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Amor & guerra (38)

por cheia, em 28.06.21

Amor & Guerra (38)

Carlos estava arrasado, tinha sido um dia infernal: primeiro o reencontro com a Bárbara, de quem não esperava, depois de tantos anos, palavras tão agressivas, mostrando-lhe que a tinha abandonado, prenha duma filha dele, o que mais tinha mexido com ele. Como é que nunca tinha pensado nisso

A seguir foram as acusações do filho que, como era natural, se colocou ao lado da mãe Normalmente, os filhos têm um carinho muito especial para com as mães

Não tinha ficado a saber a opinião da filha, mas o facto de, pela primeira vez, o ter beijado, como filha, fê-lo sentir a responsabilidade de ter colocado aquele ser tão delicado, no mundo, e de nunca ter contribuído com o seu carinho, para o seu crescimento, nem se ter preocupado com a sua existência

Para terminar o mais longo e horrível dia da sua vida, nem o dia em que foi ferido e perdeu a perna tinha sido tão doloroso, ainda faltava convencer a Miquelina de que a culpa não tinha sido sua

Começou por lhe dizer, que na guerra tudo era diferente, que se esqueciam que eram gente, que praticavam coisas horríveis, que os acompanhavam para sempre, e que quando sobreviviam se arrependiam, mas carregavam as atrocidades, que tinham praticado, pela vida fora, até à morte. Era por isso, que nunca falavam do que se tinha passado, mesmo que muito questionados, por todos, tinham receio da opinião pública e da condenação dos pais, das mulheres, dos filhos, dos netos

Já lhes bastavam os remorsos do que tinham feito, de nunca mais terem tio um minuto de sossego, o que levava muitos ao desespero, fazendo com que ficassem incapazes para arranjarem emprego, só lhes restava a auréola de Antigos Combatentes

A Miquelina, depois de ouvir todo aquele discurso, concordou com ele, dizendo que a guerra tinha sido o maior horror que tinha acontecido, todos tinha sofrido com a chacina, por todos praticada, mas isso não apagava o facto de a ter traído e nunca ter dito nada, se a Bárbara não tivesse engravidado, nunca viria a saber, portanto não o podia perdoar

O Carlos pediu-lhe para não decidir sem ponderar muito bem, porque tinham sido muito felizes, durante muitos anos, e tinham um lindo filho, para acabarem de criar

A Miquelina lembrou-lhe, que ela tinha um filho, mas ele tinha dois, e o melhor seria pedir-lhes para o perdoarem, porque ela queria o divórcio

O Carlos continuou a pedir-lhe para o perdoar, porque a culpa não tinha sido dele, mas da Bárbara. Ela, para acabar com a conversa, perguntou-lhe se tivesse sido ela a traí-lo, se lhe perdoava. Ele não respondeu, e cada um foi para seu lado

O Migue disse à Sara, que a mãe se queria divorciar, fazendo com que ela se sentisse, ainda, mais triste por ter contribuído para aquela separação, quando o que queria era que todos fossem felizes. Estava muito preocupada, principalmente, com o pai.

 

Continua.

 

 

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publicado às 07:59


35 comentários

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De Luísa de Sousa a 28.06.2021 às 21:28

Está a ficar difícil para o Carlos!!
Á espera da continuação, José

Beijinhos
Boa Noite
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De cheia a 28.06.2021 às 21:53

É verdade, o Carlos está a ficar isolado!
Feliz noite, Luísa!
Beijinhos
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De Di a 28.06.2021 às 22:58

A haver culpa, nunca é só de um.
Beijinhos
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De cheia a 28.06.2021 às 23:10

Tens razão, são precisos dois!
Boa noite!
Beijinhos
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De imsilva a 29.06.2021 às 22:26

Não estava à espera de tanta intransigência da parte da mulher e do filho, mas, vamos ver...
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De cheia a 29.06.2021 às 22:35

Não gostaram de saber que havia outra família.
Boa noite, Isabel!
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De imsilva a 29.06.2021 às 22:47

É um assunto para o qual eu nunca dei desculpas, mas a envolvência da guerra e de tudo o que envolveu as idas e vindas das ex-colônias, trouxe algo de muito estranho à vida dos jovens que a viveram. Talvez por aí, compreenderia outras decisões.
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De cheia a 30.06.2021 às 15:40

O ditado diz : " se queres ver o vilão, põe-lhe um pau na mão"
Felizmente que só uma minoria, a quem meteram armas e granadas nas mãos, se tornaram vilões.
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De Maria Neves a 30.06.2021 às 18:34

Olá, novamente.
Tenho deveres de “pseudo dona de casa”, hoje acabaram as férias.
Amanhã entro às 8 h na urgência, e há coisas que gostamos de fazer nós próprias!
Mas, ainda me sobrou um tempinho para ler alguns posts, o seu, encantou- me pelo bem como retrata “uma vida” entre tantas, em todos apontam o dedo. Há outras guerras, outros personagens, mas “as guerras “ são o pior do mundo.
Obrigado
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De cheia a 30.06.2021 às 19:16

Tem toda a razão! "As guerras são do pior do mundo"

Boa noite.
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De Maria Neves a 30.06.2021 às 18:36

Olá, novamente.
Tenho deveres de “pseudo dona de casa”, hoje acabaram as férias.
Amanhã entro às 8 h na urgência, e há coisas que gostamos de fazer nós próprias!
Mas, ainda me sobrou um tempinho para ler alguns posts, o seu, encantou- me pelo bem como retrata “uma vida” entre tantas, em que todos apontam o dedo. Há outras guerras, outros personagens, mas “as guerras “ são o pior do mundo.
Obrigado
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De cheia a 30.06.2021 às 19:12

Muito obrigado pela visita.
Feliz noite.
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De Maria Neves a 30.06.2021 às 18:37

Olá, novamente.
Tenho deveres de “pseudo dona de casa”, hoje acabaram as férias.
Amanhã entro às 8 h na urgência, e há coisas que gostamos de fazer nós próprias!
Mas, ainda me sobrou um tempinho para ler alguns posts, o seu, encantou- me pelo bem como retrata “uma vida” entre tantas, em que todos apontam o dedo. Há outras guerras, outros personagens, mas “as guerras “ são do pior do mundo.
Obrigado
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De Corvo a 01.07.2021 às 16:07

Ó José, deixe-me cá que lhe diga que esse Carlos saiu melhor do que a encomenda.
É verdade que a guerra provocou graves danos; mutilados e traumatizados físicos e cerebrais, mas não foi a guerra que lhe disse que tudo que tinha um par de mamas e batimento cardíaco era para emprenhar.
E depois tem cá uma lábia altamente eficiente. Num ápice fez cá uma lavagem cerebral a todos digna de um pedestal.
Estou vivamente interessado no desenvolvimento da história

resto de dia muito feliz.
Grande abraço
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De cheia a 01.07.2021 às 16:57

Caro amigo, muitos parabéns pela sua observação, que muito me fez rir, obrigado.

Neste caso, ele nem queria, a rapariga é que estava em tal estado, que não podia ser outro o resultado.

Uma boa tarde!
Um abraço.

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