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Natal
Dias de solidariedade
Para as crianças, de muita ansiedade
Esperam prendas de muita amizade
Tão importantes para os de tenra idade
Casas sem chaminé, na cidade
Não há onde colocar o sapatinho
Nem espaço para o Pai Natal descer
Assim, as crianças vão, mais cedo, ficar a saber
Que não é o Pai Natal, que traz as prendas
Senhores arquitetos tenham em atenção esta questão
Não aceitem desenhos, que não tenham uma bonita habitação
Com todas as condições de habitabilidade
Onde possamos receber a visita do Pai Natal
Uma habitação com todas as comodidades
Onde possam viver pessoas de todas as idades
Sei que é pedir muito, tanto aos arquitetos, como ao Pai Natal
Mas, não podemos ser pobres a pedir
O meu pedido ao Pai Natal, para este ano é : casa para todos
Acho que não é pedir de mais, há quem tenha duas, três ou mais
Estamos, num país muito solidário
Portanto, vamos lá reduzir as desigualdades
Diminuir a pobreza, que está em quase cinquenta por cento
Devia de nos envergonhar
Mas praticamos a caridade
Como se isso nos desculpasse
Mas, não! Fico revoltado, quando oiço um rapaz, que se esforçou, para tirar um curso, conseguiu entrar para o Instituto Superior Técnico, em Lisboa.
Mas, infelizmente, não chegou a matricular-se, porque os pais não podiam, o quarto, pagar.
Feliz natal e próspero Ano Novo.
José Silva Costa
Cheiro
Já cheira a Primavera
Os passarinhos andam aos beijinhos
Passam os dias na construção dos ninhos
Sempre a namorar, para a canseira suavizar
Também eles se queixam do custo das casas
Fazer uma casa robusta, dá muita luta
Encontrar um lugar seguro, resistente ao vento e a todo o elemento
Para além da robustez do lugar, é preciso, com todos os inimigos, contar
Quem é que não gosta de uma casinha a ver o mar!
Sem ninguém a incomodar
É tão bom ter um bom lar!
Uma companheira e ver os filhos a palrear
De alegria, por a mãe os amamentar
Uma ternura de encantar!
Vê-los crescer, fazer o que já fizemos, e esperar que nos deem netos
Cheios de graça, ternura, birras, mimos e afetos
Tem sido assim ao longo dos séculos
Com mais ou menos tecnologia, com mais ou menos guerras
Infelizmente, há povos que continuam à espera
Que o progresso os empurre para dias melhores
Que não envenenem as meninas na sala de aula
Para as privarem da educação e lhes roubarem a compreensão
Mantê-las na ignorância, porque saber é poder
Alguns homens continuam só para si o querer
Sem se importarem com quem está a sofrer
Com quem tem de enfrentar todos os perigos
Para da fome, das guerras, das arbitrariedades fugir
Morrer é um mal menor, que em tais condições viver.
José Silva Costa
Janeiro
Dias inteiros
Soalheiros
Noites geladas
Árvores prateadas
Vento e rajadas
Frio e nortadas
Mãos gretadas
Velhotas curvadas
Das luas passadas
Beijadas, amadas
Ruas deitadas
Casas assombradas
Há muito abandonadas
As terras não são semeadas
Outrora todas ocupadas
Vidas apagadas
Sombras sonhadas
Luas desenhadas
Memórias arrumadas
Fontes magoadas
Águas branqueadas
Esperanças molhadas
Telhas desalinhadas
Estrelas afiadas
Lágrimas salgadas
Vidas adiadas
Bocas escancaradas
Desesperadas.
José Silva Costa
Pobre povo
Entregue a corruptos vaidosos
Sempre prontos para eventos únicos
1 0 estádios de futebol para Euro 2004
Alguns para ovelhas pastarem
Que ainda estamos a pagar
Um palco altar, mais um evento único
Feito em ouro, para ficar para posterioridade
80 milhões de euros atirados aos ventos
Ninguém nos ganha na organização de eventos
Para a construção de casas, escolas e hospitais não temos tempo
Felizmente, dinheiro não nos falta!
