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Abandono!
Chamas venenosas por todas as encostas
Aceleradas pelo vento, matam tudo por onde passam
As pessoas assistem, indefesas, ao roubo de bens e vidas
Rezam, mas as chamas não as ouvem e continuam com as suas investidas
As lágrimas sulcam-lhes as faces e inundam as rugas
Como se quisessem apagar as chamas
Arderam os animais, as plantas, as casas e as camas
O trabalho de muitas vidas, em pouco tempo, desaparecido
Nos choros sustidos, afogam-se os gritos, para não magoarem os sentidos
Corpos abandonados, às dores, vagueiam no fumo espesso dos horrores
Um silêncio aterrador inunda os campos ardidos
Todos os anos se repetem as tragédias dos incêndios
Abandonados e vergados pelos anos não conseguem retomar a vida
Se ninguém os ajudar, em breve vão definhar
Ninguém aguenta voltar a perder tudo quando se estava a reerguer
Os políticos papagueiam, como se soubessem tuto
Têm o seu sustento garantido, com o rendimento certo ao fim do mês
Saberão quão duro é arrancar, da pouca e pobre terra, o sustento?
Não é com palavreado, nem discurso estafado, muito bem preparado
Mas com muito trabalho, suado, à chuva, ao frio, ao sol
Sob o peso dos impostos
Para um dia perderem tudo
Que, para muitos, é nada!
Uns tarecos velhos, sem utilidade
Para os que vivem em palácios
Que conhecem o mundo
Que nunca precisaram de contar os cêntimos
Que não sabem nada
Do trabalho necessário, para produzir os seus alimentos.
José Silva Costa
Adeus junho, até para o ano!
Junho está a terminar
O mês dos Santos Populares está a acabar
Foi um mês de muita folia e alegria
Como que uma preparação para as férias
Estamos todos desejosos de recuperar o tempo perdido
Parece que não aprendemos, com a pandemia, o devido
Continuamos nas correrias, como se nada tivesse acontecido
Para além da pandemia, estamos a sofrer as consequências de uma guerra
Continuamos “ naquele ingano d´alma ledo e cego/ Que a fortuna não deixa durar muito…” (1)
Não podemos ser só cigarras, também temos de ser formigas
O verão passa num ápice
O outono e o inverno podem ser frios: um inferno!
Temos de nos preparar para os novos tempos
A falta de energia pode ser um grande contratempo
No verão, ainda, podemos dormir ao relento
Mas no inverno o melhor é termos um bom teto
O que todos os pobres ambicionam
Onde possam, as poucas horas de descanso, passar
Como é bom termos uma casa para nos acarinhar!
Todos os dias quando chegamos cansados do trabalho, do duro dia
Num mundo tão desigual muitos nunca, esse carinho, vão saborear
Nem sequer têm uma almofada onde o sono deitar.
José Silva Costa
Folhas caídas
O vento a uivar pelas esquinas
As árvores a tiritarem de frio
Despidas, com o céu vazio
À espera do último arrepio
Sem folhas, mas aprumadas de brio
O vento com o seu assobio
A avisar, que o tempo é esguio
Que a água procura o rio
Com pressa de, ao mar, chegar
É aí que quer ficar
Até as nuvens a voltarem
A derramar, novamente, sobre a terra
Assim se completa mais um ciclo da água
Folhas caídas, árvores despidas
Alamedas atapetadas de folhas molhadas
Que perderam o brilho, estão amarguradas
Destroçadas por serem espezinhadas
De um dia para o outro perderam a sua função
Tiram-lhes o coração
Agora, são lixo no chão
Choram, perderam a ilusão
De que eram úteis e eternas
Perderam as pernas, perderam tudo
Não voltam a vestir as árvores
Não voltam a ter a admiração do Mundo.
José Silva Costa
Frio
Um frio seco cortante
Mais branco que diamante
Deixa-nos num incómodo constante
Gela-nos como morte galopante
Não creio que tenha amante
Porque ninguém gosta de uma companhia tão deselegante
Pronto a gelar tudo num instante
A mandar, para o hospital, um montante
Para matar alguma bicharada é importante
Funciona como um bom desinfetante
Para a planta do trigo é radiante
Faz com que a raiz seja pujante
Não gosta do elefante
Tem um poder muito refrescante
Para uns, dignificante
Para outros muito irritante.
José Silva Costa
O vento
Vento, não faças, das desgraças, o teu sustento
Fazendo com que os pobres durmam ao relento
Modera a velocidade do teu andamento
Quando beijares, as pessoas e os seus bens, não sejas tão violento
Não queiras ser o mau do tempo
Atirando a chuva e o frio contra o nosso corpo adentro
Aplica toda a tua força na produção da energia eólica
Uma energia limpa e perfumada
Um presente para o futuro
Vindo da natureza, cheio de ar puro.
José Silva Costa
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