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Conto de Natal https://imsilva.blogs.sapo.pt
Nasceram e viveram na sua terra, tal como os pais, criaram os muitos filhos, com o que conseguiam tirar da terra
Não foram à escola, não havia escolas por perto, eram todos analfabetos. Só por volta de meados do século XX é que começara a construção das escolas primárias, naquelas povoações
Desde os seus tenros anos que começaram a trabalhar, era preciso ajudar a criar os irmãos
As raparigas trabalhavam fora e dentro de casa, enquanto os rapazes, normalmente, só trabalhavam fora de casa
Sempre brincaram juntos, nos poucos momentos em que isso foi possível, no campo, quando não estavam acompanhados pelos pais
Cresceram, praticamente, juntos, houve, sempre, um bom entendimento entre ambos, os trabalhos no campo, juntava-os
Assim, foram crescendo, quando atingiram a puberdade começaram a namorar
“ O lume ao pé da estopa vem o diabo e sopra”
Como eram muito pobres, aproveitaram a tradição de não se casarem, mas juntarem-se
Combinavam o dia em que se juntavam, se tivessem uma casinha, iam viver sozinhos, caso não a conseguissem arranjar, normalmente, o rapaz, na noite combinada, com a concordância dos pais, levava a rapariga para a sua casa
Seguiram os passos dos pais, tiveram doze filhos, que criaram com muito sacrifícios, eram sete raparígas e cinco rapazes
Ao contrário dos pais, todos tiveram direito de ir à escola, ajudavam os pais, quando não tinham aulas, todos fizeram a quarta classe, mas nenhum quis ficar a trabalhar no campo
Os tempos estavam a mudar: rapazes e raparigas procuravam trabalho nas grandes cidades, quando iam de férias, às suas terras, apresentavam-se bem vestidos e sem as mãos calejadas
Outros procuravam melhores condições de vida, no estrangeiro, o que fez com que os doze irmãos se espalhassem pelo mundo
Todos os anos, pelo Natal, alguns vinham-no passar com os pais, mas nunca se juntavam todos
Os pais ficavam muito felizes com a presença dos filhos e alguns netos, mas o que, sempre, lhes pediam era que conseguissem combinar, para que viessem todos, porque gostavam de voltar a vê-los todos juntos
No ano em que os pais fizeram noventa anos, pelo Natal, todos os filhos e netos compareceram à ceia de Natal
Quando os viram entrar, ficaram muito felizes, mas preocupados por a casa ser pequena para tanta gente e não haver comida para todos, mas os filhos e netos sossegaram-nos, dizendo que tinham trazido comida e que a casa onde tinham sido criados continuava a ser muito acolhedora
A velhinha casa voltou a iluminar-se de vozes, sorrisos, abraços e beijos
Depois da animada ceia, os pais disseram-lhes que a sua presença tinha sido a melhor prenda de Natal, que tinham tido.
José Silva Costa
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