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O Natal

por cheia, em 02.10.20

Mazelas da Guerra

Continuação

O Natal de 1969

Para muitos era primeira consoada passada fora do calor familiar

Na guerra nunca nos faltou álcool, quanto a mim, responsável por muitos acidentes

Duas fábricas de cerveja trabalhavam 24 horas por dia, para que nunca faltasse cerveja, bem ou mal fermentada

Havia quem se gabasse de beber uma grade, 24 garrafas, de cervejas até ao almoço

Os oficiais e sargentos tinham direito, por mês, a adquirirem, a bom preço, 2 garras de bom uísque escocês, conhaque francês, para que nunca nos faltasse álcool

Quando chegaram as 24 horas do dia 24 de Dezembro de 1969, já estávamos quase todos alcoolizados

Depois de ter estado na messe de oficiais e sargentos, onde nos reunimos todos, incluindo as esposas dos Sargentos, para a noite da consoada, e aproveitámos para ouvir a mensagem de Natal, do Agostinho Neto, em que ele dizia, “ este é último Natal, que os colonialistas portugueses passam em Angola”

Pela meia-noite fui à caserna dos soldados, para dar um abraço aos elementos da minha secção

Deparei com um sofrimento inimaginável: choravam, abraçavam-se, como se o mudo estivesse a acabar

Abraçaram-me, choraram no meu ombro, tentei que percebessem que era um dia como outro qualquer, que também estava a sofrer, como eles, por não estar com a família, mulher e filha

Só quando o cansaço e o sono os chamou para a cama é que consegui sair de lá

Já tentei lembrar-me do Natal seguinte, mas não me consigo lembrar de nada, o que quer dizer, que não teve o dramatismo do primeiro Natal, passado em Angola.

O ano novo trouxe más notícias.

 

 

Continua

  

 

 

 

 

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publicado às 07:52


18 comentários

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De jabeiteslp a 02.10.2020 às 09:17

E uma bezana sabia bem
alegrava tristezas
mais que ninguém

Bom fim de Semana pra vocês
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De cheia a 02.10.2020 às 09:54

Era preciso embebedar o pessoal, para o anestesiar.


Bom fim-de-semana para vocês!

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De imsilva a 02.10.2020 às 10:27

Imagino que seja bom recordar estas vivências. Eu estou a gostar muito de as ler.
Bom fim-de-semana.
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De cheia a 02.10.2020 às 18:19

Para mim, todas as recordações, da guerra, são amargas. Fico muito contente por estares a gostar de ler estes relatos.

Feliz fim-de-semana!
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De Folhasdeluar a 02.10.2020 às 14:11

E ainda há quem fale mal do 25 abril...;))))
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De cheia a 02.10.2020 às 18:11

O 25 de Abril foi o fim dum império, que mais tarde ou mais cedo tinha de acabar. Foi pena que os políticos não tenham tido a visão de o entregar, sem guerras. Mais uma vez, tiveram de ser os militares, que não estavam dependentes dos grupos que tinham o monopólio das colónias, a avançar.


Bom fim-de-semana!

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De MJP a 02.10.2020 às 14:44

Mais uma memória amarga, José...
Obrigada pela partilha! :))
Bom fim-de-semana!
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De cheia a 02.10.2020 às 17:49

Sem dúvida! Para mim, todas as memórias da guerra são amargas.

Feliz fim-de-semana!
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De Rute Justino a 03.10.2020 às 09:22

Sempre com uma excelente escrita
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De cheia a 03.10.2020 às 15:50

Muito obrigado!

Um feliz fim-de-semana para toda a família!
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De Existe um Olhar a 05.10.2020 às 21:56

O Natal é sem dúvida o tempo mais difícil de passar em tempo de guerra.

Abraço José
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De cheia a 05.10.2020 às 22:58

Neste caso, foi mesmo um dos momentos mais difíceis para todos.

Feliz resto de semana!
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De Luísa de Sousa a 06.10.2020 às 14:07

Oh José, por quanto já passaste!
Imagino o sofrimento de passar o Natal, em ambiente de guerra longa da família!!!
Mais um relato maravilhoso que nos trazes.

Beijinhos
Feliz Dia
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De cheia a 06.10.2020 às 20:44

Na guerra, todos os dia são horríveis. Mas, o Natal é diferente, e eu fiquei admirado com a dor de muita gente, porque, para mim, o Natal era um dia como a Páscoa e o Entrudo.

Beijinhos!
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De Francisco Carita Mata a 08.10.2020 às 21:20

"... e aproveitámos para ouvir a mensagem de Natal, do Agostinho Neto..."
Intrigou-me esta passagem no texto. Será que não se importaria de esclarecer?
Obrigado.
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De cheia a 08.10.2020 às 22:10

Não me importo nada. Sabíamos que iam transmitir, pela rádio do MPLA, a mensagem de Natal, de Agostinho Neto, para os guerrilheiros e para quem tivesse a possibilidade de a sintonizar, e nós estávamos curiosos em saber o que iria dizer, principalmente em relação a nós.
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De Anónimo a 09.10.2020 às 11:07

A guerra traz sempre recordações amargas. Todavia ainda gostaria de lhe fazer outra pergunta. Dados os contextos da época e a situação em que viviam, qual era a sensação ou a reação, perante o facto de estarem a ouvir a pessoa que, à data, personificava a chefia do "inimigo"?
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De cheia a 09.10.2020 às 11:50

Foi uma sensação estranha, parecia que tínhamos o "inimigo", ali à nossa frente.

Agradeço o interesse.

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