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Naufrágio
Altos pinheiros, o vento a assobiar, no imenso mar
O farol, constantemente a avisar, para o barco não naufragar
O luminoso polícia sinaleiro
Compreendido pelo Mundo inteiro
Com a borrasca a varrer todo o mar
Um barco, ao largo, está com receio de não aguentar
Os marinheiros rezam para que acabe a tempestade
Tão marcados pelos anos, pela idade
Os mais novos, sem experiência de tempestades, não conseguem esconder a ansiedade
Um mar tão amoroso, de repente torna-se tão revoltoso
Parecendo não querer ninguém no seu dorso
Erguendo-se, impetuoso, como que a cuspir fogo
Mais uma furiosa vaga, quase que afunda o barco
Agarram-se uns aos outros, para tentarem afugentar o medo
Mas uma, ainda mais furiosa, atira com o barco contra as rochas
Não era o cais que queriam, do mal-o-menos
Apressaram-se a abandonar o barco
Atiraram-se para cima das rochas e subiram a escarpa ingreme
Escura como breu, mas no alto havia uma povoação iluminada
A placa com a identificação da povoação fez bater o coração
O telemóvel, para pedir ajuda, foi a solução
Desta vez salvou-se toda a tripulação.
José Silva Costa
Flor
Estrela Polar
Num Mundo Lunar
És Rosa
És Mar.
Espiga de Verão
Temperada pelo Sol
És flor
És pão.
Ave reluzente
Num céu atraente
És fogo
És ventre.
José Silva Costa
Últimos, segundos
Vamos lá queimar os últimos segundos
Gastar os euros supérfluos
Que aos serviços públicos conseguiram cativar
E, que se ficarem para o ano, se podem estragar
Que fogo tão bonito para nos fazer vibrar!
Lágrimas a caírem do céu, e o seu rebentar
E nós todos a cantar
Na maior bebedeira coletiva
O álcool é que purifica
Estamos no novo ano, tão felizes e contentes
Queimámos todos os excedentes
Nunca mais nos esqueceremos do Terreiro do Paço
Nem de todos os outros espaços
Onde confraternizámos e festejámos
Todos os nossos sucessos
Naqueles felicíssimos momentos nada nos faltou
Fomos todos abastados
Heróis, mas cansados
Vivam as bebedeiras coletivas
Que nos conseguem trazer tantos momentos de felicidade
Que não há queima de euros que não seja bem recebida e aplaudida
Fazendo-nos esquecer todas as dificuldades diárias
Viva 2019!
José Silva Costa
Os incêndios
O dia dezassete de Junho e quinze de Outubro de 2017, não deviam ter existido
A Natureza, passado um ano, vai dando sinais de recuperar
Os rouxinóis voltaram a ouvir-se cantar
O verde, aqui e além vai rompendo, querendo o negro tapar
Mas, os humanos não conseguem recuperar
Há muito desanimo, muita tristeza, por apagar
Como recuperar a perda de um filho? Diz um pai
Para muitos sobreviventes, já nada conta
Tudo acabou com as labaredas, que tudo comeram
Nada, depois de tantas perdas, faz sentido
Apenas esperam que o tempo faça o seu trabalho
Em todos aqueles rostos há demasiada dor
As imagens mostram-nos o horror
Por mais,que todos as queiram esquecer
Elas teimam em permanecer.
José Silva Costa
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