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Presente de Natal
Nunca se perderam de vista
Cedo começaram a trabalhar
Muitos dias para o mesmo patrão
Começaram pelos 7, 8 anos
Nunca foram à escola
Não havia escolas
Não era obrigatório ir à escola
Seguiram os passos dos pais
Cresceram nos trabalhos do campo
Amparavam-se um ao outro, nos bons e mãos momentos
Um dia o Marcolino disse para a Francelina:” queres namorar comigo? “
A Francelina respondeu-lhe: não temos namorado sempre?
Marcolino aproveitou para beijá-la, e ela não se fez rogada
Continuaram a namorar como duas aves que estivessem a construir o ninho
Até que um dia ele lhe pergunta: “não achas que já chega de namoro?”
“Já chega e sobra”, disse ela,” vai mas é falar com o meu pai”
No dia seguinte o Marcolino encheu-se coragem e foi pedir a Francelina em casamento
Não sabia como começar, o pai dela farto de esperar, “disse-lhe: desembucha rapaz, achas que não sei como vocês olham um para o outro, tratem de juntar os trapinhos, que eu arranjo-vos um cantinho para viverem”
Pouco tempo depois casaram-se, continuaram com os beijinhos, como dois pombinhos
Em menos de um ano chegou o primeiro bebé, e continuaram até ao décimo
Assim que acabavam a instrução primária iam trabalhar, mas não para o campo
Não queriam seguir os passos dos pais
Procuraram trabalho nas cidades, não queriam o trabalho duro do campo
Mas, para mais de metade, Portugal era pequeno demais
Foram para o estrangeiro, espalharam-se por vários continentes
Só três ficaram no país, mas na capital
Eram os únicos que todos os anos passavam o Natal com os pais
Os outros nem sempre tinha possibilidades de vir a Portugal
Viviam muito longe, tinham casado, tinham filhas e filhos, era difícil conciliar a vinda de todos a Portugal
Os pais todos os anos lhes pediam que os viessem ver, que queriam conhecer toda a família, que o melhor presente, de Natal, seria juntar todos os filhos, as filhas, as netas e os netos
Já estavam na década dos 90 anos, não podiam esperar muito mais
Poucos anos depois, conseguiram, pelo Natal, juntarem-se todos, na casa dos pais
A casa estava cheia como um ovo, e os seus corações estavam repletos de contentamento
Os primos trocavam mensagens uns com os outros, para que quando regressassem a casa, se pudessem contactar
Tinham pena que os avós não soubessem lidar com as novas tecnologias, para poderem vê-los todos os dias
Quando se despediram, os pais disseram-lhes que tinha sido o melhor presente de Natal
Foi a última despedida em vida.
Para todas e todos um Feliz Natal e um próspero Ano Novo
Este é o meu Conto de Natal, conseguido com a inspiração que comprei na farmácia, por recomendação da amiga Isabel, que podem e deevem visitar em: https://imsilva.blogs.sapo.pt
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