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Liberdade!
Naquela radiosa e inesquecível madrugada o mundo floriu
Os portugueses, finalmente, conquistaram a Liberdade e o seu império caiu
O Movimento das Forças Armadas pôs fim a uma guerra de 13 anos
E, a uma ditadura de quase meio-século, que tanto os povos molestou
Que custaram muitas vidas, muitos estropiados, muita miséria e dor a todos os povos envolvidos
Foi uma Revolução recebida com muita alegria e muito festejada em todo o lado
E não era caso para menos, foi um farol para a Liberdade e, para alguns povos, um passo para a dignidade
Um acontecimento à escala mundial, cuja bandeira é um cravo vermelho
Uma Senhora, vendedeira de flores, teve a feliz inspiração de colocar um cravo vermelho no tapa-chamas de uma G3, que um soldado empunhava
Pode dizer-se que foi como que um pedido para que não utilizassem as armas
E tinha tanta razão, já tínhamos utilizado as armas durante tempo demasiado!
Todos os minutos que consigamos viver, com armas caladas, são minutos de grandes vitórias
Os que precisam da força das armas para atacarem os outros, sãos os que não têm a força da razão
Não foi assim tão fácil, depois dos cravos e das rosas vieram os espinhos!
Foi um parto difícil, ao longo de mais de um ano, mas deu ao Mundo meia dúzia de novos países
Que, depois de cinco séculos de colonização conseguiram a libertação
Nunca mais assistiremos a um primeiro de Maio como o de 1974
Uma festa para todos, ainda não tinha chegado sectarismo dos Partidos
As ruas e as praças de Lisboa foram pequenas, para acolherem tanta gente
Havia uma alegria radiante estampada nas rugas da martirizada gente
Não deixem que este dia caia no esquecimento, porque isso seria uma grande injustiça para quem deu a vida para que tenhamos Liberdade
Muitas e muitos pagaram com a vida, por terem desafiado o ditador, que tinha como braço armado a PIDE, capaz de toda a violência e de todo o terror.
José Silva Costa
Amor & guerra (39)
A Sara disse ao irmão que não podiam abandonar o pai, porque, para além de ser deficiente, era pai deles
Mas, o Miguel respondeu-lhe que ficaria ao lado da mãe, porque o que ele tinha feito não tinha perdão, e ela, como mulher, também não o deveria perdoar
A irmã disse-lhe que como mulher não o perdoava, mas como filha estaria sempre a seu lado
Disse ao irmão que os pais e os filhos não se escolhem, amam-se. Todos os pais fazem tudo o que podem pelos filhos, cabe aos filhos fazerem o mesmo, pelos pais
A Bárbara foi visitar a Miquelina para lhe pedir perdão por ter contribuído para a desgraça que se tinha abatido sobre a sua família
A Miquelina disse-lhe para não se martirizar, porque também ela tinha sido enganada e que não tinha tido culpa nenhuma, não tendo como saber se ele era comprometido ou não
Ambas concordavam que a guerra tinha sido uma grande tragédia para todos
Tantos mortos e mutilados, e elas: uma com um filho e a outra com uma filha nos braços, para alimentarem o Império, caso os militares não tivessem acabado com ele
Foi um preço muito elevado, o que tinham pago pelo fim do Império, mas continuar com a guerra teria sido, ainda, muito mais doloroso, tanto financeiramente, como em custos humanos!
A Miquelina sentia que o seu divórcio, devido à independência de Angola, sem a qual nunca saberia da existência da Sara, seria o preço a pagar, por o filho já não ir para a guerra, não teria de passar por o que o pai tinha passado, teria oportunidade de ser feliz, que é o que todos pais desejam para os filhos
A Sara estava muito preocupada, por todos estarem contra o pai. Por isso, resolveu ir ao Banco falar com o pai, que a convidou para ir almoçar com ele, aproveitando para a informar das circunstâncias em que aconteceram os relacionamentos sexuais com a mãe, para que soubesse o que tinha acontecido, pedindo-lhe para não o condenarem, antes de todos saberem o que tinha acontecido
A Sara prometeu-lhe que iria tentar marcar uma reunião, em que todos tivessem presentes, para que tudo fosse esclarecido e todos ficassem a saber a verdade
Que estivesse descansado, quanto ao comportamento da mãe, porque ela conheci-a bem e sabia que, sempre, diria a verdade, porque foi isso que ela lhe ensinou
Conseguiu marcar a reunião, na casa do pai, em que todos estariam presentes, queriam que tudo se esclarecesse
A mãe agradeceu-lhe ter conseguido que concordassem com esse encontro, disse-lhe que estava muito orgulhosa dela, por nunca desistir dos seus objetivos.
Continua.
Amor & Guerra (9)
O Carlos escreveu à Miquilina, dizendo-lhe que tinha ficado encantado com as fotografias, que tinham um filho muito bonito, e que ela estava, cada vez, mais bonita
Miquelina ficou radiante por o Carlos estar encantado, não só com o filho, mas também com ela
O Januário, finalmente, teve tempo para ir visitar a Bárbara. Há muito que o queria fazer. Mas, o posto médico estava sempre cheio, porque o comandante tinha determinado que fosse dada assistência médica aos civis, uma vez que, na Vila, não havia mais ninguém que prestasse esses cuidados, e a Missão ficava a mais de vinte quilómetros da Vila
A Bárbara ficou muito contente com a visita. Aproveitou, mais uma vez, para lhe agradecer tudo o que tinha feito por ela e pela sua filha. Pediu-lhe para transmitir ao comandante o reconhecimento, de toda a população, pela preocupação em minimizar os seus problemas
Depois daqueles agradecimentos, ele ganhou coragem para lhe dizer quanto gostava dela, e que a ajudaria a criar a Sara, como se fosse sua filha
Ela ficou encantada com aquelas bonitas palavras, e chegou a pensar em aceitar o namoro
Mas, a conversa continuou, e ela aproveitou para o questionar sobre a guerra e o futuro
Ele respondeu que a guerra, mais-dia-menos dia a guerra acabaria, e que Portugal continuaria a ter um grande Império
A Bárbara estava totalmente em desacordo, e disse-lhe que ninguém sabia quando a guerra acabaria e que mais tarde ou mais cedo, Portugal tinha de dar a independência às suas Colónias, como tinham feito todas as outras potências colonialistas
E disse-lhe que Portugal devia ter aproveitado a fazer, com os líderes dos movimentos independentistas, um acordo, para uma independência amigável, antes de terem iniciado as guerras da independência, quando eles estudavam na Metrópole
Porque, primeiro era preciso criar um exército nacional, que garantisse a unidade nacional, evitando que os movimentos tivessem pegado em armas
A seguir falaram do futuro. A Bárbara queria sair daquela Vila, ir para uma grande cidade onde a filha pudesse estudar, enquanto o Januário não se importava de ficar ali, para sempre
Por fim, acabou por lhe dizer que não podia aceitar o pedido de namoro, porque tinham aspirações muito diferentes, quanto ao futuro
O Januário ficou muito surpreendido com a decisão da Bárbara. Era muito diferente da mãe dele, que era uma mulher que dependia do marido: aqui me queres, aqui me tens, enquanto a Bárbara tinha a ambição de ir para a Metrópole, para Lisboa ou Coimbra, onde sonhava ter estudado, mas os pais nunca consentiram que saísse daquela Vila
O Januário teve o amargo sabor de saber que as mulheres são difíceis de entender, que são caixinhas de surpresas, com uma grande força, que a maternidade lhes confere, fazendo com que sejam determinadas, sonhadoras, exigentes.
Continua
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