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As mazelas da guerra
Continuação
O medo
Na primeira noite que dormimos no mato, o medo era de cortar à faca
No silêncio da noite, o mais pequeno ruído parece um furacão
Também tinha medo, mas estava mais à vontade por já ter dormido algumas vezes nas eiras
Um condutor preferiu dormir dentro da viatura, em vez da tenda
Noite dentro, contatou-me, dizendo que tinha uma cobra dentro da viatura
Lá fui, para ver a cobra, chegados à viatura, vi o limpa-para-brisas a trabalhar
Pedi-lhe para desligar o limpa-para-brisas, que a cobra se ia embora, e nós íamos dormir
Como o limpa-para-brisas era acionado manualmente, o que deve ter acontecido, é tê-lo ligado, ao mexer-se, possivelmente com o joelho
No dia seguinte voltámos ao acampamento, tendo tudo corrido bem
A primeira etapa estava concluída. A partir dali, os relatórios quinzenais seriam emitidos sem sairmos de casa, até porque, em breve, ficaríamos desfalcados, com dois pelotões destacados, para a zona do Quitexe
Antes de ir para o Quitexe, a minha seção e outra foram mobilizadas para darem proteção a uma coluna de camiões civis, entre Maquela do Zombo e São Salvador do Congo
Lá fomos, eu e o meu amigo Ramos, camarada de curso, que, infelizmente, viria a morrer, já depois de termos acabado a comissão, com as nossas seções montadas em duas viaturas equipadas com duas metralhadoras pesadas Breda, instaladas num dispositivo, em que as podíamos rodar trezentos e sessenta graus
No regresso vimos um elefante, que atravessou a picada à nossa frente, escondendo-se, imediatamente, na densa mata
Foi a prenda que tive no dia dos meus 24 anos, uma prenda diferente e única, vimos um elefante, em liberdade, no seu habitat
Depois do reconhecimento da nossa zona de ação, fomos visitar uma povoação, onde nos receberam muito bem, e nós oferecemos-lhes alguns produtos das rações de combate de que não gostávamos
Tive oportunidade de falar com um homem, que tinha 20 mulheres, disse-me que todas se davam muito e que obedeciam, todas, à mais velha, eram elas que trabalhavam nas terras, a ele cabia-lhe fazer e colocar armadilhas para caça e pesca
Que os homens quanto mais mulheres tivessem, mais ricos eram, e que quando ficavam grávidas deixavam de ter relações sexuais até terem os bebés
As mulheres faziam as sementeiras, e no caso dos amendoins tinham de as guardar, para que os macacos não os comessem
Outra tarefa a que as mulheres se dedicavam era, com sachos, apanhar ratos, que eram muito apreciados.
Aproveitei para pegar num bebé, tiram-me uma fotografia, enviei-a para a minha mulher que, apesar dos poucos meses da chegada a Angola, não a apreciou, o que seria se já tivessem passado mais de nove meses!
Continua
Fretes
25/11/1975
O ano do início da consolidação da democracia
Por que até aí, ninguém sabia para onde é que a revolução pendia
Quarenta e três anos depois
Os nossos votos não passam de um a cortina de fumo, para elegermos os representantes do grande capital
Criaram a CRESAP, que nos custa milhões, com a função de escolher os melhores, para a Administração Pública
Mas, quem manda são os donos disto tudo
No último congresso do PS, Catroga exigiu a substituição do Secretário de Estado das energias
Que estava a fazer um bom trabalho para os contribuintes e péssimo para a EDP
Costa aproveitou a confusão de Tancos, que nunca saberemos se houve roubo ou não
Para uma remodelação governamental, incluindo a substituição do Secretário de Estado, pela EDP, indesejado
Há sempre uma empresa Galamba, pronta para todos os fretes
Assim, como há sempre, profissionais ou amadores, para furar greves
A EDP está repleta de administradores inválidos da política: Catroga, Cardona …….
Que, na CGD, fez um trabalho exemplar, um prejuízo de muitos milhões, que tivemos de pagar
Há quarenta e três anos foi tudo nacionalizado, passados uns anos foi tudo reprivatizado
Atualmente é tudo da República da China
Passado quase meio século, continua a economia a mandar
E, nós desejamos, que amanhã vejamos nascer um novo dia.
José Silva Costa
PS. O dia em que o Reino Unido saíu da UE., por achar que a solidariedade não é paz.
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