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Amor & guerra (32)
A Miquelina detetou um caroço numa mama, foi ao médico, fez análises, e os resultados não podiam ser piores: tinha um cancro maligno
Ela e o Carlos ficaram petrificados com a revelação dos exames. Não queriam que o Miguel soubesse. Mas o segredo não durou muito tempo, porque o semblante deles não conseguia disfarçar o que os atormentava. Ao fim de muito questionados, tiveram de dizer, ao Miguel, o que os preocupava
O Miguel tentou animar a mãe, dizendo-lhe que já havia cura para o cancro. Mas nada a animava, aquela notícia era como se a tivessem condenado à morte
Logo agora, é que tinha de lhe aparece aquilo, a um ano do filho ir para a Universidade, tanto que queria ver o filho chegar a engenheiro
São daquelas notícias que mexem com toda a família, ninguém consegue ficar indiferente ao diagnóstico de que tem um cancro.
A Sara estava com receio que, quando chegasse a resposta do Ministério do Exército, a mãe descobrisse que andava a procurar o pai, mas como chegava a casa, antes da mãe, tinha a possibilidade de ir ver o correio e receber a resposta, sem que mãe soubesse
Todas as tardes, quando chegava a casa, ia ver a caixa do correio, até que chegou a resposta do Ministério do Exército, que dizia não a poderem ajudar, que tentasse obter mais informações, para poderem procurar o que pretendia
Nada a demovia, ia continuar a procurar encontrar o pai, o próximo passo seria conseguir obter a lista dos militares, que viajaram no primeiro barco, que chegou a Luanda, depois do massacre, que deu início à guerra, em 1961
Muitas vezes interrogava-se sobre a quantidade de filhas e de filhos que os militares deixavam, por onde passavam, sem se preocuparem com o seu futuro. Às mães cabe carrega-los no seu ventre nove meses, pari-los, criá-los e encaminhá-los, tudo fazendo para que sejam felizes
Passados alguns dias de aulas, a Sara perguntou, a uma colega, quem era a rececionista Miquelina, dirigiu-se à receção e apresentou-se, dizendo que era a Sara, a filha da Bárbara, que tinha estado a falar com ela. A Miquelina disse-lhe que tinha muito prazer em conhecê-la, chamou o filho e apresentou-lho
Quando chegou a casa, disse à mãe, que tinha ido falar com a Senhora Miquelina, e que ela lhe tinha apresentado o filho, que era muito bonito e simpático, e que se chamava Miguel
A Sara e o Miguel tornaram-se muito amigos. Para ela foi muito bom, porque foi mais fácil a sua integração, passando a integrar o grupo de amigos do Miguel, deixando de andar sozinha, como aconteceu nos primeiros dias, enquanto não foi falar com a Miquelina
Estava encantada com a nova escola. Os amigos, assim que souberam que tinha vindo de Angola, não paravam de lhe fazerem perguntas sobre a antiga colónia e sobre a guerra, tornando-se a mascote do grupo
O Miguel, quando soube da doença da mãe, passou a andar muito triste, quando não estava na sua presença, junto dela, tentava manter-se alegre e confiante na cura do cancro.
Continua
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