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Lisboa, quanto mais velha, mais rapariga
Nos meados do século passado
Atrasada, sem brilho, nem fachada
Fechada no orgulhosamente só
Eras uma capital sem atração fatal
Nada de genial: carroças, olarias, tabernas e pregões:
Ferro velho -“Quem tem trapos, garrafas ou jornais para vender”? (comprava de tudo)
Vendedora de figos -“Quem quer figos, quem quer almoçar”?
Aguadeiros de Caneças -“Água fresca, água de Caneças” ( percorriam as zonas nobres da cidade, com camionetas carregadas de bilhas de barro, com água de Caneças )
Varina- vendia peixe -“Oh freguesa, venha cá abaixo ver isto!
É sardinha vivinha da costa” (transportava o peixe, numa canastra, sobre uma rodilha, à cabeça
Ardina, vendia jornais -“Século, Diário da Manhã, República, Diário de Lisboa e Diário de Notícias”
Por causa do pregão dos jornais, conta-se a seguinte anedota
Um compadre alentejano, depois de vender a cortiça, resolveu ir a Lisboa, depositar o dinheiro
Apanhou o comboio, quando se apeou no Barreiro, mal saiu, logo ouviu: cerca o da cortiça, ….
Pensando que o queriam roubar, voltou para o comboio. Quando chegou a casa, contou o que lhe tinha acontecido.
As lavadeiras de Caneças com as trouxas à cabeça, todas as semanas entregavam a rouba lavada e recebiam a suja, para irem lavar
“Um lençol, um corpete, uma camisa, que a freguesa deu ao rol”
Com o aparecimento da máquina de lavar roupa, lá se foi a profissão
As lavadeiras ficaram sem o ganha-pão
As senhoras da fidalguia não trabalhavam, salvo raras exceções
Tinham criadas: uma, duas ou mais
Que viviam nas casas dos patrões
De quinze em quinze dias, ao domingo à tarde, tinham umas horas de folga, para poderem namorar
Como ninguém imaginava como seriam os futuros supermercados
Tudo lhes era levado a casa, pelos marçanos, carvoeiros, leiteiros, padeiros, ardinas, lavadeiras
Que rica vida, comparada com a de hoje, a da fidalguia!
Surgiu a televisão, a esferográfica, o metropolitano, o self servisse e muitas outras novidades
A esferográfica e a sua utilização: um advogado entrou num estabelecimento e gritou, “ com esta esferográfica já se podem assinar cheques e escrituras, foi publicado, hoje, no diário do governo. A caneta de tinta permanente, morreu”
A guerra levou todos os jovens para o ultramar
Os que voltaram não quiseram às suas terras voltar
Carris, PSP, GNR, comércio e indústria, nada de agricultura
Com as fronteiras fechadas, foram a salto para França, Suíça, Alemanha
Com as sus poupanças engordaram a Banca
Não faltavam anúncios, nas montras dos Bancos, anunciando a galinha dos ovos de oiro: as ações
Naqueles tempos, já o suplemento o Diário de Lisboa: a Mosca, lhes chamava, por palavras codificadas, os donos disto tudo
Neste jardim à beira mar plantado, tudo tinha de ser codificado, para que, pela PIDE, não fosse, apanhado (PIDE: polícia Internacional de defesa do Estado)
Da liberdade, só nos tinha ficado, a da avenida” ( Avenida da Liberdade)
Liberdade, liberdade, quanto sangue e lágrimas nos, fizeste, derramar?!
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