Todos os dias vamos, de cesta na mão, pedi-lo emprestado
Somos os maiores em tudo!
Temos a terceira maior dívida do mundo
O Governo acaba de ir buscar mais um fundo de pensões
O da Caixa Geral de Depósitos, no valor de 3 mil milhões
Os dos outros Bancos, já tinha sido absorvidos, no tempo do Governo de Sócrates
Para tantos luxuosos e únicos eventos, temos de fazer alguns sacrifícios
Dormir na rua ao frio, ao relento neste inverno gelado, e em casa sem aquecimento
Esperar, dezenas de horas nas urgências dos hospitais, anos por consultas externas
Alunos sem aulas, a algumas disciplinas, todo o ano, por falta de professores
Mas todos estes sacrifícios serão bem compensados, quando já não fizer frio
Em Agosto conviveremos com jovens de todo o Mundo
Esqueceremos todos os nossos problemas
Viveremos felizes para sempre.
José Silva costa
À antiga!
Este inverno está ser, como há muitos anos não via
Tão diferente dos invernos, que mais, primaveras, pareciam
Está a colaborar com o Governo, no seu: “ fique em casa”
As casas é que estão muito sobrecarregadas
Em Escolas, Universidades, escritórios e salas de reunião, transformadas
Até eu voltei à Escola!
Como não aproveitar tanta sabedoria a entrar no aconchego do lar
Como os tempos estão a mudar!
Será que este tempo se deve à redução da poluição?
Os aviões ficaram em terra e os carros junto à habitação
A avenida está limpa e a rua mais convidativa
As casas é que não param de se queixar
Estão muito saturadas. Vinte e quatro horas, sempre, ocupadas!
Anseiam pelo fim do estado de emergência
Por quanto mais tempo teremos de continuar na “prisão”?
Não podemos desesperar
A primavera está a chegar.
José Silva Costa
No tempo da outra senhora (2)
Francisco já tinha feito o serviço militar
Estivera na fronteira do Alentejo
Na zona de Évora
Aquando da guerra civil Espanhola
Num exercício de artilharia
As coordenadas estavam erradas, racharam uma, centenária,
oliveira
Tinha estado em São Miguel do Pinheiro (Mértola)
Para aprender o ofício de ferreiro
Estava quase com trinta anos, procurava companheira
Encantou-se com a Alice, que era muito bonita
Pudera, tinha dezassete anos, menos doze que ele!
Quem não queria, uma tão linda flor!
Francisco ia, quase todos os dias, montado no macho
Namorar a Alice, não tinha tempo a perder
A Alice era a segunda de cinco raparigas e três rapazes
Ainda viria a ter mais um irmão, aquando de seu segundo filho
Mãe e filha grávidas, apenas, com um mês de diferença
Francisco convenceu a Alice a juntarem-se, pelo Santo Amaro
Era o habitual, não havia dinheiro para casamentos
Levou-a para o seu monte
Alugou uma parte da casa onde, também, funcionava a Escola Primária
Do lado direito vivia o novo casalinho, no esquerdo, por detrás da sala de aulas, a Dª. Olenca
Uma Algarvia, que viria a tirar a primeira fotografia ao futuro rebento
Estávamos em plena segunda guerra mundial, que a todos castigava
Senhas de racionamento, fome, miséria, sofrimento e morte
O futuro rebento recusou-se a nascer antes, da guerra acabar
Nasceu quatro meses depois, da mãe fazer dezoito anos
Alice esteve à morte, teve hemorragias.
Um curioso receitou-lhe uma sangria!
Médicos e hospitais, não havia!
Só lá em Lisboa!
Recorriam aos curandeiros locais
O pai de Alice, receando perder a segunda filha e o primeiro neto
Levou-os para a casa da família, onde a mãe e as irmãs os trataram.
José Silva Costa
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