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Amor & Guerra (14)
A Bárbara desesperava, porque o Firmino nunca mais voltava, nem dava notícias. Estava habituada às dificuldades das comunicações e da mobilidade. Mas já tinha passado mais de um mês!
O irmão do Firmino não quis ficar com o trabalho do irmão. A família ficou surpreendida, nunca tinham visto uma coisa assim. Como é que ele trocava um negócio centenário, que já vinha dos seus bisavós, para se juntar a uma rapariga, que já tinha uma filha!
Até a mãe o interpelou, perguntando o que é que tinha acontecido, para estar assim apaixonado, uma vez que já tinha tido tantas namoradas e nunca se tinha apaixonado
Disse à mãe, que desta vez tinha encontrado a sua alma gémea, tinham nascido um para o outro, que a Bárbara era uma mulher muito bonita, inteligente, muito à frente do seu tempo
O pai, vendo que não conseguia convencer o filho a continuar com o negócio da família, teve de arranjar um empregado, que assumisse as funções do filho
Finalmente, o Carlos ia ter visitas. Quando a Miquelina telefonou para saber se já tinha visitas, informaram-na da data e do horário das visitas
Correu a consultar o horário dos comboios, ver a que horas é que saía de Braga, cidade onde residia, e se chegava a horas da vista. Caso não se atrasasse chegaria meia hora antes de começarem as visitas
Quase um dia de comboio!
Estava desejosa de saber o estado do Carlos, mas ao mesmo tempo muito preocupada com aquele secretismo, que poderia querer dizer que ele não estava nada bem
Estava determinada a levar o Miguel, mesmo contra a vontade dos pais, que achavam a viagem muito longa para uma criança daquela idade. Mas ela não queria voltar a ver o Carlos, sem lhe apresentar o lindo fruto do seu grande amor. Agora eram três, e não dois!
Os pais do Carlos tinham sido informados, das visitas e horário, pelos serviços do hospital. Era o mínimo que o Estado podia fazer a quem criava filhos, para darem a vida pela Pátria
O Carlos é natural de Vieira do Minho, onde os seus pais residem
Eles acham que deviam ter enviado o filho para, um hospital, mais perto
Queixando-se de que está tudo localizado em Lisboa, e o resto do país tem de ir lá
Para irem ver o filho, tinham de andar horas e horas de comboio, sem quaisquer condições
Mas, o que é que não fazem os pais, pelos filhos!
Era preciso arranjar um bom farnel, porque não sabiam quando é que voltariam a casa
Nem quando o filho embarcou tinham ido a Lisboa. Mas, agora estava na cama dum hospital, e já não o viam há quase três anos
Não sabiam como é que estava, porque não lhe quiseram dizer, aquando do telefonema a informarem o horário das visitas, nem no telegrama a informar que tinha sido ferido em combate. Apenas diziam que estava livre de perigo!
Continua
No maravilhoso reino do futebol
No princípio do século XXI
Depois do susto do mundo acabar
Os Governantes, tal como hoje, só queriam era festejar
Encheram o Estádio do Jamor de pessoas, a gritar
Deslumbrados com a conquista de, o euro 2004, realizar
Mandaram, todas as bandeiras, desfraldar
Os mais famosos arquitetos foram mandados, os estádios, desenhar
Nada de orçamentos, apontamentos ou outros constrangimentos
Era preciso mostrar ao Mundo, onde é o reino do futebol
Dez estádios novos foram mandados fazer
Sem quaisquer critérios de localização, acolhedores em dias de nevão, onde houvesse população, qual os custos de manutenção
Os doentes da bola ficaram todos contentes
De norte a sul todos foram contemplados
Alguns, com poucos jogos realizados, parecem ter os dias contados
Quase vinte anos depois, continuamos a pagá-los
Algumas Câmaras têm-se visto em palpos de aranha
A Câmara Municipal de Braga viu penhoradas as suas contas bancárias
Porque ainda deve 3,8 milhões à construtora do estádio
Que rico investimento!
Assim fosse, o que fizemos com os comboios usados, que andam a perder os motores!
Pior que ser pobre, é desperdiçar o que temos.
José Silva Costa
Chips!
Para onde quer que nos viremos lá estamos, todos, com os chips na mão
Hoje, todos andamos de chip em riste, numa onda de navegação
Com um aparelho do tamanho de uma caixa de fósforos, temos toda a informação
Nos jardins, nos cafés, nos restaurantes, nos comboios, por todo o lado, um silêncio ensurdecedor
Acabaram-se as conversas, as discussões, a troca de opiniões, os dedos substituíram essas funções
Outrora, nos comboios da linha de Sintra, havia grupos de amigos, que viajavam sempre na mesma carruagem
Uns jogavam às cartas, outros discutiam os resultados dos jogos de futebol, falando, também, das agruras da vida
Faziam-se amizades, combinavam-se piqueniques, excursões, emprestavam-se livros
Naqueles bancos corridos, cabia sempre mais um, viajávamos como sardinha em lata
Durante as obras de duplicação da linha assistimos a muitas peripécias
Uma mãe arrancava o filho, da cama, às seis horas, apanhava o comboio em Sintra, para ser entregue à avó, na estação do Cacém
Como não se conseguia chegar à porta, porque os comboios circulavam de portas abertas, a abarrotar, a criança era entregue à avó, pela janela, por quem estivesse junto à janela
Numa viagem, no sentido de Sintra para o Rossio, na estação da Amadora, uma jovem, vendo que não conseguia chegar à porta, baixou a janela e saiu, o contato com o cascalho, foi um pouco violento, porque ela estava no lado contrário ao da plataforma
Também arrisquei um dia, na estação do Rossio, iniciar a viagem, no estribo da porta, apenas agarrado com uma mão, quando na plataforma começaram a procurar melhores posições, quase que me atiravam para a linha, já dentro do túnel
Nunca mais arrisquei, porque poderia ter perdido a vida, para ganhar uns minutos, ainda que me custasse esperar pelo comboio seguinte, pois, eram quatro horas perdidas, nos transportes.
José Silva Costa
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