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A mendicidade
Todos os dias, na mesma esquina, sentada no chão
Com as pernas recolhidas, na dura e gelada calçada
Chova ou faça frio, enregelada, na mesma posição
Passo, e ela diz bom dia e acena-me com a caixinha com cêntimos
Fico, sempre, tão transtornado, por ver aquela rapariga, naquele estado
Como é que ela aguenta aquela penitência?
Horas e horas, naquela posição, naquele gelado passeio
É estrangeira! De longe, de perto, de onde é que terá vindo?
Cada vez que passo cumprimenta-me, e eu arrepio-me
Por não ser capaz de lhe dar, nem que seja, um cêntimo!
Não quero alimentar aquele modo de vida, mas fico tão revoltado!
Não sei se com ela, se comigo, se com toda a gente, se com o resto do Mundo
Fui obrigado a vê-la, cinco terças-feiras seguidas, não foi bem, porque na de Carnaval, não fui a Lisboa
Hoje, espero que tenha sido a última vez. Pois, desejo que não seja preciso voltar àquela esquina, tão depressa!
Mas, vai ser preciso muito tempo, para me esquecer da cara dela: franzina, o corpo todo coberto, só a face macilenta à vista! Mesmo toda entrapada, não sei, como aguenta!
Sempre que vejo estas pessoas vê-me à ideia uma triste situação, que aconteceu na estação ferroviária de Sintra
Uma senhora desceu do comboio acompanhada de uma menina, que parecia cega
A senhora afastou-se um pouco da gaita, esta estava constantemente aos aís
As pessoas perguntaram-lhe o que tinha, para ter os olhos com ligaduras
A miúda respondeu que tinha baratas nos olhos
Chamaram a polícia, e não as abandonaram enquanto a polícia não chegou
Tiradas as ligaduras verificaram que a menina tinha duas meias cascas de nozes com baratas
A finalidade seria cegá-la, para ser utilizada para a mendicidade
O que o ser humano é capaz de fazer, para viver da mendicidade!
José Silva Costa
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