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Quingentésimo (335)

por cheia, em 30.11.24

99.
Cantiga

a uma senhora de apelido Anjos,

que lhe chamou diabo

MOTO:
Senhora, pois me chamais
tão sem razão tão mau nome,
inda o diabo vos tome,
VOLTAS
Quem quer que viu, ou que leu,
terá por novo e moderno
ter quem vive no Inferno
o pensamento no Céu.
Mas se a vós vos pareceu
que me estava bem tal nome,
esse diabo vos tome.
Perdido mais que ninguém
confesso, Senhora, ser;
a uma Dama de apelido Anjos,
que lhe chamou diabo

mas «diabo» não quer
aos «Anjos» tamanho bem.
Pois logo não me convém,
ou se me convém tal nome
será para que vos tome.
Se vos benzeis com cautela,
como de Anjo, e não de luz,
mal pode fugir da Cruz
quem vós tendes posto nela.
Mas já que foi minha estrela,
ser «diabo», e ter tal nome,
guardai-vos, que vos não tome
Já que chegais tanto ao cabo,
co as mãos postas aos Céus,
vou sempre pedindo a Deus
que vos leve este «diabo».
Eu, Senhora, não me gabo;
mas, pois que me dais tal nome,
tomo-o, para que vos tome.

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publicado às 07:45

Quingentésimo (334)

por cheia, em 29.11.24

36.

Cantiga

a este moto:

Quem se confia em olhos,
nas meninas deles vê,
que meninas não têm fé.
VOLTAS
Quem põe suas confianças
em meninas sem assento,
ofereça o sofrimento
a duzentas mil mudanças.
Mostram no ar esperanças,
mas em seus olhos se vê
como não têm n'alma fé.
Enganam ao parecer,
porque, no caso de amar,
são mulheres no matar
e meninas no querer.
Quem em seus olhos se crer,
cem mil graças neles vê;
vê-las, sim, mas não ter fé.
Amostram-vos num momento
favores assi a molhos;
mas na mudança dos olhos
se lhe muda o pensamento.
Em nada têm assento,
e o que mais neles se vê
é fermosura sem fé.

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publicado às 07:49

Quingentésimo (333)

por cheia, em 28.11.24

108.
Esparsa

Cantiga
a um fidaldo, na Índia, que lhe
tardava com uma camisa galante,
que lhe prometera
Quem no mundo quiser ser
havido por singular,
para mais se engrandecer
há-de trazer sempre o dar
nas ancas do prometer.
E já que vossa mercê
largueza tem por divisa,
como todo mundo vê,
há mister que tanto dê
que venha [a] dar a camisa.

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publicado às 07:49

Quingentésimo (332)

por cheia, em 27.11.24

109.

Trovas
que o Autor mandou da cadeia
em que o tinha embargado por
üa dívida Miguel Roiz, «Fios-Secos»
de alcunha, que se embarcava para fora,
ao Conde do Redondo, Vizo-Rei, pedindo-lhe
o fizesse desembargar


Que diabo há tão danado
que não tema a cutilada
dos fios secos da espada
do fero Miguel armado?
Pois se tanto um golpe seu
soa na infernal cadeia,
do que o demónio arreceia,
como não fugirei eu?
Com razão lhe fugiria,
se contra ele, e contra tudo,
não tivesse um forte escudo
só em Vossa Senhoria.
Portanto, Senhor, proveja,
pois me tem ao remo atado,
que, antes que seja embarcado,
eu desembargado seja.

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publicado às 07:50

Nuvens negras

por cheia, em 27.11.24

Nuvens negras

 

Mães sem filhos

E sem maridos

Gritos escondidos

Tudo destruído

Terra em fogo

Este mundo mete nojo

Arruaceiros vomitam nacionalismo

Alimentam-se de ódio e gritos

Para eles tudo é inimigo

Multidões acreditam em aldrabões

Comem convoluções

E embebedam-se em reuniões

Adoram os falcões

Que lhes prometem melões

Só colhem desilusões

Mastigam vinganças ente as nações

Arrastam gente, que odeia o outro

Só porque é diferente

Acreditam em quem só mente

Uma negra semente

Pode dar cabo da boa gente

Que acredita em gente influente

Que lhes diz que os outros comem cobras e lagartos

Quando são tudo boatos

Fazendo com que o ódio lhes tolde os sentidos.

