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A chegada

por cheia, em 21.08.20

Mazelas da guerra

 

Continuação

 

A chegada

 

Chegados ao porto de Lunada, entrámos num comboio que nos levou para o Grafanil, onde se localizava o quartel que nos acolheu até seguirmos para a nossa base

Depressa percebemos porque nos tinham dado uma rede mosquiteiro, os insetos pareciam enxames à nossa volta

No dia seguinte fui aos Correios, para me inteirar de como funcionava o Serviço Postal Militar (SPM) , que consistia na atribuição de um número, no nosso caso, à nossa Companhia, por se tratar duma Companhia independente, o que quer dizer que não fazíamos parte de nenhum Batalhão.

Bastava aos Correios saberem para que localidade tinham de enviar o SPM da Unidade com o número que lhe tinha sido atribuído

O Correio era muito importante para o moral das tropas, sem correio ficávamos nervosos, preocupados, desmoralizados

Tão importante que criaram o aerograma militar, um impresso carta, grátis, tanto o impresso como os portes

Ao fim de poucos dias seguimos para o nosso destino: Norte de Angola, junto à fronteira, perto de Maquela do Zombo

Foi um passeio de dois dias, dormimos no primeiro dia, na Base Aérea do Negage

No dia seguinte fomos recebidos com euforia, pelos camaradas que há muito nos esperavam, para quanto antes chegarem às suas terras e abraçarem os familiares.

No aquartelamento da Fazenda Costa, um acampamento construído, a seguir ao início da guerra, com madeira e chapas de zinco, sem qualquer povoação, por perto

E, a receção foi muito original, nas portas, entre abertas, tinham colocado alguidares de plástico, cheios de água, assim que empurrávamos as portas, ficávamos com o alguidar enfiado na cabeça e muito fresquinhos

Esta receção foi o ponto de partida, para que dali em diante, cada um refinasse as partidas a pregar

A imaginação atingiu tamanha proporção, que o Capitão teve de ordenar que o primeiro-cabo, que estava incumbido de desligar o gerador que iluminava o acampamento, dormisse numa camarata só para ele, porque todos os dias levava uma grande banhada, dormindo todo molhado, sem querer dar o braço a torcer, jurando que não estava molhado

Aos sábados, por escala, íamos a Maquela do Zombo, ao cinema. Quando chegou a minha vez, já sabia que a cama mudaria de lugar, e não me enganei, lá estava nas alturas, atada ao teto

Era uma Companhia de Cavalaria, formada no Regimento de Cavalaria nº7, em Lisboa. Eramos todos milicianos, com exceção de dois Sargentos, cujas mulheres, mais tarde, também se lhes juntaram, passando a viver no acampamento.

Continua

 

 

 

 

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publicado às 07:47


19 comentários

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De Robinson Kanes a 21.08.2020 às 09:35

A acompanhar...
Obrigado por este relato, o relato dos esquecidos e até censurados de uma História Contemporânea. Uma das nossas vergonhas...
Parabéns, José,
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De cheia a 21.08.2020 às 20:34

Muito obrigado! Um assunto de que ninguém quer falar.

Um abraço,
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De imsilva a 21.08.2020 às 10:21

Estes relatos são importantes, quantos de nós ignoramos como foi a vida por lá. Tem um bom dia.
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De cheia a 21.08.2020 às 20:28

Também acho que são importantes. Não tenho visto relatos desses tempos, nem grande interesse, parece que todos têm receio de tocarem no assunto.

Desejo-te um bom fim-de-semana.
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De Luísa de Sousa a 21.08.2020 às 13:56

Oh José ... adoro estes relatos ... quero seguir todos!
Grata!

Beijinhos
Feliz Dia
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De cheia a 21.08.2020 às 20:21

Fico contente por gostar dos relatos, muito obrigado!


Bom fim-de-semana
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De MJP a 21.08.2020 às 17:10

Excelente partilha, José!
Muito Obrigada!
Dia Feliz!
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De cheia a 21.08.2020 às 20:19

Muito obrigado!

Bom fim-de-semana!
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De cheia a 21.08.2020 às 20:37

@Alice Alfazema
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De Alice Alfazema a 22.08.2020 às 18:04

O humor salva e empurra a gente para a frente. Tenho alguns "retratos de guerra" escritos com dedicatória, talvez viessem assim dessa forma pelo correio.

Abraço.
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De cheia a 22.08.2020 às 18:34

Diz muito bem," o humor salva e empurra a gente para a frente". Mas as guerras também são feitas de barbaridades, que mesmo que não as tenhamos praticado, acho que o melhor é ficarem sepultadas, para sempre.

Um abraço
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De jabeiteslp a 22.08.2020 às 18:55

Boas recordações
alegrias e também fobias
assim andavam os dias ´_)))

Bom fim de Semana pra vocês
e parabéns ao exposto José.
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De cheia a 22.08.2020 às 19:15

Muito obrigado! Nem todas foram boas, porque as guerras são feitas de barbaridades, pelos dois lados, e mesmo que eu não as tenha praticado, aquelas de que, infelizmente, tive conhecimento, o melhor e ficarem sepultadas para sempre.

Boa noite
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De Existe um Olhar a 23.08.2020 às 21:57

Ai os dananadinhos, gostavam de pregar partidas
Lembro-me das pessoas da minha aldeia receberem os desejados aerogramas.
Mais peripécias que gostei de ler.

Boa noite José
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De cheia a 23.08.2020 às 23:12

Muito obrigado! Gostei que tenhas gostado.

Uma feliz semana
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De Daniela a 25.08.2020 às 23:26

Obrigada José por estes relatos.
Acho muito importantes conhecermos um pouco de como foi, da nossa história
Obrigada
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De cheia a 25.08.2020 às 23:29

Muito obrigado! Fico muito contente por achar que é importante sabermos a nossa história.

Bom resto de semana
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De Existe um Olhar a 26.08.2020 às 17:51

Passei para desejar um dia feliz José
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De cheia a 26.08.2020 às 20:58

Muito obrigado!

Também te desejo um resto de semana feliz

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