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As mazelas da guerra
Continuação
Segunda dose
Esperava ir para os serviços auxiliares, para me livrar da frente de combate, mas como dizem na minha terra: “ quem não tem padrinhos morre mouro”
No dia seguinte fui ao Regimento de Infantaria nº5, nas Caldas da Rainha, entregar a farda
Em Julho de 1968 fui novamente para as Caldas da Rainha, para fazer a recruta
O que mais receávamos era que nos cortassem o fim-de-semana. À sexta-feira tínhamos de fazer limpeza à caserna, e as casas de banho tinham de estar a brilhar, utilizámos canivetes e outros materiais para limparmos sanitas, torneiras… Tudo tinha de estar impecável, quando o Comandante fosse passar a revista
A justificação era de que tínhamos de saber fazer, para podermos exigir aos soldados
Ao Sábado, pouco antes do meio-dia formávamos na parada, para nos autorizarem a ir de fim-de-semana
Num dos Sábados, estivemos quase uma hora formados na parada, sem sabermos o que se passava, até que aos altifalantes disseram: “ falta uma arma, quem a tem, dê um passo em frente,” pouco depois mandaram-nos entrar nas camionetas
Um instruendo tinha a G3, desmontada, no saco, alegando que era para a mostrar à família.
Alguns instrutores, quando nos entregavam o correio, armavam-se em engraçadinhos, em vez de dizerem o nome do destinatário, diziam o nome da remetente
No último fim-de- semana de Setembro terminámos a recruta, não nos deixaram ir de fim-de-semana. Após o almoço, seguimos de autocarro, para as novas unidades, conforme a especialidade que nos atribuíram. A mim coube-me atirador de Cavalaria. Os que tínhamos essa especialidade seguimos para a Escola Pratica de Cavalaria, em Santarém.
Quando chegámos fomos recebidos pelo oficial dia, na parada, que nos foi indicar a nossa caserna. A primeira tarefa foi arrumar os nossos pertences e fazer a cama, a única obrigação, para além da instrução. Estávamos na azáfama de fazer a cama, quando ele entra de novo na caserna e diz: “quem deixou um tronco de árvore na parada, é favor ir retirá-lo, imediatamente”, o visado foi imediatamente retirar o cabide de madeira, partido
Ficámos logo a saber que ali a disciplina era mais rigorosa do que no RI nº 5, nas Caldas da Rainha. Como ele várias vezes frisou: ali era a casa da Cavalaria
Na caserna havia vários quadros, onde-se lia:” O Exercito é o espelho da Nação”
Depois de colocarmos as espadas na boina, para que soubessem que pertencíamos à arma de Cavalaria, tentámos sair, para conhecer a Cidade
Mas, na revista, a todos foi recusada a saída: uns porque a barba não estava bem-feita, outros eram as espadas que não estavam a brilhar, os ilhós das botas não estavam limpos, a boina não estava bem colocada …….
À segunda tentativa a mesma sena. Percebemos que tínhamos, primeiro de conhecer os cantos à casa, para podermos sair. Foi o único fim-de-semana, durante a instrução, que não saímos do quartel
Ao jantar fomos surpreendidos com boa comida, pratos de loiça, copos de vidro. Nas Caldas da Rainha, os copos e os pratos eram de alumínio, e a comida não tinha comparação
Dizia-se que um dia, o oficial dia foi com a ementa assistir à colocação dos ingredientes, na panela, como todos deveriam fazer, mas que eu saiba poucos o faziam
Contados os ovos, faltava um, o cozinheiro foi castigado com 5 dias de prisão
A instrução era muito dura, tínhamos de andar, sempre, com as mangas bem arregaçadas, o que fazia com que tivéssemos os braços arranhados, por andarmos constantemente a rastejar naquelas barreiras
Santarém tem grandes amplitudes térmicas, no início daquele outubro fizeram temperaturas muito altas, como passávamos muito tempo parados, de pé, com os capacetes de ferro, da segunda guerra mundial, de vez em quando lá desmaiava um
O pórtico, onde fazíamos vários exercícios, tinha 9 metros de altura. No cimo, ao meio, tinha duas cordas sobrepostas, para atravessarmos o espaço entre dois lados do quadrado.
Um dia o pelotão estava todo em cima do pórtico, três estavam em cima da corda: um quase a chegar ao fim, outro a meio e outro a iniciar o exercício, de repente a corda partiu, tiveram tanta sorte, que dois ficaram agarrados às pontas da corda e o do meio ficou na corda de baixo, na mesma posição em que estava, quando a outra partiu
Foi um susto que, naquela manhã, a instrução terminou, para que todos se recompusessem do susto e saboreassem a sorte que aqueles três tiveram em não caírem de nove metros de altura
Mas não era só no pórtico que tínhamos de atravessar espaços por cordas. Nos arredores da cidade havia cordas entre árvores, para irmos duma à outra pela corda
Naquela unidade havia, em simultâneo, cursos para Sargentos Milicianos e Oficiais Milicianos
Continua
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