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Fevereiro/Março
Um sol radioso
Aqueceste o corpo
Mas não iluminaste o rosto
Não pudemos ver o sol-posto
Um mês e outro
Doze, um ano!
Adeus, até para o ano.
Vais chegar
Sejas bem-vindo
Não vamos festejar
Já basta lembrar
Que foste tu a começar
E, nós com a esperança
Que quando regressasses
Já te pudéssemos ir esperar
Contigo ir passear, correr, namorar
Mas não! Continuamos, às casas, atados
Para bem de todos, escondemos o rosto
Não estranhes, não te beijar
Fica para quando isto passar
Não te sintas abandonado
Sabes que temos de ter cuidado
Sorte a tua, por serem só 31 dias
Ninguém sabe quando é que as ruas deixarão de estar nuas
Estão tão tristes, por não saberem o que se passa!
Cada vez que um par de sapatos as beijam
Choram de alegria
Mas a rua continua fria!.
José Silva Costa
Os anos
Foi como um sol que nasceu
Olhámo-nos, e em redor tudo estremeceu
O sol levantou-se e a manhã amanheceu
Abrimos a porta e o dia cresceu
Entrámos, foste minha, fui teu
Foi o sol que nos enlouqueceu
O mundo cedeu!
O sol beijou a lua
A alegria, os nossos corpos, unia
Deram-nos as boas-vindas
Ofereceram-nos uma lua-de-mel
Continuámos como se só houvesse uma noite incendiada
Mas, o desgaste dos anos mostraram-nos que também há dias de fel
Valeram-nos os nossos padrinhos: A lua e o sol
Mandaram-nos seguir em frente
Guiaram-nos até ao presente.
José Silva Costa
Maio
Maio, mês do sol, das flores, dos fins de tarde encantadores!
Das cerejas rubras e deliciosas, como os beijos
Do desejo de te beijar, como se cerejas estivesse a provar
Os teus lábios são romãs, com cerejas a namorar, que gosto de saborear
Vamos aproveitar este sol de Maio, para nos embalar
Não há mês como este para nos levar ao altar
Quem me dera que todo o ano fosse Maio
Passar todo o tempo no sorriso do teu encanto
Sem chuva, sem frio, sem vento
Só com o sol a brilhar nos teus olhos e o corpo a saber a mar
Na praia, no campo, no meio das flores, a sonhar
Com futuros, sem muros, sem guerras, sem fomes, sem pobres
Talvez sejam só visões, mas seria tão bom viver na ilusão
Sem saber da realidade, dura e crua
Abraçar um desejo, um sonho, um amanhecer diferente
Onde a humanidade pudesse estar toda abraçada por uma causa
A amizade!
José Silva Costa
Verão de São Martinho
Continuem a negar, que o tempo está a mudar
Aí está o São Martinho para vos contrariar
Em vez daquele radioso Verão, com que nos costuma brindar
Mandou, desta vez, chover até nos alagar
Para ver se, o óbvio, continuamos a negar
Assim, como vamos o São Martinho comemorar!
O assador das castanhas está-se, sempre, a apagar
O vinho novo não teve frio para fermentar
A água-pé de tanta água ficou deslavada
A jeropiga, sem castanhas, não sabe a nada
Como foi bom ficar no aconchego do lar!
A ver a chuva a, tudo, lavar
Matar a sede à terra, sedenta, por tantos meses à espera de se saciar
Ver os rios, cheios de alegria, a correrem para o mar.
José Silva Costa
Maio
Maio, mês de todas as flores e de todos os horrores
Das ceifeiras e das papoilas
Trigueiras ceifeiras, de rosto tapado, para se protegerem dos beijos do sol, das papoilas e das espigas
A ceifa parecia uma orquestra bem afinada, um espetáculo inesquecível
Um movimento com o céu parado: mãos, canudos e foices num movimento sincronizado
Formavam um harmonioso bailado, com as espigas a dançarem no ar abafado
Que tem por fim segar o trigo e coloca-lo no restolho, confortado
À espera de ir para a eira, para ser debulhado.
Ninguém mais verá a planície florida de moças e moços, papoilas e espigas douradas
Não. Não verão mais o mar de trigais, ondulando, pontuado, aqui e além, por papoilas vermelhas
Não. O Alentejo não será mais o celeiro de Portugal
Um sacrifício a que foi condenado
Mesmo que a terra gemesse e já nada desse
Gentes e terra foram condenadas, por não se submeterem
A uma ditadura odiada.
Foste libertado em Abril, mas floriste em Maio
Acabou a adiafa, gratificação que simbolizava o fim de um dos trabalhos mais penosos.
Corpos vergados ao sol escaldante, em movimentos de competição, para colherem o pão
Que bom que seria, que todos soubessem, quantas voltas das, até chegares à mesa!
José Silva Costa
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