Voltar ao topo | Alojamento: Blogs do SAPO
Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
As mazelas da guerra
Continuação
As férias
Não me consigo lembrar como fui do Audulo para o Alto Hama, ou Alto Uama, o grande entroncamento nacional das rodovias Transnacionais que fazem parte da Rede Rodoviária Transafricana, onde muitos pernoitam, para descansarem das longas viagens
Tenho uma vaga ideia de ter lá dormido, e no dia seguinte ter perguntado se alguém ia para Luanda, e se me dava boleia. Um senhor disse-me que ia para perto de Luanda, e eu disse-lhe que valia mais estar perto que longe
Um bom carro, boa velocidade e uma caçadeira a meu lado. Quando entrei no carro, ainda fiquei um pouco preocupado, sem saber para que serviria a caçadeira
Passados uns bons quilómetros, avistámos um animal, muito ao longe, abrandou e disparou, e mais umas quantas vezes, durante a viagem, sem que tenha acertado, acho que era mais o gosto de disparar
Quando chegou ao destino, vimos uma camioneta carregada de sacos de farinha, ele conhecia o condutor, sem sair do carro, perguntou-lhe se me podia levar, para Luanda
Foi sair do carro, entrar na camioneta, até parecia que estava tudo combinado!
Finalmente, em Luanda, para a minha primeira viagem de avião. Oito horas, das 24 às oito, sobre o Atlântico, porque, devido à guerra, não podíamos sobrevoar os países africanos, foi uma ótima experiência
Em agosto de 1970, de férias na metrópole, ainda as férias iam a meio, recebi uma carta de um camarada, onde me dizia que a nossa Companhia tinha sido mobilizada para uma operação numa zona de minas, mas não eram de petróleo, uma viatura já tinha ido pelos ares
Como estava a preparar o lume, para um churrasco, a carta foi direitinha para o lume, para que não fosse mais uma preocupação para a minha mulher, que nunca soube da receção da mesma
No início das férias já tinha tido um percalço, em Angola nunca tive paludismo, mal cheguei a casa fiquei com paludismo: febre a chegar aos 40 graus, a transpirção era tanta, que a minha mulher estava constantemente a trocar os lencois
Enquanto a médica não veio, pedi-lhe para chamar um enfermeiro, para me dar um injeção que baixasse a febre, já não aguentava mais, uma temperatura tão alta
A médica queria mandar-me para o Hospital Militar, eu não queria passar umas férias, que me custaram uma fortuna, paga a prestações, à TAP, para passar um mês com a mulher e a filha, no Hospital Militar, pedi-lhe que me receitasse uma injeção de resochina, o mais difícil foi encontrá-la, mas foi remédio santo
Ao contrário do que acontecia em Angola, que os dias pareciam meses, os 30 dias férias passaram a correr
Quando me despedi da minha filha, com 20 meses, que dizia, sempre, a quem se despedia dela, “até logo”, foram as palavras que durante mais tempo, mais martelaram a minha cabeça, porque no momento pensei, ou até nunca mais!
Continua
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.