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12/02/2005
A seca
O dia é de primavera
A noite de Inverno
A chuva não aparece
Tudo, com o frio, esmorece
Não há erva, nem trigo
As pessoas e os animais
Sob o mesmo castigo!
Que a água falte no verão
Já o Alentejo está habituado
Mas em pleno inverno
É arder no inferno.
Os ovinos e bovinos
Com os focinhos
Varrem os campos
Acariciam o chão
Tudo em vão
Morrem de fome
Naquela que era a melhor estação.
Os Montes outrora, caiados,
Estavam repletos de gente
Agora, todos, desboroados.
Nem a liberdade!
Com os seus progressos:
Estradas, água, luz
Conseguiu evitar a debandada
Porque chegou atrasada.
As modestas habitações
Completamente desventradas
Com as partes íntimas
Em exposição:
Ao vento, ao sol, à lua
Num silêncio estarrecedor
Ouvem-se as almas reclamar,
Porque a iluminação pública
Passa a noite a incomodar
Quem, em vida, só tinha o luar!
Que tristeza observar
As velhas pedras a chorar
Por não terem quem agasalhar:
Nem mulher, nem homem
Nem cão, nem gato, nem pardal.
Assusta, o barulho das oliveiras, sobreiras e azinheiras
A sonharem com uma gota de água.
José Silva Costa
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