os hospitais, os estabelecimentos de ensino …….!
O que querem é que todos paguem, para que os seus filhos estudem nos colégios das elites, pagos, também, por quem nunca verá lá os filhos
Se querem serviços diferenciados, de saúde, de educação, seja do que for, paguem-nos!
Não nos queiram enganar com opções de escolha, que não temos
Não estou a ver as pessoas, das aldeias e montes do interior do país, com possibilidades de escolherem o Hospital da Luz, da Cuf ………….
Nem para os filhos escolherem o Charles Pierre, a Escola Alemã, o Cambridge school……
Numa altura em que os serviços públicos de saúde não conseguem dar resposta a algumas especialidades, vinha mesmo a calhar, a possibilidade de todos sermos ricos, de podermos escolher onde queremos ser tratados. Mas, infelizmente, as escolhas são poucas, e mesmo para os que as podem fazer, alguns, quando já não interessam aos privados, são enviados para o Serviço Nacional de Saúde, que é onde todos são atendidos
Acontece, que muitos cheques-dentista não são utilizados, não sei se por desleixo, por pouca adesão por parte dos médicos dentistas, ou porque os pais não têm tempo para irem com os filhos ao dentista
Há quem tenha de trabalhar, todos os dias, para que não falte, pelo menos, o pão na mesa!
José Silva Costa
Amor & guerra (20)
Para os pais da Miquelina foi um grande choque, saberem que o futuro genro tinha uma perna amputada, mas nunca o demonstraram à filha. Sempre com palavras animadoras foram-lhe dizendo que podia muito bem fazer uma vida normal e que poderiam ser muito felizes os três
Ficaram animados quando a filha lhes disse que os antigos patrões lhe prometeram que arranjavam um emprego para o Carlos. Regozijaram-se por haver pessoas tão boas
Passaram a viver em função da filha e do neto. Queriam aproveitar a estarem com eles o máximo de tem possível. Sabiam que quando fossem para Lisboa, raramente os veriam
Estava a começar uma época em que os pais só conviviam com os filhos, enquanto não eram autónomos, depois mal os viam, porque iam para as grandes cidades, ou para o estrangeiro
O fim da segunda guerra mundial veio impor um novo ritmo, com a Europa destruída, foi preciso muita mão-de-obra, para a reconstruir. Por isso é que os países fechavam os olhos à emigração clandestina, às desumanas condições em que os portugueses trabalhavam e viviam, nos países para onde fugiam, a salto
Portugal ficou sem a sua juventude, os que não estavam na guerra, estavam no estrangeiro Mas, os governantes, também nada faziam para estancar essa sangria, porque as divisas, canalizadas para o país, eram preciosas para continuarem a alimentar a guerra em Angola, na Guiné e em Moçambique
Em Angola, nalgumas cidades, a euforia continuava, a grande quantidade de jovens europeus, fazia com que os negócios florissem, que a vida social ganhasse um novo brilho, os grandes eventos continuavam de-vento-em-popa, como acontecia com o grande prémio de automobilismo: ” as seis horas de Nova Lisboa”
A Bárbara nuca mais pensou em ir para a Metrópole. Quase todos os dias, ela e o Firmino eram convidados para festas, onde se exibia a bela vida de quem não lhe falta nada, nem tem mais nada para fazer, onde o clima convida ao prazer
Continuavam a viver: “Naquele ingano d` alma ledo e cego
Que a fortuna não deixa durar muito….” (1,2)
Em Lisboa, O general António de Spínola, publica o seu livro
: “ Portugal E O Futuro”, onde expõe as suas ideias para a solução da guerra, nas colónias, dando a entender que tínhamos de procurar outras opções.
(1) Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, canto III, estância 120
(2) Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett, Acto primeiro, Cena 1
Continua.
Vidas!
