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31.
Glosa
a este moto de Francisco
de Morais:
Triste vida se me ordena,
pois quer vossa condição
que os males, que dais por pena,
me fiquem por galardão,
Despois de sempre sofrer,
Senhora, vossas cruezas,
apesar de meu querer,
me quereis satisfazer
meus serviços com tristezas.
Mas pois embalde resiste
quem vossa vista condena,
prestes estou para a pena,
que, de galardão, tão triste,
triste vida se me ordena.
De contente do mal meu
a tão grande extremo vim,
que consinto em minha fim:
assi que, vos e mais eu,
ambos somos contra mim.
Mas que sofra meu tormento
sem querer mais galardão,
não é fora de razão
que queraa meu sofrimento,
pois quer vossa condição.
O mel, que vós dais por bem,
esse, Senhora, é mortal;
que o mal que dais como mal,
em muito menos se tem,
por costume natural.
Mas porém nesta vitória,
que comigo é bem pequena,
a maior dor me condena
a pena, que dais por glória,
que os males, que dais por pena
Que mor bem me possa vir,
que servir-vos, não o sei.
Pois que mais quero eu pedir,
se quanto mais vos
servir, tanto mais vos deverei?
Se vossos merecimentos
de tão alta estima são,
assaz de favor me dão
em querer que meus tormentos
me fiquem por galardão.
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