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Mazelas da guerra
Continuação
A chegada
Chegados ao porto de Lunada, entrámos num comboio que nos levou para o Grafanil, onde se localizava o quartel que nos acolheu até seguirmos para a nossa base
Depressa percebemos porque nos tinham dado uma rede mosquiteiro, os insetos pareciam enxames à nossa volta
No dia seguinte fui aos Correios, para me inteirar de como funcionava o Serviço Postal Militar (SPM) , que consistia na atribuição de um número, no nosso caso, à nossa Companhia, por se tratar duma Companhia independente, o que quer dizer que não fazíamos parte de nenhum Batalhão.
Bastava aos Correios saberem para que localidade tinham de enviar o SPM da Unidade com o número que lhe tinha sido atribuído
O Correio era muito importante para o moral das tropas, sem correio ficávamos nervosos, preocupados, desmoralizados
Tão importante que criaram o aerograma militar, um impresso carta, grátis, tanto o impresso como os portes
Ao fim de poucos dias seguimos para o nosso destino: Norte de Angola, junto à fronteira, perto de Maquela do Zombo
Foi um passeio de dois dias, dormimos no primeiro dia, na Base Aérea do Negage
No dia seguinte fomos recebidos com euforia, pelos camaradas que há muito nos esperavam, para quanto antes chegarem às suas terras e abraçarem os familiares.
No aquartelamento da Fazenda Costa, um acampamento construído, a seguir ao início da guerra, com madeira e chapas de zinco, sem qualquer povoação, por perto
E, a receção foi muito original, nas portas, entre abertas, tinham colocado alguidares de plástico, cheios de água, assim que empurrávamos as portas, ficávamos com o alguidar enfiado na cabeça e muito fresquinhos
Esta receção foi o ponto de partida, para que dali em diante, cada um refinasse as partidas a pregar
A imaginação atingiu tamanha proporção, que o Capitão teve de ordenar que o primeiro-cabo, que estava incumbido de desligar o gerador que iluminava o acampamento, dormisse numa camarata só para ele, porque todos os dias levava uma grande banhada, dormindo todo molhado, sem querer dar o braço a torcer, jurando que não estava molhado
Aos sábados, por escala, íamos a Maquela do Zombo, ao cinema. Quando chegou a minha vez, já sabia que a cama mudaria de lugar, e não me enganei, lá estava nas alturas, atada ao teto
Era uma Companhia de Cavalaria, formada no Regimento de Cavalaria nº7, em Lisboa. Eramos todos milicianos, com exceção de dois Sargentos, cujas mulheres, mais tarde, também se lhes juntaram, passando a viver no acampamento.
Continua
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