José Silva Costa

 

 

 

 

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publicado às 07:49

Quingentésimo (331)

por cheia, em 26.11.24

3.

Cantiga

a esta cantiga alheia:
Vida da minh'alma
não vos posso ver:
isto não é vida
para se sofrer!

Quando vos eu via,
esse bem lograva,
a vida estimava;
mais então vivia,
porque vos servia
só para vos ver.
Já que vos não vejo,
para que é viver?
Vivo sem rezão,
porque em minha dor
não a pôs Amor,
que inimigos são.
Mui grande treição
me obriga a fazer
que viva, Senhora,
sem vos poder ver.
Não me atrevo já,
minha tão querida,
a chamar-vos vida,
porque a tenho má.
Ninguém cuidará,
que isto pode ser,
sendo-me vós vida,
não poder viver!

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publicado às 07:49

O 25 de Novembro!

por cheia, em 25.11.24

Vaidades e vinganças

Querem fazer do 25 de novembro a continuação do 25 de abril, por que razão se esquecem do 11 de março?

Nunca festejarei, nem o 11 de março, nem o 25 de novembro, são datas para esquecer, porque dividem a sociedade portuguesa, e tudo o que não precisamos são mais divisões, violência, destruições…….

No 11 de março os comunistas conseguiram derrotar a direita representada pelo General Spínola

Nacionalizaram tudo, prenderam alguns patrões e outros fugiram para o estrangeiro, foi um trocar de cadeiras, durante a ditadura os trabalhadores foram para as prisões, no 11 de março calhou aos patrões, mas houve quem beneficiasse de muitos milhões, na hora do aperto, antes de apanharem os aviões, passaram procurações, que se tornaram em doações

Passados 50 anos, muita coisa voltou ao antigo, os patrões recuperaram as suas fortunas, alguns mudaram de negócio: CUF-Companhia União Fabril, não tinha nada a ver com saúde

Do nada nasceram dois grandes grupos, na distribuição alimentar, um tinha uma mercearia, o outro era engenheiro. Hoje, têm fundações com os seus nomes ou de familiares, também um banqueiro, de quem os trabalhadores não têm saudades, quis uma fundação

Numa destas fundações, trabalha um Senhor, que brinca com os números, num comentário na televisão, no sentido de influenciar a descida do IRC, sugeriu que a perda de receita com a descida do IRC fosse colmatada com o aumento do IVA

O patrão dele precisa da redução do IRC, para acumular mais milhões, quem dorme no banco do jardim pode pagar mais IVA!

Não há democracia sem partidos e alternância do poder. Mas, infelizmente, os partidos tornaram-se em agremiações fechadas, violentas, autoritárias, pouco ou nada recomendáveis, como o provam quando dizem: “quem se meter connosco leva, habituem-se”

Meio século depois, o que temos para comemorar, em todas as datas, que marcaram a construção da democracia: metade dos portugueses continuam a viver na miséria, cada vez mais desigualdades, os pobres mais pobres, os ricos mais ricos, apesar de todos os governantes, incluindo presidentes, no ato de posse dizerem: “ vamos governar tendo em atenção os mais desfavorecidos”

Hospitais fechados, como se fosse a coisa mais natural deste mundo, já nos habituámos!

Nascem mais bebés nas ambulâncias, do que nas maternidades, que estão quase sempre fechadas

Alunos sem professores, a algumas disciplinas, todo o ano, sem que ninguém se indigne, ponha em causa o sistema de ensino!

