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Amor & guerra
Há sessenta anos, a UPA (União dos povos de Angola) iniciou a luta armada no norte de Angola em 15/3/1961
Um casal, que vivia com a filha, foi assassinado. A Bárbara, sua filha, escondeu-se num abrigo, que havia na cave do estabelecimento, onde guardavam o dinheiro e as mercadorias de muito valor
O pai tinha construído aquele lugar secreto, a pensar na hipótese de um dia terem de o utilizar
Estava equipado e preparado, para passarem lá um mês ou mais. Tinha aposentos e uma despensa guarnecida, para os três viverem por algum tempo
A Barbara só saiu de lá quando viu, pelo óculo, bem disfarçado, os militares portugueses, que a incentivaram a abrir o estabelecimento, fazendo com que a vila voltasse a alguma normalidade
O comandante da companhia, vendo o estado dela, destacou uma secção, para a ajudar e proteger, para ver se ganhava confiança
Um militar apaixonou-se por ela, e ela por ele. Começaram a namorar, ele era o seu confidente e psicólogo, fazendo com que ela voltasse a viver
Foram poucos meses, uma vez que a companhia teve de ir para outra localidade, que ainda, estava ocupada, pelos guerrilheiros da UPA
Mais um grande choque para a Barbara, que continuava muito perturbada, pela morte dos pais. Mas conseguiu seguir com os seus planos de recuperar o negócio
Dois meses depois soube que estava grávida, mas nem sequer sabia o SPM (Serviço Postal Militar) da companhia do pai da criança, como é que o poderia informar de que era pai!
Seria que ele gostaria de saber que era pai, ou pelo contrário, negaria que aquele bebé, que estava para nascer, fosse seu!
Carlos estava a cumprir o serviço militar obrigatório, faltavam-lhe seis meses, para passar à disponibilidade.
Namorava com a Miquelina, que era criada de servir, em Lisboa. Tencionavam casar-se, assim que ele saísse da tropa, e saírem do país
Primeiro iria ele, a seguir iria ela. Mas, as suas vidas mudaram de um dia para o outro. Ao começar a guerrilha em Angola, em vez de passar à disponibilidade, foi mobilizado, para ir para Angola
Com os sonhos desfeitos, os últimos dias, antes do embarque, foram de nervosismos e ansiedade, não se conformando com o que lhes aconteceu
Naqueles tempos, as raparigas, que não chegassem ao casamento virgens, eram severamente criticadas
Sem métodos anticoncecionais ao seu dispor, faziam os possíveis para não permitirem relações sexuais antes desse dia
A Miquelina resistiu quanto pôde, mas no último dia antes do embarque, o Carlos conseguiu convencê-la a terem relações sexuais antes de ele embarcar
Em menos de uma semana, a guerra separou-os, matando a felicidade, que há anos vinham construindo. As guerras, a uns matam os corpos, a outros os sonhos .
Continua
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