Continuação (19)
O anterior regime tentou esconder as tragédias, que aconteceram, principalmente nos anos sessenta do século XX. Uma grande tragédia foi o desabamento de uma das Coberturas da Gare da Estação Ferroviária do Cais do Sodré, na linha férrea de Cascais, que aconteceu a 28 de Maio de 1963, no dia do trigésimo sétimo aniversário do golpe de Estado de 1926, que deu origem ao regime do Estado Novo. O Governo negou ter sido um atentado, tendo retirado, ao construtor, o alvará de obras Públicas, por defeito na construção, fazendo com que a firma tenha falido cinco dias depois. Mas, ficou a dúvida, se não teria sido um atentado. Decorria o funeral do Escritor Aquilino Ribeiro. Esta tragédia causou 49 mortos e 61 feridos
No ano letivo seguinte, o José continuou a estudar na Escola Académica. Voltou a inscrever-se, para fazer exame como aluno externo, no mesmo Liceu, mas foi transferido para o Liceu Camões, que era considerado um dos mais exigentes. Ficou aprovado, já podia ir para o curso de Sargentos Milicianos
Assim que soube do resultado, mal saiu do Liceu, entrou na cabine telefónica, existente na via pública, para dar a novidade à namorada. Já tinham o casamento marcado para Setembro, autorizado pelos respetivos pais, por só terem vinte anos
Alugaram um quarto na Rua da Imprensa à Estrela, situada por detrás do Palácio de São Bento, por uma renda de quatrocentos escudos mensais, por mobiliar. O patrão, do José, ofereceu-lhe a cama e as mesas-de-cabeceira. Compraram uma pequena mesa retangular, com uma gaveta para os talheres e espaço para guardar os pratos e os tachos, e dois bancos, um rádio e a máquina de escrever completavam a mobília
Naquela casa já viviam a dona da casa, com uma filha e um filho, maiores de idade, e outro casal com um bebé. Por cima, no primeiro andar, vivia o saudoso maestro José Atalaya, que nos deixou recentemente. Todas as noites adormeciam ao som dos seus ensaios
Voltou a matricular-se na Escola Académica, para fazer o segundo ciclo liceal. Teve a sorte de ter três professores excecionais: o de português, um camoniano, que andava a elaborar um dicionário de “ Os Lusíadas”, O professor de ciências, que tinha o programa gravado na memória, obrigando-os a escreverem o que ele ditava, a grande velocidade, alegando que, como não tinham tempo para estudar, aquela era a melhor maneira de aprenderem qualquer coisa. Mas, havia uns indisciplinados, que o interrompiam, para fazerem perguntas, que poderiam ficar para o fim da aula, obrigando-o a ter de rebobinar ate chegar ao que estava a ditar. Depois do 25 de Abril, foi à televisão explicar como se distinguia o bacalhau do pixilim. O de matemática, que conseguia fazer com que as enormes expressões algébricas deixassem de ser um bicho-de-sete cabeças. Defendia a utilização da Televisão, para reduzir a enorme taxa de analfabetos. Aquando da apresentação disse que estava disponível, aos sábados à tarde e nas manhãs de domingo, para tirar todas as dúvidas, aos que quisessem e pudessem aproveitar
Nesse ano não fez nenhuma disciplina. Mas, ficou o fermento para quando saísse da tropa, para onde foi, pouco depois do ano escolar acabar. A mulher voltou para a casa dos pais. Aos vinte sete meses de casados nasceu a primeira filha
O ter conseguido subir um degrau no ascensor social, fez com que conseguisse cumprir o Serviço Militar, na classe de Sargento, que para além do estatuto, contribui-o para que, a parte do vencimento que podia ser recebida na Metrópole, cerca de 90 mil escudos durante a comissão, desse para remodelar a velhinha casa, que o sogro tinha feito, sem casa de banho, sem água canalizada, nem eletricidade. Havia, apenas, uma torneira no quintal. Mas, mesmo assim, o dinheiro não deu para ligar a eletricidade do poste exterior para dentro de casa: 7.500 escudos, pagos com os últimos ordenados da tropa. A esposa teve de fazer de servente, muito tendo trabalhado, para ter uma casa com comodidades e dar ao marido, ainda mais alegria à sua chegada. Quando lhe perguntou do que é que ele tinha gostado mais, a resposta foi: “a casa de banho”
Aqueles que nascem, onde já há todas as condições, não sabem dar valor ao que é subir a vida a pulso.
