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As mazelas da guerra
Continuação
“Morrer de sede”
Nas muitas operações em que participámos, numa, ao contrário do que nos tinha acontecido antes, passámos um dia sem encontrar um único rio, o que fez com que começássemos a ficar desidratados
Pelo rádio, pedimos para nos irem indicar onde a sede saciar, quando o helicóptero fez um círculo por cima de nós e seguiu em direção ao rio, que nem estava muito longe, nós é que não sabíamos, todos correram e atiraram-se ao rio, parecendo um rebanho de ovelhas, em agosto
Alguns nem utilizaram o copo do cantil, beberam diretamente do rio!
Noutra foi o contrário, passámos os dias a atravessar rios, a vau, e num deles, com o sol a dizer-nos adeus, levámos com uma trovoada, que a água nos chegou aos ossos
Não tivemos tempo de procurar um sítio para pernoitar, mal atravessámos o rio, já às escuras, montámos as tendas, pouco depois, apercebemo-nos que tínhamos como vizinhas as hienas cujos olhos, de noite, metem medo, e o cheiro é insuportável
Alguns, ainda se desviaram das vizinhas indesejáveis, mas tiveram dificuldade em montar as tendas, acabando por passarem a noite, embrulhados na manta, encostados aos troncos das árvores
Na minha tenda, já não me lembro se eramos 3 ou 4, optámos por tirar a roupa, porque é muito desagradável tentar dormir todo molhado, pendurámo-la dentro da tenda, de manhã, quando a vestimos, estava hirta, parecia que tinha estado no congelador
Foi uma noite para esquecer, pouco conseguimos dormir, as nossas vizinhas, acho que também não gostaram da vizinhança, porque passaram a noite a fazer barulho
Como estávamos todos tão cansados, o Capitão propôs que, em vez dos dois dias que tínhamos para voltar, o fizéssemos num dia, o que fez com que chegássemos todos “rebentados”
Tantos sacrifícios, tantos mortos, tantos estropiados, para nada!
Continua
A Máscara
Por detrás da máscara
Que nos afasta
Há o desejo de um beijo
O ensejo de voltar a inalar o teu cheiro
Quanto mais tempo vamos ficar cada um para seu lado?
Com medo de nos contaminarmos
Só os olhos autorizam destapar
Porque eles conseguem à distância comunicar
Mas vamos ter que nos habituar
A, com os olhos outras mensagens, enviar
Já que os lábios, que tanto gostar de pintar
Para os realçar
Não os podes mostrar
Ah como gostaria de com isto acabar!
Dar mais apreço à liberdade de o rosto mostrar
Sem medo de que nos apontem o dedo
Ou nos mandem para casa de quarentena
Por causa da saúde pública
Que temos o dever de preservar
Seguindo os conselhos da Direção Gerar de Saúde
Há tantas coisas, que só lhes damos valor quando as perdemos.
José Silva Costa
Digitalizar!
Na montra do anonimato
Digitalizaste o teu retrato
Está tudo tão perfeito!
Criaste uns cabelos longos para prenderes os meus braços
Uns olhos de amêndoa e mel
Uns lábios de romã apaixonada
Um queixo perfeito
Colocaste o sinal no sítio certo
Mas, não fez efeito!
Tenho de te olhar, olhos nos olhos, para ver o jeito
Sentir o teu sangue queimar o meu peito
Beijar os teus lábios para matar o desejo
O digital não tem cheiro!
Nem dá para ver o rodopiar dos joelhos
No futuro, vamos poder digitalizar a cabeça, tronco e membros
Vamos aguardar, pelos resultados!
José Silva Costa
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