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Chips!
Para onde quer que nos viremos lá estamos, todos, com os chips na mão
Hoje, todos andamos de chip em riste, numa onda de navegação
Com um aparelho do tamanho de uma caixa de fósforos, temos toda a informação
Nos jardins, nos cafés, nos restaurantes, nos comboios, por todo o lado, um silêncio ensurdecedor
Acabaram-se as conversas, as discussões, a troca de opiniões, os dedos substituíram essas funções
Outrora, nos comboios da linha de Sintra, havia grupos de amigos, que viajavam sempre na mesma carruagem
Uns jogavam às cartas, outros discutiam os resultados dos jogos de futebol, falando, também, das agruras da vida
Faziam-se amizades, combinavam-se piqueniques, excursões, emprestavam-se livros
Naqueles bancos corridos, cabia sempre mais um, viajávamos como sardinha em lata
Durante as obras de duplicação da linha assistimos a muitas peripécias
Uma mãe arrancava o filho, da cama, às seis horas, apanhava o comboio em Sintra, para ser entregue à avó, na estação do Cacém
Como não se conseguia chegar à porta, porque os comboios circulavam de portas abertas, a abarrotar, a criança era entregue à avó, pela janela, por quem estivesse junto à janela
Numa viagem, no sentido de Sintra para o Rossio, na estação da Amadora, uma jovem, vendo que não conseguia chegar à porta, baixou a janela e saiu, o contato com o cascalho, foi um pouco violento, porque ela estava no lado contrário ao da plataforma
Também arrisquei um dia, na estação do Rossio, iniciar a viagem, no estribo da porta, apenas agarrado com uma mão, quando na plataforma começaram a procurar melhores posições, quase que me atiravam para a linha, já dentro do túnel
Nunca mais arrisquei, porque poderia ter perdido a vida, para ganhar uns minutos, ainda que me custasse esperar pelo comboio seguinte, pois, eram quatro horas perdidas, nos transportes.
José Silva Costa
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