Ainda há pessoas que se questionam se vale a pena estudar! Sem dúvida, que vale a pena estudar, mesmo que não contribua para uma melhoria material, o ganho pessoal, não há dinheiro que o pague. Assim, devemos investir tudo o que podermos na educação dos filhos ou netos, porque é um investimento que não podem vender nem hipotecar, só o podem usar
Quando regressou da guerra, o José continuou a estudar. A mulher atou-o ao mar, e ele não se quer libertar. Ainda trabalhou, perto de casa, ano e meio, mas arranjou trabalho em Lisboa, a ganhar quase o dobro, o que fez com que se tenha sacrificado a perder quatro horas, por dia, em transportes, por mais quase trinta anos
Viver nove anos em Lisboa, foi um grande privilégio, porque tinha tudo à mão: cinemas, teatros, museus, jardins ……………
Quem estiver interessado em saber mais, sobre a vida militar dele, pode fazê-lo em: https://socieadeperfeita.blogs.sapo.pt - Mazelas
José Silva Costa
Brasões!
Lisboa nunca foi capital de nenhum império
Lisboa nasceu na era do Doutor Medida
É tão jovem, que ainda não atingiu a maior idade!
É uma jovem cidade, pintada de todas as cores
Para não ofender os Doutores
Vai ficar sem os brasões!
A Praça do Império vai passar a chamar-se: Praça do Doutor Medida
A Rua do Poço dos Negros vai passar a chamar-se: Rua Doutor Medida
O café Império nunca existiu, nem a Casa Africana!
Para quem não pode ver um brasão, que não morra de ataque do coração
Como é que consegue continuar a falara a língua dos Imperialistas, Colonizadores, Esclavagistas?
O Doutor Medida bem pode mandar tudo arrasar
Mas, cortar a raiz ao pensamento, não vai conseguir
Poderá Lisboa sobreviver à era Medida|
José Silva da Costa
Carlos do Carmo deixou-nos
O País está de luto
Lisboa ficou viúva
Perdeu o seu cantor
É tão grande a sua dor!
Ela era a sua flor
Aquele que mais a cantou
Que a todos encantou
Cada esquina o escutou
Lisboa, com ele, dançou!
Ruas e vielas, com ele, ficaram mais belas
Hoje, ninguém saiu à rua!
A cidade ficou nua
Lavada em lágrimas, chorou em casa
Não se conforma com a perda da sua voz
Nos jardins, todas as rosas choram lágrimas perfumadas
Nos seus perfumes, as suas canções, ficarão eternizadas
Nas ruas, praças, colinas e elevadores serão lembradas
Por todos continuarão a ser cantadas
Pelas gaivotas, para o mundo, serão levadas
Para sempre, ficarão gravadas, nas calçadas!
José Silva Costa
As mazelas da guerra
Continuação
As férias
Não me consigo lembrar como fui do Audulo para o Alto Hama, ou Alto Uama, o grande entroncamento nacional das rodovias Transnacionais que fazem parte da Rede Rodoviária Transafricana, onde muitos pernoitam, para descansarem das longas viagens
Tenho uma vaga ideia de ter lá dormido, e no dia seguinte ter perguntado se alguém ia para Luanda, e se me dava boleia. Um senhor disse-me que ia para perto de Luanda, e eu disse-lhe que valia mais estar perto que longe
Um bom carro, boa velocidade e uma caçadeira a meu lado. Quando entrei no carro, ainda fiquei um pouco preocupado, sem saber para que serviria a caçadeira
Passados uns bons quilómetros, avistámos um animal, muito ao longe, abrandou e disparou, e mais umas quantas vezes, durante a viagem, sem que tenha acertado, acho que era mais o gosto de disparar
Quando chegou ao destino, vimos uma camioneta carregada de sacos de farinha, ele conhecia o condutor, sem sair do carro, perguntou-lhe se me podia levar, para Luanda
Foi sair do carro, entrar na camioneta, até parecia que estava tudo combinado!