Meter grávidas em ambulâncias, percorrer o país de Sul a Norte, de lés-a-lés, durante o dia, à procura de uma unidade de saúde, que tenha a hombridade de as ajudar, mas ninguém se condoe

Cada vez mais sem abrigo, a viverem no frio da rua, alguns despejados, sem dó nem piedade, mesmo que o presidente tenha prometido, tudo fazer, para minimizar a situação

Milhares de assalariados a trabalharem, por turnos, a receberem o ordenado mínimo, contribuindo para que os grandes grupos económicos tenham muitos lucros, fazendo com que os colaboradores, nova designação de trabalhadores, vivam, cada vez, pior.

Senhores do arco da governação deem a todos (todos) mais atenção, não governem só para a vossa clientela, se não querem mais fragmentação, e enquanto é tempo!

Todos precisamos de: pão, habitação, saúde, educação, justiça, segurança

Reduzam as desigualdades, oiçam as pessoas, não se fechem nas vossas mordomias

Não se entretenham a criar divisões com comemorações, com o azul e o cor-de-rosa, com Olivença, porque isso são pequenas vaidades de quem tem a barriga cheia

Quando a vida se tornar insuportável, para a maioria, qualquer charlatão vos pode tirar os poleiros, espero que a reeleição do Trump, vos tenha ensinado alguma coisa.

José Silva Costa  

  Portugal destaca-se na União Europeia pelo impacto das “borlas fiscais” atribuídas em sede de IRS, que, em vez de reduzir desigualdades, agravam-nas, beneficiando sobretudo as famílias de rendimentos mais elevados. (ZAP)

 

 

 

 

  

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publicado às 07:50

Quingentésimo (330)

por cheia, em 25.11.24

23

Trovas

a üa Dama que lhe jurara
sempre por seus olhos
não crer tão grão juramento.


Quando me quer enganar
a minha bela perjura,
para mais me confirmar
o que quer certificar,
pelos seus olhos mo jura.
Como meu contentamento
todo se rege por eles,
imagina o pensamento
que se faz agravo a eles
sempre por seus olhos
não crer tão grão juramento.
Porém, como em casos tais
ando já visto e corrente,
sem outros certos sinais,
quanto me ela jura mais
tanto mais cuido que mente.
Então, vendo-lhe ofender
uns tais olhos como aqueles,
deixo-me antes tudo crer,
só pela não constranger
a jurar falso por eles.

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publicado às 07:48

Quingentésimo (329)

por cheia, em 24.11.24

Cantiga

a este moto:
Ojos, herido me habéis,
acabad ya de matarme;
mas, muerto, volve á mirarme,
por que me resucitéis.
VOLTAS
Pues me distes tal herida,
con gana de darme muerte,
el morir me es dulce suerte,
pues con morir me dais vida.
Ojos, ¿qué os detenéis?
Acabad ya de matarme;
mas muerto volved á mirarme,
por que me resuscitéis.
La llaga cierto ya es mía,
aunque, ojos, vos no queráis;
mas si la muerte me dais,
el morir me es alegría.
Y así digo que acabéis,
ojos, ya de matarme;
mas muerto, volved á mirarme,
por que me resucitéis.

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publicado às 07:54

Quingentésimo (328)

por cheia, em 23.11.24

Cantiga

ao mesmo moto
a esta cantiga alheia:
Na fonte está Leanor
lavando a talha e chorando,
as amigas perguntando:
vistes lá o meu amor?
VOLTAS
Posto o pensamento nele,
porque a tudo o Amor a obriga,
cantava, mas a cantiga
eram suspiros por ele.
Nisto estava Leanor
o seu desejo enganando,
às amigas perguntando:
vistes lá o meu amor?
O rosto sobre üa mão,
os olhos no chão pregados,
que, do chorar já cansados,
algum descanso lhe dão.
Desta sorte Leanor
suspende de quando em quando
sua dor; e, em si tornando,
mais pesada sente a dor.
Não deita dos olhos água,
que não quer que a dor se abrande
Amor, porque em mágoa grande

seca as lágrimas a mágoa.
Que, despois de seu amor
soube novas, perguntando,
d'emproviso a vi chorando.
Olhai que extremos de dor!

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publicado às 07:50

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