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Rosas de Maio
Rosas de Maio
Tanto amar
Ventos do sul
Tanta dor
Tanto perfume
No chão, derramado
Por rosas de fogo
No Alentejo, queimado
Rosas de Maio, por que chorais?
Se todos os anos voltais
Com novos perfumes, mais …..
Só, as humanas não voltam mais!
Rosas de ventre inchado
Trarão ao mundo
Tanto bebé inacabado
Que, com leite e ternura, será criado
Rosas, por que me deixais?
Triste, sozinho, abandonado
À espera do dia prometido
O dia perfumado
Rosas, rosas de Maio
O mês mais perfumado
Por que não vindes, todos os meses?
Trazer-me novas e perfumes do meu amor.
José Silva Costa
Frio!
No vazio do frio
A lua sorriu
Unimos os nossos corpos
Galgamos os sótãos
Acasalámos os sonhos
Aquecemos o futuro
Na ilusão de uma lareira
Sentados numa cadeira
Dormimos a noite inteira
Como se estivéssemos nas asas do vento
Tudo tão calmo, reconfortante, suave
Os nossos corpos estavam leves como penas
Rodopiamos no espaço como se fossemos pássaros
Foi um sonho, só podia ser!
Para acordarmos ao entardecer
Antes da noite cair
Abraçados, sempre a sorrir
Como se séculos tivessem passado
Beijamo-nos, e o encanto ficou acordado.
José Silva Costa
Junho
O sol de Junho é diferente
Aquece-me a mente
Nasce cedo e põe-se tarde
Tem cheiro a verdade!
Já passou metade
O que é bom acaba depressa
Bebo-te de manhã à noite
Antes que arrefeças
Não creio em promessas
E, de políticos muito menos
Antes das eleições prometem tudo a todos
Mais Funcionários Públicos e aumentos
Para acomodar as raparigas e rapazes do partido
A dívida abaixo dos cem por cento do PIB
Prefiro o tempo!
Este Junho que nos levará ao Verão
Cujo calor amadurece o pão
Ver uma planície de trigo ondulante
Um rancho de ceifeiras trigueiras
A cantarem para espantar o calor
Pedirem ao aguadeiro, mais um cocharro de água
Porque o calor está insuportável
Desejando que a ceifa termine
Que chegue o dia da adiafa.
José Silva Costa
As casas do futuro
Não é só o clima que está a mudar
O constante aumento da temperatura está-nos a afetar
Neste setembro quente, na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa
A receção aos caloiros foi feita em ambiente diferente
Em traje de roupa interior, o que está de acordo com o curso!
Na arquitetura, para além da fachada, o mais importante são os interiores
Na perspetiva de mais ondas de calor e de mais duração
As futuras arquitetas e arquitetos tiraram a roupa, que os estava a afoguear
Despiram-se de preconceitos e de vaidades, confraternizando quase nus
É para o natural que estamos a caminhar
No futuro, as casas serão mais personalizadas
O cliente irá, ao ateliê, mostrar o perfil, para que arquitetas e arquitetos lhes desenhem a habitação
Tudo será à medida do freguês, porque o espaço é, cada vez, mais reduzido
Se não tivessem inventado os trapos
Ainda hoje andaríamos todos nus
Sem que ninguém achasse estranho
Ninguém perderia tempo a observar e a comparar o tamanho
Não vivemos num mundo estranho
Caminhamos no sentido das leis da Natureza
Em que, cada um, procurará apresentar-se como é
Sem disfarces, maquilhagens, próteses invisíveis
Para não nos enganarmos uns aos outros
Vamos poupar muitos recursos, ao planeta, mostrando a nossa natural beleza.
José Silva Costa
Peste grisalha
A mortalidade, da “peste grisalha”, como foram cognominados, no auge da crise, tem vindo a aumentar
No dia mais quente, desta vaga de calor, morreram quase quinhentos!
Aqueles que defendem, que a solução seria uma injeção, atrás da orelha
Talvez não tenham muita razão
A Natureza parece ter encontrado uma solução mais aceitável
Acusados de deverem muitos anos à cova, foram uma almofada preciosa
Para filhos e netos, cujas famílias faliram, tendo, muitos, sido obrigados a voltarem para a casa dos pais
E, aqueles que esperavam uma vida mais folgada, aquando da reforma, viram-se, de férias e viagens, privados
Viram, nalguns casos, voltar a casa mais do que tinham saído
Mas, o que é que os pais não fazem pelos filhos?
Tristes por os filhos terem perdido a casa, o emprego, etc.
Confortados por voltarem a ter a companhia dos filhos e até de netos
As duas faces da moeda.
José Silva Costa
Luar ao Sul
Ceifeiras: papoilas ao vento a esvoaçar
Trigueiras, a perfumarem a planície
Cantam, para espantarem as dores
De corpo e faces tapadas, para enfrentarem o calor
Sob um sol escaldante, de foices em riste
Para desafiarem o vento levante
Quantas canseiras, para ver o pão nas eiras!
Mulheres determinadas, que cortam o sol com o regaço
Que sabem todo o circuito do pão:
Alqueivar, gradar, semear, mondar, ceifar, debulhar, limpar, moer, peneirar, amassar, tender,
O forno aquecer, para o pão cozer
Se soubessem, as voltas que a mão dá, até fazer do grão de trigo pão!
Não o estragariam, dando-lhe muita mais atenção
Há multidões de esfomeados, que nunca, o pão, verão
Acabada a ceifa, chega a adiafa, para suavizar o cansaço
Um dos trabalhos mais duros, que mulheres e homens
Enfrentaram, nos campos do Alentejo
Sob um sol ardente, de cortar a respiração!
José Silva Costa
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