Finalmente, em Luanda, para a minha primeira viagem de avião. Oito horas, das 24 às oito, sobre o Atlântico, porque, devido à guerra, não podíamos sobrevoar os países africanos, foi uma ótima experiência
Em agosto de 1970, de férias na metrópole, ainda as férias iam a meio, recebi uma carta de um camarada, onde me dizia que a nossa Companhia tinha sido mobilizada para uma operação numa zona de minas, mas não eram de petróleo, uma viatura já tinha ido pelos ares
Como estava a preparar o lume, para um churrasco, a carta foi direitinha para o lume, para que não fosse mais uma preocupação para a minha mulher, que nunca soube da receção da mesma
No início das férias já tinha tido um percalço, em Angola nunca tive paludismo, mal cheguei a casa fiquei com paludismo: febre a chegar aos 40 graus, a transpirção era tanta, que a minha mulher estava constantemente a trocar os lencois
Enquanto a médica não veio, pedi-lhe para chamar um enfermeiro, para me dar um injeção que baixasse a febre, já não aguentava mais, uma temperatura tão alta
A médica queria mandar-me para o Hospital Militar, eu não queria passar umas férias, que me custaram uma fortuna, paga a prestações, à TAP, para passar um mês com a mulher e a filha, no Hospital Militar, pedi-lhe que me receitasse uma injeção de resochina, o mais difícil foi encontrá-la, mas foi remédio santo
Ao contrário do que acontecia em Angola, que os dias pareciam meses, os 30 dias férias passaram a correr
Quando me despedi da minha filha, com 20 meses, que dizia, sempre, a quem se despedia dela, “até logo”, foram as palavras que durante mais tempo, mais martelaram a minha cabeça, porque no momento pensei, ou até nunca mais!
Continua
Mazelas da guerra
Continuação
A recompensa
Passados 9 meses, estávamos, de novo, em Luanda
Quando chegámos, acompanhei o Capitão ao Quartel-General, onde nos aguardava um Brigadeiro
O Capitão fez-lhe continência e manteve-se em continência, enquanto ele falava, perguntava o que tinha sucedido ………..
O Capitão manteve-se quedo e mudo, até o Brigadeiro corresponder à continência
Como uma parte da tempestade já tinha passado, o Capitão justificou por que razão foi impossível controlar os condutores civis, tudo acabou em bem
Passámos alguns dias em Luanda, antes de seguirmos para os nossos novos destinos
Acabados os dias de férias em Luanda, saímos em direção ao novo paraíso, numa extensa coluna militar, desta vez, em direção ao Sul
Fomos distribuídos por quatro povoações. Ao meu pelotão coube a bonita Vila do Andulo, terra natal de Jonas Savimbi, líder da UNITA – União Nacional para a Independência Total de Angola
Não podíamos ter sido melhor recebidos, ainda não tínhamos autorização para sairmos das viaturas, já estas estavam rodeadas de civis, o inverso do que tinha acontecido no Norte
Ficámos instalados numa casa civil, nunca apagámos as luzes, porque a produção da barragem era superior ao consumo
Havia uma coabitação harmoniosa entre civis e militares. Eramos convidados para os bailaricos, aos sábados à tarde, na Sociedade Recreativa
O nosso mais famoso futebolista, que não pertencia ao meu pelotão, foi logo cobiçado por o clube de futebol, local. Mas havia um pequeno detalhe, não tinha concluído a quarta classe, tudo se resolveu com a conclusão e a sua inscrição na Federação
Fazíamos patrulhas ao nível de secção, numa das patrulhas vimos uma escola em funcionamento, construída em tijolo, muito arejada, não tinha janelas nem porta, a Professora foi muito amável para connosco, esforçou-se para que os alunos falassem em português, mas poucas palavras disseram
Numa outra patrulha encontrámos um comerciante, cuja camioneta estava atascada, e havia já umas boas horas que esperava que alguém passasse e o ajudasse. Com a ajuda de uma árvore, onde prendemos o guincho da nossa viatura, conseguimos que a camioneta voltasse a andar
Camaradas nossos, também em patrulha, foi-lhes pedido que transportassem uma grávida, cujo parto estava complicado, para uma Missão
Na povoação mais distante do nosso raio de ação, vivia um casal de madeirenses, que tinham um comércio, eram os únicos europeus da povoação. Gostavam muito das nossas visitas, pernoitávamos na casa deles, só nos pediam que lhes levássemos pão.
