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Abandono!
Chamas venenosas por todas as encostas
Aceleradas pelo vento, matam tudo por onde passam
As pessoas assistem, indefesas, ao roubo de bens e vidas
Rezam, mas as chamas não as ouvem e continuam com as suas investidas
As lágrimas sulcam-lhes as faces e inundam as rugas
Como se quisessem apagar as chamas
Arderam os animais, as plantas, as casas e as camas
O trabalho de muitas vidas, em pouco tempo, desaparecido
Nos choros sustidos, afogam-se os gritos, para não magoarem os sentidos
Corpos abandonados, às dores, vagueiam no fumo espesso dos horrores
Um silêncio aterrador inunda os campos ardidos
Todos os anos se repetem as tragédias dos incêndios
Abandonados e vergados pelos anos não conseguem retomar a vida
Se ninguém os ajudar, em breve vão definhar
Ninguém aguenta voltar a perder tudo quando se estava a reerguer
Os políticos papagueiam, como se soubessem tuto
Têm o seu sustento garantido, com o rendimento certo ao fim do mês
Saberão quão duro é arrancar, da pouca e pobre terra, o sustento?
Não é com palavreado, nem discurso estafado, muito bem preparado
Mas com muito trabalho, suado, à chuva, ao frio, ao sol
Sob o peso dos impostos
Para um dia perderem tudo
Que, para muitos, é nada!
Uns tarecos velhos, sem utilidade
Para os que vivem em palácios
Que conhecem o mundo
Que nunca precisaram de contar os cêntimos
Que não sabem nada
Do trabalho necessário, para produzir os seus alimentos.
José Silva Costa
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