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Adeus junho, até para o ano!
Junho está a terminar
O mês dos Santos Populares está a acabar
Foi um mês de muita folia e alegria
Como que uma preparação para as férias
Estamos todos desejosos de recuperar o tempo perdido
Parece que não aprendemos, com a pandemia, o devido
Continuamos nas correrias, como se nada tivesse acontecido
Para além da pandemia, estamos a sofrer as consequências de uma guerra
Continuamos “ naquele ingano d´alma ledo e cego/ Que a fortuna não deixa durar muito…” (1)
Não podemos ser só cigarras, também temos de ser formigas
O verão passa num ápice
O outono e o inverno podem ser frios: um inferno!
Temos de nos preparar para os novos tempos
A falta de energia pode ser um grande contratempo
No verão, ainda, podemos dormir ao relento
Mas no inverno o melhor é termos um bom teto
O que todos os pobres ambicionam
Onde possam, as poucas horas de descanso, passar
Como é bom termos uma casa para nos acarinhar!
Todos os dias quando chegamos cansados do trabalho, do duro dia
Num mundo tão desigual muitos nunca, esse carinho, vão saborear
Nem sequer têm uma almofada onde o sono deitar.
José Silva Costa
Os céus!
Os céus estão revoltosos, de cor de fogo
Este inverno parece um inferno
Os elementos revoltaram-se contra os tristes eventos
Não há rosas, nem suaves momentos
Só tempestades e ventos!
Não há brilho, nem sol que nos aqueça
Que despedida mais avessa!
De quem passou, quase todo o tempo, com uma promessa
De que seria um inverno vestido de Primavera
Mas, o homem rasgou a razão e avançou com o canhão
E, os tempos não ficaram indiferentes
Foram ao mal buscar as sementes
Para castigarem todas as gentes
Que colaboraram com mentes doentes
A esperança é que chegue depressa a Primavera
Que traga perfume e amor, e leve a guerra
Que os céus voltem a brilhar, sem poeiras, nem bombas
E se encham de pombas brancas
Que vença a paz!
Já que o homem não é capaz
De olhar para o outro como irmão
Tanto ódio, tanta violência, tanta destruição
Em vez de um abraço e um aperto de mão!
José Silva Costa
Um inverno diferente
Sem chuva, para um vão contentamento
De muita gente, que não o entende
Este inverno que mente
Que em vez de chuva, nos dá sol
Que nos quer conquistar pelo brilho do anzol
Que nos quer matar à sede
E que quer, que lhe agradecemos, por nos dar sol
E há tanta gente a morder o anzol
A agradecer o bonito e belo sol
Como se não precisássemos de comer e beber
Mas, é tão agradável o teu sol
Sol de inverno!
Que este ano nos levará ao inferno
Sem água! Pessoas, animais e plantas não resistirão
Com trigo sem grão, não haverá pão!
Haver fome, ou não!
Está na tua mão, meu inverno mandrião
Não te deixes envaidecer
Por aqueles que acham que podes ser só sol e amor
Tu tens de fazer chover, nevar, e a todos enregelar
Não és Estação para flores, perfumes, coisas fofinhas, sem dores
Deixa isso, para a tua amante: a Primavera
De ti esperamos rigor, noites quentes à lareira
O cheiro da flor de laranjeira
Não puder passar a ribeira
Ficar no outro lado a ver a água baixar
À espera de poder, a namorada, abraçar
Mesmo que ela fique no escuro da lua.
José Silva Costa
12/02/2005
A seca
O dia é de primavera
A noite de Inverno
A chuva não aparece
Tudo, com o frio, esmorece
Não há erva, nem trigo
As pessoas e os animais
Sob o mesmo castigo!
Que a água falte no verão
Já o Alentejo está habituado
Mas em pleno inverno
É arder no inferno.
Os ovinos e bovinos
Com os focinhos
Varrem os campos
Acariciam o chão
Tudo em vão
Morrem de fome
Naquela que era a melhor estação.
Os Montes outrora, caiados,
Estavam repletos de gente
Agora, todos, desboroados.
Nem a liberdade!
Com os seus progressos:
Estradas, água, luz
Conseguiu evitar a debandada
Porque chegou atrasada.
As modestas habitações
Completamente desventradas
Com as partes íntimas
Em exposição:
Ao vento, ao sol, à lua
Num silêncio estarrecedor
Ouvem-se as almas reclamar,
Porque a iluminação pública
Passa a noite a incomodar
Quem, em vida, só tinha o luar!
Que tristeza observar
As velhas pedras a chorar
Por não terem quem agasalhar:
Nem mulher, nem homem
Nem cão, nem gato, nem pardal.
Assusta, o barulho das oliveiras, sobreiras e azinheiras
A sonharem com uma gota de água.
José Silva Costa
Cumbre Vieja
Vulcão
Sonhos interrompidos
Vidas paradas
Lares queimados
Por um vulcão zangado
A mais bonita ilha: La Palma
Transformada num inferno
Meio século a dormir
Acordou estremunhado
Para matar tudo
Raivoso de lava
Não para de tudo ameaçar
Onde pode um sonho descansar?
Que não se levante um vento para o acordar
Ter de tudo abandonar
Para a vida salvar
O trabalho de uma vida entregue ao ar
Até que a lava o venha buscar
Ver o mar chorar
Por o fogo o queimar
Sem ar para respirar
O fumo a impedir os aviões de levantar
Rios de lava encosta abaixo
O desespero de um mar de gente
Impotente para lhe fazer frente.