Um dia, quase ao fechar da loja, entrou uma senhora com um açafate cheio de grãos de café, pedindo que o pesassem.
Fiquei sem saber o verdadeiro objetivo, mas penso que quereria saber, quando trouxesse todo o café, os quilos que tinha a receber
Aquele casal comprava-lhes o que produziam ou pescavam e vendia-lhes o quisessem comprar, ainda lhes arranjavam alguns medicamentos. A povoação ficava perto do rio Quanza
Foram estes poucos e pequenos gestos de humanidade que, quanto a mim, deram alguma recompensação aos nossos sacrifícios
Tantas vidas perdidas, tantos recursos mal gastos, que ainda hoje estamos a sofrer as suas consequências
Aproximavam-se as férias, o mês de agosto na Metrópole, na companhia da filha e da mulher, depois de mais um ano sem as ver, o tempo parecia não passar
Converter angulares em escudos era muito difícil, muitos queriam ter um pé-de-meia na Metrópole, podia-se converter 7.000,00 angulares em escudos, por cada viagem à Metrópole. Assim, abri a minha primeira conta bancária, no único Banco do Andulo, Banco Pinto & Sotto Mayor, que quando foi inaugurado, alguém conseguiu ler: “ branco, tinto e copo maior”, depositei 7.000 angulares e recebi 7.000,00 escudos, em Lisboa
À boleia do Andulo para Luanda, para apanhar o avião, para Lisboa.
Continua
Cabecinha pensadora
Num tempo em que todos morrem de amores pelo Interior
Quando todos dizem querer ajudá-lo a sair do inferior
Aparece um autarca a exigir que os passes dos transportes públicos baixem
O que é uma coisa boa!
Mas, pediu esta medida, só, para a sua Câmara e arredores
Custeada pelo Orçamento Geral do Estado
Corroborando a ideia, que se esperava apagada, de que Portugal é Lisboa, o resto é paisagem
Portanto, o Interior pode continuar a contar com o apoio de todos, mas só com beijinhos e abraços
No Interior, em muitas localidades, nem transportes públicos existem, quanto mais passes!
Na capital há escolhas, no Interior, muitas vezes, a única escolha é o carro de aluguer
Por causa das cabecinhas pensadoras é que o Interior está abandonado
E, as grandes cidades estão a rebentar pelas costuras.
José Silva Costa
Asas – A 380
O gigante dos ares aterrou, pela primeira vez, em 23/07/2018, no aeroporto de Beja, o único em território nacional, com capacidade para o acolher
Beja está a ganhar notoriedade, num país pequeno, onde muitos não conseguem ver para além da sua rua
Se temos uma infraestrutura, que faz a diferença, qual a razão para não aproveitá-la?
A mesma de sempre: está localizada no interior!
Senhores políticos deixem-se de provincianismos bacocos e complexos de inferioridade
Lisboa será sempre a capital, mas o resto não será só paisagem, se não continuarem a desfazer o que está bem, só para alimentarem as vossas vaidades
Não conseguiram encontrar melhor maneira de compensar o Porto, por não ter conseguido que a Agencia do Medicamento viesse para a Cidade Invicta, do que dar cabo do Infarmed?
Honrem a morte de mais de uma centena de pessoas, desenvolvendo todo o país, pensando no bem das pessoas, e não no vosso umbigo
Passam o tempo a cantar êxitos, mas continuamos na cauda da Europa!
Para além de sermos um pequeno, pobre, país, os políticos estragam o pouco que temos
Fazem, desfazem, ficam sempre com a maior parte
Para quando as mil vezes anunciadas leis, para dificultar a corrupção?
José Silva Costa
Lisboa, quanto mais velha, mais rapariga
Nos meados do século passado
Atrasada, sem brilho, nem fachada
Fechada no orgulhosamente só
Eras uma capital sem atração fatal
Nada de genial: carroças, olarias, tabernas e pregões:
Ferro velho -“Quem tem trapos, garrafas ou jornais para vender”? (comprava de tudo)
Vendedora de figos -“Quem quer figos, quem quer almoçar”?
Aguadeiros de Caneças -“Água fresca, água de Caneças” ( percorriam as zonas nobres da cidade, com camionetas carregadas de bilhas de barro, com água de Caneças )
Varina- vendia peixe -“Oh freguesa, venha cá abaixo ver isto!
É sardinha vivinha da costa” (transportava o peixe, numa canastra, sobre uma rodilha, à cabeça
Ardina, vendia jornais -“Século, Diário da Manhã, República, Diário de Lisboa e Diário de Notícias”
Por causa do pregão dos jornais, conta-se a seguinte anedota
Um compadre alentejano, depois de vender a cortiça, resolveu ir a Lisboa, depositar o dinheiro
Apanhou o comboio, quando se apeou no Barreiro, mal saiu, logo ouviu: cerca o da cortiça, ….
Pensando que o queriam roubar, voltou para o comboio. Quando chegou a casa, contou o que lhe tinha acontecido.
As lavadeiras de Caneças com as trouxas à cabeça, todas as semanas entregavam a rouba lavada e recebiam a suja, para irem lavar
“Um lençol, um corpete, uma camisa, que a freguesa deu ao rol”
Com o aparecimento da máquina de lavar roupa, lá se foi a profissão
As lavadeiras ficaram sem o ganha-pão
As senhoras da fidalguia não trabalhavam, salvo raras exceções
Tinham criadas: uma, duas ou mais
Que viviam nas casas dos patrões
De quinze em quinze dias, ao domingo à tarde, tinham umas horas de folga, para poderem namorar
Como ninguém imaginava como seriam os futuros supermercados
Tudo lhes era levado a casa, pelos marçanos, carvoeiros, leiteiros, padeiros, ardinas, lavadeiras
Que rica vida, comparada com a de hoje, a da fidalguia!
Surgiu a televisão, a esferográfica, o metropolitano, o self servisse e muitas outras novidades
A esferográfica e a sua utilização: um advogado entrou num estabelecimento e gritou, “ com esta esferográfica já se podem assinar cheques e escrituras, foi publicado, hoje, no diário do governo. A caneta de tinta permanente, morreu”
A guerra levou todos os jovens para o ultramar
Os que voltaram não quiseram às suas terras voltar
Carris, PSP, GNR, comércio e indústria, nada de agricultura
Com as fronteiras fechadas, foram a salto para França, Suíça, Alemanha
Com as sus poupanças engordaram a Banca
Não faltavam anúncios, nas montras dos Bancos, anunciando a galinha dos ovos de oiro: as ações
Naqueles tempos, já o suplemento o Diário de Lisboa: a Mosca, lhes chamava, por palavras codificadas, os donos disto tudo
Neste jardim à beira mar plantado, tudo tinha de ser codificado, para que, pela PIDE, não fosse, apanhado (PIDE: polícia Internacional de defesa do Estado)
Da liberdade, só nos tinha ficado, a da avenida” ( Avenida da Liberdade)
Liberdade, liberdade, quanto sangue e lágrimas nos, fizeste, derramar?!
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.