José Silva Costa
Amor & guerra (16)
Quando chegaram a Santa Apolónia, em Lisboa, apanharam um táxi, e foram os quatro para o hospital, para, finalmente, verem como estava o Carlos
Assim que chegaram ao hospital, a Mequilina pediu ao plantão para falar com o enfermeiro
Disse-lhe que eram as visitas do soldado número 500, Carlos. Era a primeira visita, e que vinham acompanhados do filho, que ele ainda não conhecia, se poderia arranjar um sítio onde o pudessem ver, porque o menino não podia entrar na enfermaria
Foram encaminhados para uma salínha, onde esperaram pelo Carlos
Pouco depois trouxeram o Carlos, um maqueiro empurrava a cadeira de rodas
A mãe agarrou-se a ele, a chorar, a aperta-lo como se quisesse pegar-lhe ao colo
Ficaram minutos agarrados, sem dizerem palavra, até que ela lhe perguntou por que é que não andava, e ele respondeu-lhe que tinha sido ferido na perna esquerda
A seguir o pai abraçou-o e beijou-o, trocaram poucas palavras. Por último a Mequilina colocou-lhe o filho no colo, ficaram os três abraçados e a beijarem-se. O Carlos estava muito feliz por, finalmente, estar a abraçar o filho e a namorada. Aproveitou para lhe dizer, baixinho, que lhe tinham amputado, à perna esquerda, abaixo do joelho, e que os médicos lhe tinham garantido, que com uma prótese ficaria a andar bem
Carlos sugeriu-lhe que fosse mostrar o filho, aos antigos patrões dela, até podia ser que os deixassem lá dormir, para poder ir visita-lo, no dia seguinte, porque, ainda, tinham muito para conversar, e estariam mais à vontade, sem a presença dos pais dele
Terminada a visita, despediram-se e saíram. Cá fora, a Mequilina informou os futuros sogros, que não os acompanharia no regresso a Braga, porque ia visitar os seus antigos patrões
A Marina mostrou-se surpreendida, mas a Mequilina disse-lhe que tinha sido uma sugestão do Carlos, para poderem visita-lo no dia seguinte
Pela primeira vez despediram-se do neto, já estavam completamente embebecidos por terem um neto. Ao despedirem-se da Mequilina , prometeram verem-se em breve, queriam ver o neto crescer
Também chegou a hora da Bárbara ver o Firmino entrar-lhe pela porta dentro, com um bonito ramo de rosas, para lhe oferecer
Com os rostos banhados de felicidade, ficaram, tempo sem fim, a beijarem-se, com os corpos unidos, como se fosse só um
Antes que ela lhe perguntasse, ele apressou-se a explicar-lhe, quanto tinha sido difícil os pais aceitarem a sua decisão. Quanto à mobilidade, nem valia a pena falar, estradas esburacadas, minadas, troços só com escolta militar, dias e dias para fazer meia dúzia de quilómetros: um inferno!
Continua
Amor & guerra (5)
A Companhia do Carlos já tinha sofrido várias emboscadas, acionado muitas minas: um inferno! Alguns mortos, muitos feridos, mas o Carlos saiu ileso.
Entretanto, a Miquelina já tinha tido o menino. Correu tudo bem, foi assistida pela mãe e uma vizinha.
Assim que pôde, a Miquelina escreveu para o namorado, informando-o do nascimento do filho, dizendo-lhe que era parecido com ele, pedindo-lhe para dizer que nome é que gostava de pôr ao filho, e assim que tivesse uma fotografia, enviar-lha-ia
A Barbara estava muito preocupa com o parto. Não havia médico, nem enfermeira, nem parteira. Não sabia a quem pedir ajuda, mas as empregadas sossegaram-na, dizendo que já tinha assistido algumas parturientes
O Carlos, quando recebeu a notícia de que era pai de um menino, deu pulos de contente, fazendo com que os camaradas pensassem que não estava bem, não cabia em si de contente
Mas, como há sempre quem não goste de ver ninguém feliz, um deles perguntou-lhe se tinha a certeza que o miúdo era filho dele
Carlos indignou-se, disse que tinha toda a confiança na Miquelina, e não falava mais sobre o assunto
Miquelina estava ansiosa por receber notícias do Carlos, era preciso registar o filho, e ela queria que fosse o pai a escolher o nome. Tinha-lhe escrito a dizer que não se importava que fosse Miguel, mas o nome que ele escolhesse, é que seria o nome do menino
Já tinha caído em desuso, serem os padrinhos a escolher o nome dos afilhados, que consoante o sexo, era o nome da madrinha ou do padrinho
Carlos estava envolvido numa grande operação, composta por três companhias, que tinham como missão fazer recuar os guerrilheiros para fora do território angolano, a Norte. Operação que poderia demorar mais de um mês, fazendo com que não pudesse responder à Miquelina.
Continua
Cinzas
O verde transformou-se em negro
O sol espalhou o medo
As pessoas enfrentaram o desespero
O fogo engoliu-as
Tudo desapareceu
Até o céu morreu!
Só o fumo permaneceu
Agora, nem pessoas, nem casas, nem fábricas
Tudo ardeu
Ficou o desemprego
Não há sombras, nem sonhos, nem esperança
Nada permaneceu
Toda a Natureza cedeu
José Silva Costa
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